Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Ex-presidente Lula (PT) 04 de maio de 2015 | 08:00

Contra o sigilo do BNDES, por Raul Monteiro

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O ex-presidente Lula não precisava dizer que é mais honesto que os jornalistas das revistas Veja e Época juntos nem ameaçar as elites com a manifestação do seu desejo de retorno à Presidência da República em 2018 para se defender das suspeitas de que exerce tráfico internacional de influência que lhe lançam os procuradores do Ministério Público Federal. No estágio de desconfiança pública em que se encontram o PT e seus principais líderes, entre os quais pontua na posição de maior importância, o ex-presidente conseguiu revelar apenas que está acuado. Afinal, a notícia sobre as suspeitas do MPF contra Lula, divulgada por Época, surge uma semana depois de outra, de Veja, revelando que ele e o filho ocupam imóveis de propriedade do sócio do segundo.

Isso mesmo: Lulinha, na capital de São Paulo, e o pai, na cidade paulista de Atibaia, desfrutam, respectivamente, de um apartamento e de um sítio de 150 mil metros quadros, de altíssimo padrão, cujo dono é o sócio do filho do ex-presidente. Pior: A revista chegou às informações por meio de recados mandados da prisão pelo presidente da OAS, Léo Pinheiro, um dos investigados da Operação Lava Jato, coincidentemente solto na leva de nove executivos libertados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada. Em mensagens obtidas pela publicação, Pinheiro revela que, a pedido de Lula, a empreiteira promoveu uma reforma transformadora no sítio, que ganhou até um lago para pescarias, um dos hobbies preferidos de novo rico do ex-presidente.

Alguém acredita aí que o sócio de Lulinha é mesmo este poço de generosidade, retribuída por Lula por meio de solicitações de reforma à OAS numa de suas propriedades? Só se também acreditar em Papai Noel, leitor! Obviamente que não será por meio de bravatas nem da ameaça de confronto que Lula vai superar o fato de começar a ser arrastado para o meio dos escândalos que já há meses contaminam seu partido e o governo Dilma Rousseff. Se quiser provar que não faz lobby internacional, aproveitando-se do prestígio de que goza num governo que construiu, Lula pode começar defendendo, por exemplo, que os empréstimos feitos pelo BNDES para governos ditatoriais destinados a obras executadas por construtoras brasileiras se tornem a partir de agora transparentes.

Realmente, por que motivo um banco de desenvolvimento custeado pelo mirrado dinheiro do trabalhador brasileiro não pode justificar publicamente a realização de operações de créditos a juros subsidiados para republiquetas ou pequenas ditaduras abertas, carentes de órgãos de controle, impedindo que se possa fiscalizá-lo e se tenha acesso a seus números e resultados? Medo da concorrência? Ora, façam-nos uma garapa! É exatamente a exigência de segredo, além do padrão que os empréstimos obedecem, sempre requisitados por países estrangeiros cujos tiranetes mandam e desmandam, para a construção de obras executadas por empreiteiras brasileiras com as quais Lula tem conhecido relacionamento excepcional, que está turbinando as suspeitas contra o ex-presidente.

Será possível que Lula esteja intermediando a concessão de recursos a governos “amigos” por parte do BNDES, onde continua plantado desde o seu governo um homem de sua absoluta confiança, Luciano Coutinho, em troca de comissões polpudas que lhe seriam pagas pelas empreiteiras brasileiras escolhidas para executar as obras? Ou trata-se de uma suposição tresloucada de procuradores do Ministério Público Federal? Afinal, o que está por trás destas transações que começam a chamar a atenção das autoridades brasileiras? Definitivamente, só a transparência, isto é, a suspensão do sigilo que o banco público brasileiro de desenvolvimento passou a colocar em suas operações para esclarecer as especulações. Por isso, Lula deveria ser o primeiro a defendê-la, ao invés de atacar jornalistas, procuradores e quem mais esteja duvidando de sua honestidade.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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