Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil
Juiz Sérgio Moro 06 de julho de 2015 | 07:43

Preocupações rondam a Lava Jato, por Raul Monteiro

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O Brasil está encantado com o juiz Sérgio Moro, capitão de um time formado por promotores, procuradores da República e policiais federais que tem, pela primeira vez na história deste país, colocado poderosos na cadeia e ameaça encarcerar ou apear do poder toda a cúpula nacional do PT, um partido que está virando, de forma lamentável, praticamente sinônimo de crime contra o erário. As aparições públicas de Moro são verdadeiros happenings. Populares o cumprimentam, o festejam e o seguem com efusão cada vez maior. Alguns jogam-se à sua frente com flores.

Outros correm para agradecer-lhe como se falassem representando todos os brasileiros. Muitos entoam seu nome como se vissem no magistrado uma entidade ou um guia capaz de tirar o país da lama em que chafurda há séculos, mas foi, surpreendentemente, ampliada nas duas últimas décadas sob um cinismo impressionante. Moro foi a maior estrela do Congresso anual da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, que aconteceu até este final de semana em São Paulo. Sentado numa poltrona, deu uma entrevista a Roberto D’Ávila numa salão apinhado de centenas de jornalistas e estudantes de comunicação.

Ao contrário de petistas que tempos atrás eram reverenciados por multidões e hoje são atacados em aviões, restaurantes e até nos Estados Unidos, o juiz é, no momento, uma das maiores celebridades do país, senhor de uma popularidade inconteste, lastreada no fato de estar conduzindo uma força-tarefa que, na visão da população, pode efetivamente desbaratar uma quadrilha que se apossou do Estado brasileiro sob o argumento mentiroso de que cuida do seu povo, deixando como legado uma aguardada revolução nos costumes políticos nacionais.

Por causa do ineditismo, da importância e mesmo dos resultados do trabalho do magistrado, com as revelações que começam a descortinar o esquema que depredava a Petrobras, questionamentos a eventuais abusos da Operação Lava Jato estão, no entanto, sendo automaticamente desprezados ou simplesmente esquecidos pela sociedade. Vão, assim, se transformando aparentemente em protestos localizados dos advogados que representam os investigados. Mas as manifestações merecem tanta atenção quanto o regozijo e o espanto que prisões de poderosos têm tido o condão de causar.

O jornalista Reinaldo Azevedo, de Veja, conhecido pelo anti-petismo, fez, por exemplo, um artigo indignado esta semana contra o fato de diretores da Odebrecht e da Andrade Gutierrez terem sido presos e ficado por mais de duas semanas sem prestar depoimento enquanto a imprensa era inundada de vazamentos sobre a Lava Jato. “É justiça erga omnes” ou “cadeia erga omnes”? A primeira expressão é própria das democracias e só delas; a segunda também serve a ditaduras, formais e informais, escreveu, dando voz a preocupações que se robustecem em relação à condução da Operação.

Assim como ele, recentemente a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) condenou a apreensão de documentos no departamento jurídico da empreiteira Odebrecht, no mês passado, insurgindo-se contra o desrespeito à lei que assegura a inviolabilidade do local de trabalho e da documentação dos advogados, exceto se houver indícios de prática de crime por eles. Seriam evidências de que a Lava Jato tem adotado, quando convém, o princípio de que os fins justificam os meios, o que, decididamente, não contribui para a efetividade de uma Operação que tem tudo para promover uma mudança de paradigma no país.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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