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Ex-prefeito de Salvador, João Henrique 07 de maio de 2015 | 07:24

A hora da volta da Cabocla, por Raul Monteiro

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Viralizou rapidamente no noticiário baiano a informação de que a articulação política do governador Rui Costa (PT) trabalha com a hipótese de, neste momento, dar gás a pelo menos três candidaturas à Prefeitura de Salvador em 2016. Seriam as dos deputados federais Antonio Brito (PTB) e Alice Portugal (PCdoB) e a do ex-prefeito João Henrique, que está sem partido. Desde já, entretanto, os articuladores do governo anunciam: Eles integram uma lista privilegiada que pode ser revista a qualquer momento, o que significa que tanto podem ascender no conceito do governo quanto decair.

Na prática, o anúncio, vazado, é apenas um sinal, em alguns casos mais explícito que outros, de que os três podem a partir de agora começar a entrar em campo com suas próprias armas para ver como se safam. A depender do próprio desempenho, podem se consolidar como nomes à sucessão do prefeito ACM Neto (DEM) no campo do governo estadual ou serem naturalmente substituídos por outros que apresentem mais garra ou maior viabilidade eleitoral. O surgimento dos três nomes, agora, quando as atenções se voltam para outros assuntos tanto em Salvador quanto na Bahia como no plano federal, sugere algumas avaliações.

A primeira delas é a de que, no fundo, o governo sabe que será difícil contar com o protagonismo do PT nas eleições municipais, o qual tenta há anos, sem sucesso, assumir o controle da capital baiana. O segundo é o convencimento, no campo governista, de que a disputa pode ser decidida em dois turnos, o que a existência de várias candidaturas ajudadas pelo governo pode ajudar na vitória contra o prefeito, hoje franco favorito à própria sucessão. A terceira é a inclusão, no primeiro time, do nome de um ex-prefeito que deixou há apenas três anos o cargo pessimamente avaliado.

Diferentemente de Brito e Alice, cujas imagens não têm máculas na política baiana e podem facilmente inflar se devidamente trabalhadas, João Henrique seria hoje o que se pode chamar de anticandidato, aquele que entra na disputa para figurar apenas com alguns objetivos, que podem ser claros como água límpida ou obscuros como os subterrâneos da Praça da Sé, onde por acaso fica o gabinete do prefeito. O ex-prefeito pode se convencer, por exemplo, de que concorrer agora pode servir para limpar seu nome, o qual não teve quem defendesse na campanha municipal passada, onde, diga-se de passagem, só fez apanhar.

Não seria o primeiro na história política da Bahia a fazer o mesmo. Funcionaria, neste caso, resgatando o próprio legado, que, em conversas com correligionários, diz ter a convicção de ser seguramente mais amplo e sólido do que o do atual prefeito, com quem rompeu logo depois das eleições. Aliás, bom de palanque e de televisão, João Henrique poderia, nas mãos do governo, atuar no sentido de desconstruir ACM Neto, tudo o que os governistas desejam fazer sem sujar as mãos ou criar qualquer inconveniente político com o gestor neste momento.

Isso mesmo. JH poderia lançar-se candidato para recuperar a própria imagem e atacar a do atual prefeito. E motivação interna não lhe falta. Ele se considera o responsável pela eleição do democrata, que protagonizava uma disputa acirradíssima com o candidato do PT, Nelson Pelegrino, até a entrada em cena do seu governo na campanha. Avalia também que, não obstante o empenho em favor de Neto, o prefeito não teve com ele a mínima consideração depois de eleito. É o que ele acha, com o que não concorda, naturalmente, Neto. Mas vai que em sua cabeça ele conclui que chegou a hora da volta da Cabocla!

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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