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Segundo Gabrielli, o PT não pode se omitir sobre esta realidade política 03 de agosto de 2019 | 14:36

2020: Enquanto Rui diz que só vai se pronunciar ano que vem, Gabrielli defende que o PT tenha candidatura negra

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Se por um lado o governador Rui Costa (PT), apesar de seu partido, o PT, já ter batido o martelo em prol de candidatura própria para a disputa pela prefeitura de Salvador em 2020, pregar o discurso de que ainda é cedo para se tomar decisões, o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli resolveu não apenas ‘provocar o debate’, como defender que o seu partido tenha uma candidatura negra. Ele ressaltou, inclusive, que já existem candidaturas do movimento negro no campo progressista, a exemplo da de Vovô do Ilê, pelo PDT, noticiada em primeira mão por este Política Livre e, admitiu que o PT não pode se omitir sobre esta realidade política.

Com este intuito, o professor titular licenciado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ex-secretário estadual de Planejamento na gestão de Jaques Wagner, encaminhou carta aberta para os candidatos a presidente do PT de Salvador. Apesar de fazer questão de enfatizar que não é militante negro, Gabrielli chamou atenção no texto sobre a presença da população de origem africana em Salvador e ‘os efeitos da escravidão que impõem gigantesca discriminação contra estes’, o que segundo ele, exige uma reflexão específica, que reflita a força dos movimentos de resistência, afirmação política cultural e desejo de protagonismo político destas populações na vida político-institucional da cidade.

“O real é que existem já candidaturas do movimento negro no campo progressista e o PT não pode se omitir sobre esta realidade política de hoje. Estas candidaturas são a afirmativa da força deste movimento, da importância desta temática e da sua mudança de postura em relação à disputa institucional: elas querem cara própria no processo eleitoral. O PT não pode desconhecer esta realidade. Acho que precisa definir concretamente política de relacionamento com estas candidaturas, aprofundar os temas relacionados à comunidade negra e seus rebatimentos na Prefeitura (e suas limitações neste âmbito) e estruturar sua tática, incluindo a eleição de vereadoras negras”, avaliou.

Gabrielli, que no documento se intitulou como um simples filiado ao PT, sem nenhum cargo no governo ou na direção partidária, ao rememorar o contexto histórico, enfatizou ainda que existem temas mais diretamente relacionados com a Prefeitura de Salvador. “Acho que temos que sair das afirmações genéricas de apoio ao movimento negro, de oposição radical ao racismo e de combate a violência contra a juventude negra e caminhar para a definição de um programa concreto e municipal para enfrentamento de alguns problemas e a criação de objetivos que mobilizem e conquistem as almas, corações e mentes da população”, concluiu, elencando 10 questões que “exigem respostas de todos e principalmente das lideranças petistas do movimento negro”.

Dentre elas, como uma prefeitura concretamente vai ter programas para a população negra que vive por conta própria, recebe os menores salários e enfrenta discriminação na entrada do mercado de trabalho e como abordará a inclusão do jovem negro no emprego, programas de formação específicos, mecanismos de informação de oportunidades e organização coletiva.

“Tenho consciência de que o programa de um futuro prefeito de Salvador não vai apenas tratar da questão negra, mas não podemos deixar de considerar a importância do tema, incluindo a real possibilidade de uma participação direta de um líder desta comunidade como candidato mais capaz de conduzir esta discussão, ganhar os eleitores da cidade e virar o próximo prefeito da capital. O PT precisa estar aberto a todas estas possibilidades”, concluiu.

Com seu nome à disposição para representar o PT nas urnas, o vereador de Salvador, Luiz Carlos Suíca (PT), já havia feito a mesma defesa. “Defendo uma candidatura negra. Mas o partido parece se debruçar sempre em torno de um branco e rico. Guilherme Bellintani, por exemplo, é novo porque tem dinheiro e é branco? Enquanto isso, o nosso povo está morrendo, o PT está sendo atacado e precisa reagir imediatamente”, criticou recentemente em artigo enviado a imprensa. Além de Súica, o partido conta com o também vereador Moisés Rocha e o deputado federal que encaixam a lista de pré-candidatos negros.

Rui Costa, por sua vez, assegura que só iniciará o diálogo em torno do assunto no início do ano que vem e, enquanto isso, não irá interferir nas decisões partidárias. Ele defende que tanto o PT, quanto os outros aliados dialoguem primeiro com a população, com a cidade. Contudo, sempre que tem oportunidade elogia o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani e já chegou a admitir que seu nome é importante e poderá ajudar a base no processo de sucessão do prefeito ACM Neto (DEM).

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Fernanda Chagas
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