Foto: Arquivo/EBC
29 de junho de 2015 | 07:17

Pixulecos na era da mulher sapiens, por Raul Monteiro

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A presidente Dilma Rousseff (PT) diz que enfrenta “preconceito sexual” em relação a seu jeito de governar. Fosse menos sexista – e certamente não tentaria, grotescamente, inventar o termo mulher sapiens como se pudesse forjar um gênero feminino para a expressão Homo Sapiens, que identifica a espécie na qual todos os humanos, inclusive ela, até prova em contrário, estão incluídos -, Dilma poderia admitir que o problema é outro, isto é, que ela deixou de governar há muito tempo e este é o seu ponto G, o que dá ao presidencialismo brasileiro uma configuração cada vez mais tenebrosa.
De uma coisa ninguém deve duvidar.

Dilma, que já pode ir se considerando a primeira e única Mulher Sapiens, lá ela, da história da humanidade, tem alguma sorte. Afinal, conseguiu chegar à Presidência da República, embora agora que o caldo entornou já não saiba mais o que fazer com ela, e acaba de embarcar para os Estados Unidos para um encontro com o presidente Barack Obama, no exato momento em que o país afunda ainda mais numa face das muitas crises gestadas em seu governo, aquela relacionada às descobertas da Operação Lava Jato, que obrigou três dos seus 39 ministros a irem no sábado à televisão se explicar.

A hecatombe em solo nacional, enquanto Dilma andava pelos ares, onde parece vir pairando desde que comecou a ser confrontada com os resultados da própria incompetência, está relacionada às revelações do processo de delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, que, segundo o revista Veja, disse ter repassado R$ 7,5 milhões desviados da Petrobras para a campanha de 2014 da presidente e outros tantos milhões também para o comitê que coordenou a reeleição do ex-presidente Lula, além de políticos do PT, PP e PSDB e de ministros da atual gestão petista. O primeiro tomo das denúncias de Pessoa é simplesmente demolidor.

Não deixou pedra sobre pedra no Palácio do Planalto. Não só pelo que relatou aos investigadores que apuram o maior escândalo de corrupção da história do país, como pelas provas que acrescentou ao que contou, a exemplo dos vídeos feitos em sua sala num elegante escritório de São Paulo, onde o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que está preso e acaba de ser homenageado pelo partido, recolhia os “pixulecos”, estranho termo que criou para se referir à propina que embolsava do caixa da Petrobras via UTC. Em essência, o depoimento de Pessoa é de um empresário acuado, que se submetia disciplinadamente à extorsão petista para não perder contratos com a estatal.

Baiano, o empresário se relaciona há anos com políticos conterrâneos e de outros Estados do Brasil, alguns deles de oposição, com as campanhas dos quais sempre colaborou sob o conhecimento da Justiça Eleitoral. Não é eles que o empresário delata ao juiz Sérgio Moro, que coordena as investigações, mas os petistas que exigiam colaboração constante e cada vez maior por meio de caixa dois. Pessoa revelou que a cada novo contrato que fechava com a Petrobras era obrigado a receber Vaccari em sua sala cobrando mais dinheiro sob a lógica de que, se ele estava ganhando mais, era preciso aumentar o dízimo ao partido e a seus membros.

Em 2014, ano da campanha presidencial, familiares de Pessoa diziam a amigos na Bahia que o empresário vivia sob uma pressão inexplicável, cuja origem eles não conheciam direito dado o fato de o dono da UTC ser uma figura de poucas palavras com relação aos próprios negócios, com referência aos quais eles também não conseguiam identificar problemas, muito pelo contrário. A delação homologada pelo STF ajuda a lançar luz sobre o cenário em que Pessoa vivia para ganhar novos contratos, rodar sua empresa e arrumar dinheiro a qualquer custo para satisfazer o apetite insaciável desse grande time.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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