Foto: Dida Sampaio/Agência Estado/Arquivo
Glen Greenwald, o dono do Intercept Brasil 26 de julho de 2019 | 09:47

“Intercept Brasil” coloca imprensa brasileira séria na maior enrascada

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A preocupação com que os veículos de comunicação brasileiros que se associaram ao Intercept Brasil para divulgar informações contra a Lava Jato e seus protagonistas têm buscado esclarecer sua postura no episódio mostra o desconforto em que mergulharam.

Devem estar, no mínimo, se sentindo usados pelo até então obscuro site do jornalista norte-americano Glen Greenwald, acusado desde o princípio de ser um meio de comunicação partidário, colocado a serviço do projeto político do deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), seu marido.

Afinal, as primeiras apurações indicam claramente que todas informações foram obtidas criminosamente por uma turma com histórico de pouco respeito às leis na qual pontua, inclusive, famoso estelionatário, com propósitos até agora não esclarecidos nos quais se antevê, claramente, que o interesse público não está inscrito.

É por isso que é falaciosa a justificativa da respeitável Folha de S. Paulo de que não incentiva a coleta de dados por meios ilícitos, mas, mesmo sabendo que foram obtidos criminosamente, pode, eventualmente, publicá-los, se forem comprovadamente de interesse público.

No que a distinta sociedade foi atendida ao tomar conhecimento de que o ex-juiz Sérgio Moro conseguiu enfrentar uma organização criminosa muitas vezes combinando o jogo com os procuradores da força-tarefa de Curitiba, algo de que todo o país já sabia?

O pior de tudo até agora foi ver Glen Greenwald e Leandro Demori, os diligentes diretores do Intercept Brasil, primeiro negando que os hackers tivessem sido sua fonte de informação, mas depois admitindo que as receberam deles no momento em os criminosos e suas práticas são descobertos.

No momento, o esforço de ambas as partes – os jornalistas de um lado e os hackers de outro – é garantir que tudo foi feito na base do amor e da amizade e não da pura grana, hipótese mais provável para a troca da mercadoria espúria como a que ofertaram, sem contar do amplo raio em que atuaram, bisbilhotando até a vida do presidente da República.

O assim, se é que se pode chamar, novo jornalismo brasileiro, influenciado por um site com grife de gringo, que acha que os fins justificam os meios, que pode repassar e glorificar informações dadas por quem comete crime, sofre, neste episódio, um grande revés, o que não deixa de ser importante.

Crime também é comparar momentos gloriosos do jornalismo investigativo, representados por coberturas como a do Watergate, que derrubou um presidente da República norte-americano, ou o Pentagon Papers, de impacto igualmente chocante, com esse espetáculo deplorável a que se assistiu lentamente.

Em todos eles, as fontes eram figuras que tiveram acesso a informações por estarem no palco dos acontecimentos e, por algum motivo, discordaram do que assistiam. Vazando o que sabiam, mudaram a história de seu país e do jornalismo. Mas, seguramente, não o fizeram descumprindo a lei ou roubando com o propósito de ganhar dinheiro.

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