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09 de julho de 2015 | 08:25

Elementar, meu caro!, por Raul Monteiro

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Quando desaconselharam o prefeito ACM Neto (DEM) a não gastar seu capital político ajudando o governo Dilma Rousseff (PT) a aprovar, no Congresso, um ajuste fiscal que ninguém sabia como seria conduzido, exatamente como está acontecendo, ele deu de ombros. A despeito das advertências, marchou para Brasília e acordou com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), articulador político do governo, os votos da bancada baiana do Democratas à iniciativa tardiamente abraçada pela presidente. Num jantar entre os dois, a “aliança” foi celebrada com acompanhamento dos deputados federais do DEM da Bahia.

Com efeito, à custa de algum desgaste político devido ao apoio a um governo a que deveria se opor por princípio, Neto selou uma colaboração que deu a ele, pelo menos junto a Temer, relativo prestígio e uma interlocução direta para definir, sob um horizonte mais amplo, seu futuro partidário, que pode ser junto ao peemedebista. Devido a um erro de cálculo político, muito menos sorte teve o deputado federal José Carlos Aleluia, que se expôs demasiadamente no episódio e acabou perdendo toda a fleuma com que exercia sua aguerrida oposição ao governo Dilma até aquele momento, além de ter se visto obrigado a justificar-se longamente para o seu eleitorado.

Na época, Neto e seu grupo – Aleluia incluso – alegaram que negociaram os votos a Dilma em troca de uma contrapartida no valor de R$ 400 milhões do governo federal para investir em obras de proteção contra as chuvas, que acabavam de devastar a cidade como não se via há duas décadas, além da renovação da garantia da liberação de recursos para melhorar o sistema de mobilidade urbana na cidade, representado, neste caso, pelo BRT. Passados quase três meses do acordo, período em que o desgaste de Dilma e dos que a apóiam só fez aumentar, não há nem sinal do dinheiro pedido pelo prefeito à presidente para a cidade.

Reagindo a recente protesto de Neto contra a demora na liberação das verbas para enfrentar o flagelo das chuvas e tocar as obras do BRT, um dos ministérios responsáveis pelas tratativas respondeu de forma quase sarcástica, informando que já havia atendido a Prefeitura. Para isso, divulgou, inclusive, o número da ordem de pagamento. Tratavam-se de pouco mais de R$ 1 milhão dos quase meio bilhão que a cidade pedira. Agora, depois de tomar conhecimento de que Neto, provavelmente irritado com o descaso com que vem sendo tratado, criticou as gestões petistas, o ministro da Defesa, Jaques Wagner (PT), mandou bala contra o prefeito.

Wagner tachou Neto de “falso” em resposta ao fato de o prefeito ter dito, durante a inauguração do Mercado de Periperi, uma intervenção da Prefeitura, que conseguia realizar obras em Salvador porque, em seu governo, o dinheiro não escorria por ralos como o do mensalão e do petrolão. Houve quem visse no posicionamento de Wagner, que teve ainda a propriedade de animar uma militância um pouco descontente com o estilo que considera mais diplomático do governador Rui Costa (PT) em relação ao prefeito, um sinal de que ele pode vir a se interessar em disputar a Prefeitura de Salvador em 2016. Mera especulação.

Fato é, entretanto, que o ex-governador, conhecido pela habilidade com as palavras e a vivacidade política, pegou o prefeito no contrapé. Afinal, se Neto se acha no direito de afirmar que um dos motivos porque Dilma não tem dinheiro para mandar à Prefeitura de Salvador é porque parte dele tem sido detonada com a corrupção, no que os resultados da Operação Lava Jato lhe dão boa argumentação, não deveria nem ter pensado em colaborar com qualquer medida de uma administração na qual acredita que o dinheiro público é desviado. Elementar, meu caro!, é o que disse Wagner.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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