Foto: Reprodução
Ex-presidente Lula (PT) 08 de outubro de 2015 | 07:13

Um ex-presidente “sentimental”, por Raul Monteiro

exclusivas

Não é possível. Deve ser brincadeira! O mesmo Estadão que revelou o caso da Medida Provisória que teria sido supostamente comprada no governo Lula publicou reportagem dando conta da enorme preocupação do ex-presidente com a iminência da investigação de dois empresários acusados de participação na operação. Mauro e Cristina Marcondes, donos da consultoria Marcondes, estavam ontem na boca de serem convocados – e não convidados – a comparecer na CPI do Carf para dar explicações sobre a suspeita de que uma MP que favoreceu o setor automotivo foi literalmente “comprada” por cerca de R$ 40 milhões durante a gestão do petista.

Consta, segundo a matéria do Estadão, que em conversas com parlamentares na semana que passou, assim que o caso da MP supostamente comprada foi trazido a público, o ex-presidente da República pediu para que o Congresso preservasse o casal de uma eventual investigação. Mas qual o argumento mesmo empregado pelo petista para protegê-lo? Lula teria alegado que, na hipótese de os dois serem obrigados a comparecer à CPI, a família de Mauro e Cristina Marcondes seria profundamente abalada. Isso mesmo: Lula, que já posou de maior defensor dos fracos e oprimidos da história deste país, estaria morrendo de medo do impacto da investigação na vida do casal.

Como os requerimentos apresentados na CPI são de convocação e não de convite, Mauro e Cristina estarão obrigados a comparecer, caso os pedidos sejam aprovados na sessão da CPI prevista para hoje. Isto é, se a comovente história de risco para a família do casal apresentada pelo ex-presidente não tiver sido suficiente para convencer os membros do colegiado a abortar a convocação de ambos pela Comissão Parlamentar de Inquérito. Sem dúvida, Mauro e Cristina não devem ter pensado nem um pouco no risco em que colocavam seu núcleo familiar quando se envolveram no grande negócio denunciado pela reportagem do Estadão.

Parece que, muito pelo contrário, resolveram delegar esta delicada e sentimental tarefa ao ex-presidente, que pensa em se recandidatar à Presidência da República em 2018 e colocou os dois empresários no rol de suas preocupações imediatas. Não seria melhor que, ao invés de ficar pensando em salvar o mandato da pupila Dilma Rousseff para melhor pavimentar seu retorno ao Palácio do Planalto, Lula fundasse uma instituição de amparo e proteção a casais que gostam de viver perigosamente e não abrem mão de ganhar uma boa grana, sem se importar com a legalidade e, muito menos, com a moralidade de sua atuação profissional conjunta?

Mas bobos – e completamente displicentes com a opinião pública – serão os excelentíssimos membros da CPI se deixarem se convencer pela lábia do ex-presidente, pela qual, infelizmente, muita gente boa continua se deixando levar, e perderem uma excelente oportunidade de começar a passar a limpo mais esta história escabrosa que, junto a tantas outras, contribui para conspurcar a antes imaculada biografia do ex-presidente.Aliás, depois desta denúncia do Estadão, todas as MPs editadas nos governos Lula deveriam ser submetidas a criteriosa investigação. Não importa quantos casais que cruzaram o destino do ex-presidente possam se separar.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
Comentários