Foto: Dida Sampaio/Agência Estado/Arquivo
Por que será que nem uma mensagem sequer do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi pega pelo hacker? 01 de agosto de 2019 | 07:36

Cadê as mensagens trocadas por Lula, Dirceu, Geddel, Cunha, Cabral…?, por Raul Monteiro*

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Curioso como, apesar de seu reconhecido despreparo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem conseguido levar as esquerdas, PT e PSOL à frente, à mais completa histeria, manipulando, a seu bel prazer, os seus instintos mais primitivos, sem que elas percebam que, quanto mais se submetem ao jogo irracional no qual o primeiro mandatário é um verdadeiro mestre, mais ele se fortalece como contraponto a todas elas e a seu líder maior, o ex-presidente Lula, que, mesmo condenado e preso, vive livre da cela e de todos os desvios que cometeu em suas pequenas cabecinhas.

O episódio em que Bolsonaro anteviu, sem qualquer base legal, a prisão do jornalista Glen Greenwald, dono do site Intercept Brasil, que se esmera em tentar desmontar a Lava Jato, é um bom exemplo de como o presidente chega rápido a seus objetivos usando quem ele bem quer. Justificadamente, organizou-se contra Bolsonaro uma manifestação na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, um ato em defesa do jornalista norte-americano, casado com o político David Miranda, que herdou o posto de deputado federal do PSOL do Rio de Janeiro com a renúncia de Jean Willys.

Mas, ao invés de se limitarem à defesa do direito de Glen Greenwald usar seu site para produzir o noticiário que tem constrangido atuais e ex-membros da Lava Jato, como o ex-juiz Sérgio Moro, os manifestantes resolveram também defender a prisão do ministro da Justiça, propugnando uma revanche contra o homem que teve a coragem e a ousadia de ter colocado o mito das esquerdas brasileiras, aquela Irmã Dulce da política, na cadeia. É claro que a tese de que o dono do Intercept “pode pegar uma cana” não passa de mais uma das besteiras do festival delas com que Bolsonaro assola o país.

Não se sabe se isso pode acontecer nem que haja provas concretas de que ele pagou pelo material que o estelionatário hoje preso, acusado de ter hackeado as contas do telegram de meio mundo, mas especialmente dos membros da Lava Jato, lhe entregou, segundo disse à Polícia, de mão beijada, pensando no objetivo nobre de ajudar a melhorar a qualidade das instituições policiais e judiciárias do país. Portanto, o enfrentamento ideal ao presidente deveria passar por mostrar basicamente o quão absurdas, desprovidas de qualquer senso e propriedade, como a maioria das palavras que profere, foram suas declarações sobre o jornalista.

A propósito, desconsiderando o fator Bolsonaro, é curioso também perceber como as mensagens obtidas pelo Intercept são seletivas, alcançando apenas os membros da maior operação contra a corrupção já realizada no Brasil e que tanto medo ainda causa à classe política e empresarial da Nação. Sinceramente, não dá para acreditar num esquema de rastreamento que pega quem se dedicou a desmontar, mesmo sob alegadas imperfeições, o petrolão, mas não identifica uma mensagem sequer trocada por Temer, Cabral, Cunha, Geddel, Palocci, Dirceu, Lula e outros tantos que, a esta hora, devem estar aí a cometer talvez crimes tão graves ou mesmo piores contra o erário.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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