Pinheiro e Gabrielli cortaram baralho errado na disputa interna com Rui 02 de dezembro de 2013 | 08:16

O erro que cometeram Sérgio Gabrielli e Pinheiro

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É de um simplismo pueril a alegação segundo a qual Rui Costa, chefe da Casa Civil do governo Jaques Wagner, ganhou a candidatura à sucessão estadual no PT exclusivamente por causa da preferência manifesta do governador. De fato, Wagner foi decisivo no processo que resultou na escolha do nome de Rui pelo diretório estadual petista em detrimento dos concorrentes José Sérgio Gabrielli, seu secretário estadual de Infraestrutura, do senador Walter Pinheiro e do ex-prefeito de Camaçari, Luiz Caetano. Um dia antes da decisão, Wagner foi a público dizer que achava Rui o melhor candidato.

Para isso, sem parecer grosseiro, o governador elencou qualidades de Rui que não vê nos demais. No fundo, Wagner queria um candidato no PT que fosse 100% ele. Por isso, pode-se entender alguém que possuísse, além de afinidade, tempo de convivência – mais de três décadas – e identidade profunda com o governador, a ponto de defender com unhas e dentes, mas também com dados, o legado de sua administração, situação que será ainda mais fácil para Rui pelo fato de ter sido colocado numa posição pelo próprio Wagner que lhe confere conhecimento absoluto sobre tudo o que ocorre no governo e, desta perspectiva, na Bahia.

Aos olhos do governador, a movimentação dos pré-candidatos petistas antes da escolha só fez aumentar as credenciais de Rui. Nenhum deles teria se aproximado da abordagem adotada pelo seu preferido, na medida do que desejava. A conclusão do processo pelo diretório confirmou a avaliação de Wagner com relação ao perfil do nome que gostaria de ver representando o PT. Um exemplo? O esperneio de Walter Pinheiro, que deixou a reunião que ratificou o nome de Rui contrariado e, prolongando desnecessariamente a zanga, ainda faltou ao evento de posse da nova direção do PT, no dia seguinte, em que a candidatura petista foi aclamada.

Se Pinheiro foi capaz de se comportar assim diante de tamanha evidência em relação ao favoritismo de Rui, imagine como agiria na hipótese de ser escolhido candidato e – pior – caso conseguisse se eleger ao governo. Sem chance, é lícito supor ter sido a leitura de Wagner. Muito embora enfrentar a preferência do governador fosse uma tarefa hercúlea, os concorrentes petistas de Rui incorreram num erro grave que lhes custou, pelo menos, competividade e também crédito, além da possibilidade de saírem maiores do que entraram no processo. Foram os casos principalmente de Gabrielli e Pinheiro, já que Caetano dava mostras há muito tempo de que abdicaria da pré-candidatura para disputar uma vaga de deputado federal.

Tanto o secretário de Planejamento quanto o senador menosprezaram o trabalho de fortalecimento interno executado por Rui no PT. A bem da verdade, nenhum dos quatro pré-candidatos chegou a encantar verdadeiramente o partido. Mas Rui foi o único que trabalhou duro para se consolidar como opção na agremiação, usando, naturalmente, a força e a influência que possui no governo, e traçando planos que, concretizados, lhe garantiram maior expressão interna, além de maioria no diretório, a exemplo da substituição de Jonas Paulo por Everaldo Anunciação na presidência estadual do PT.

Dessa forma, se beneficiou, evidentemente, da preferência do governador, mas não deixou em suas mãos o processo de escolha. Não foi o que ocorreu com Gabrielli e Pinheiro. O primeiro tentou se viabilizar por meio da alegada amizade com o ex-presidente Lula. E Pinheiro, de uma suposta melhor relação com partidos da base, a exemplo do PP, que fez questão de prestigiar a plenária de seu mandato que serviu de plataforma para a oficialização de sua pré-candidatura. Na lógica do PT baiano, Lula e “partidos da base” eram elementos tão exógenos quanto Wagner. O que fez diferença a para Rui foi a percepção da diferença entre todas estas forças e o partido.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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