11 de agosto de 2019 | 19:00

Massacre de El Paso atenua xenofobia mexicana

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“Algo mudou”, diz Itzel Ramírez, uma ativista da Cidade do México que está apenas há três anos vivendo em Ciudad Juárez, vizinha de El Paso, onde no dia 3 um supremacista matou 22 pessoas com um fuzil em um shopping center. Seis eram mexicanos. Itzel lembra que a escalada racista que a metrópole mexicana vivia contra a onda de imigrantes centro-americanos e africanos se acumula em sua fronteira. “Você abria o jornal e via ‘cubano estupra mulher’ e depois não era verdade. Escutávamos as pessoas culparem os hondurenhos, haitianos, a todos os que chegaram, pelos crimes”, disse, com a franqueza que os nortenhos se orgulham de ter. “Mas o que aconteceu no Walmart fez com que muitos reagissem. Não sei se vai durar, não sei se é geral, racistas há nos dois lados, apesar de que agora sabemos que ali também nos matam e nos matam por nossa aparência. Nada mais.”

“O racismo e o fascismo já estão aqui”, destaca o escritor mexicano Daniel Herrera, da cidade de Torreón, a 800 quilômetros de Juárez, mas que conhece bem a região. “Fazia meses havia um sentimento de ódio para com os imigrantes.” Na sexta-feira, 9, o autor do massacre, Patrick Crusius, confessou que seu alvo eram mexicanos. Isso estimulou os imigrantes que tentam entrar nos EUA a se aproximar dos mexicanos. Em um restaurante de Ciudad Juárez, esta semana, dois cubanos acabaram cantando Querida de Juan Gabriel, uma canção típica de um dos cantores mais famosos do México.

El Paso era uma das cidades mais seguras dos EUA. Em 2018, morreram menos de 20 pessoas. Agora, em apenas um dia mataram 22. E não foi nenhum dos mexicanos “narcotraficantes ou estupradores” da retórica que Donald Trump promoveu desde o início de sua campanha. Foi um racista de 21 anos que se inspirou nos discursos do presidente americano para executar a matança. Seu manifesto repete, em partes, frases textuais de Trump. “Nenhuma palavra de Trump aos pedestres. Visitou sobreviventes do massacre por 15 minutos e partiu”, lia-se na capa do El Diario de Juárez no dia seguinte à visita de Trump a El Paso. O jornal de uma das cidades mais perigosas do mundo, Ciudad Juárez publicou também na mesma edição a lista das vítimas sem distinção de nacionalidades. Os membros dessa comunidade receberam Trump com frieza. No dia em que ele chegou, parecia um dia qualquer. Alguns líderes da comunidade haviam convocado um boicote silencioso contra Trump e o cumpriram. Trump não saiu às ruas, não fez discurso, nem mencionou os nomes das cidades. Ficou apenas por 15 minutos e foi embora.

Estadão
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