11 de maio de 2009 | 13:04

EXCLUSIVO: Escolha de novo desembargador vira desafio para Wagner

Por Raul Monteiro 

A surpreendente votação obtida na última sexta-feira pelo procurador de Justiça José Cupertino na lista tríplice para a escolha do novo desembargador do Estado na vaga do Ministério Público submeteu o governador Jaques Wagner (PT) a um grande desafio.

Como o procurador recebeu o apoio de 27 dos 29 desembargadores que participaram da sessão, num colégio eleitoral de 30 votos, sendo o mais votado da lista, a eventual desconsideração de seu nome pelo governador pode ser interpretada como uma atitude de pouco caso, por parte de Wagner, com relação ao desejo do Judiciário baiano.

O critério de escolher o mais votado já foi adotado pelo governador na primeira lista a que foi submetido pelos desembargadores, no ano passado, quando nomeou para o pleno do TJ Lourival Trindade, o advogado que teve mais votos na disputa.

O problema de Wagner, entretanto, residiria na boa relação que mantém com o desembargador Carlos Alberto Dultra Cintra, cuja candidata a desembargadora, a procuradora Marta Karaoglan, foi a que menos votos recebeu entre os três – 14, contra 24 da segunda colocada, Nágila Brito.

Para setores do TJ ouvidos hoje pelo Política Livre, o caráter disputado da eleição da lista tríplice trouxe à tona o que eles consideram um processo gradual de mudança na correlação de forças internas do Tribunal, onde a votação demonstraria que Cintra estaria perdendo poder.

Para as mesmas fontes, com a votação de Karaoglan, o desembargador teria demonstrado seu teto máximo de influência – seriam hoje, ao todo, 16 dos 30 votos, já que dois colegas do pleno não teriam podido participar da eleição de sexta-feira -, num quadro em que deixou de controlar  plenamente o TJ como fez em passado recente.

A situação interna de Cintra no Judiciário seria ainda mais delicada porque a votação teria revelado uma espécie de traição, na medida em que comentários apontam que ele pedira ao chamado grupo dos 13, que catapultou José Cupertino, também votos para a sua candidata, de forma a afunilar a escolha entre os dois, o que não foi cumprido.

“Cupertino teve os votos dos 14 desembargadores que apoiaram Marta e mais 13 desse grupo novo que havia prometido votar nela, mas não o fez e começa a se posicionar internamente no Tribunal, numa atitude de independência com relação a Cintra”, disse uma fonte do mesmo grupo ao site.

Para ele, além do desafio de tomar uma atitude que possa ser vista como de confronto ao TJ, o governador corre o risco de, ao desconsiderar o mais votado da lista, “passar a impressão” de que não aplica na prática o discurso de que não interfere na relação entre os Poderes por princípio republicano.

O tema teria voltado à tona no recente evento de posse do deputado federal Nelson Pelegrino (PT), também um advogado com largo trânsito em setores do Judiciário baiano que assumiu a secretaria estadual de Justiça, no qual Wagner ressaltou o patrimônio imaterial que tem construído na Bahia, em que inclui uma nova relação de independência do Legislativo e do Judiciário com o Executivo.

Quanto ao risco de o governador desconsiderar a oportunidade de construir uma boa relação com a quase totalidade dos desembargadores sem a mediação habital de Cintra, um desembargador pontua: “São vários (os riscos), mas passam sobretudo pela má vontade com relação a ações judiciais que eventualmente existam contra o governo”.

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