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Ministro da Defesa, Jaques Wagner, pode ir para a Casa Civil, no lugar de Aloízio Mercadante 27 de agosto de 2015 | 07:18

Expectativa que pode virar quimera, por Raul Monteiro

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Talvez em decorrência do desespero que cerca o governo e o PT com o flagrante desmoronamento da imagem de ambos como guias para tirar o país da crise em que ambos o jogaram, deposita-se excessiva esperança na eventual ida do ministro da Defesa, Jaques Wagner, para a Casa Civil, onde supostamente passaria a operar a articulação política em bases tecnicamente muito superiores ao atual titular, Aloízio Mercadante. O assunto volta à baila por causa da anunciada ideia do governo de acabar com no mínimo 11 ministérios e mil cargos comissionados como forma de cortar gastos e ajudar no resgate de sua credibilidade, que parece definitivamente perdida.

Sem dúvida, não há como comparar, em termos políticos, Mercadante com Wagner. O primeiro é um fiasco no cargo que exerce por livre escolha da presidente da República, ela própria um fiasco pior que ele, só que em posição superior à sua, ao passo que o segundo foi alçado à reconhecida condição de respeitável raposa política desde o cumprimento de seus dois mandatos como governador da Bahia, mas hoje vê suas maiores e principais habilidades visivelmente subaproveitadas, por ter sido aboletado por uma presidente sem sensibilidade ou competência política num ministério em que não pode contribuir minimamente com ela no enfrentamento da crise.

Curioso que seja exatamente a redução do número de pastas, na maioria dos quais estão empastelados ministros nos quais a sociedade não reconhece a menor importância, e contra a qual Wagner se insurgiu por ordem de Dilma, há dois anos, quando o governo fazia crer, apesar de todas as evidências em contrário, que as contas públicas estavam controladas, é que pode acabar empurrando-o para o lugar em que Mercadante nunca deveria ter estado. Num rápido lembrete ao leitor, foi de Wagner, logo após os protestos de 2013, as seguintes palavras: “Não é reduzindo ministério que se dá eficiência à máquina pública”. Pois não, senhor ministro!

Mas o tempo é o senhor da razão e, como até Dilma, uma economista de formação, ou péssima formação, como queiram, embora enviesadamente, já admite que errou, não há de ser o eventual futuro ministro da Casa Civil que vai buscar justificar-se pelo que disse. Ocorre que se Wagner vai realmente para mais perto da presidente, ajudando-a a montar uma articulação política sem a qual atuou, tropegamente, até agora, tudo indica que, como diz o ditado, já vai tarde, porque nada assegura que consiga dar um mínimo de racionalidade à catastrófica condução do governo, onde agora passam a predominar também internamente os choques entre as suas áreas política e econômica.

Aliás, a ida do ex-governador da Bahia para a articulação política pode não passar de uma quimera, como quimera pode se constituir também a própria redução dos ministérios e dos cargos comissionados, já que sobre a proposta não há até agora, a esta altura do campeonato, números nem dados sobre a expectativa de economia que o governo pretende fazer. E como quimera foram todas as proposições assumidas por esta presidente quando confrontada mais duramente pela realidade, haja vista a ideia de uma Constituinte depois dos protestos de junho de 2013, que, por risível, acabou esquecida. Portanto, só esperando, e não se sabe, infelizmente, até quando, para crer.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

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