27 de outubro de 2019 | 15:00

Apoiado até por quem rejeita Cristina, Fernández é favorito contra Macri

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Os intermináveis discursos populistas de Cristina Kirchner ou a inflação mensal de 5% de Mauricio Macri. A expansão no gasto público promovida por ela ou aumento da pobreza registrado sob o governo dele. Em uma campanha em que argentinos não identificados com nenhum dos lados se viram levados a escolher o legado menos negativo, o advogado Alberto Fernández parece ter convencido até a parcela que rejeita Cristina a colocá-lo na presidência.

Sem nunca ter sido eleito para um cargo no Executivo, mas também sem histórico de submissão, Fernández foi escolhido em maio por Cristina para encabeçar a chapa presidencial peronista. Ele havia sido chefe de gabinete de Néstor Kirchner e da própria Cristina, com quem se desentendeu em 2008.

Em agosto, nas primárias que servem como simulado da eleição, o professor universitário de 60 anos surpreendeu ao abrir 16 pontos de vantagem sobre Macri. Uma diferença suficiente para vencer no primeiro turno. Na Argentina, ganha que obtiver 50% dos votos ou mais de 40% com 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

Levando-se em conta que Cristina historicamente tem o apoio fiel de cerca de 30% eleitorado, o fato de Fernández ter obtido 47% nas primárias indica uma parcela expressiva de votos que vão além da figura dela. Pesquisas recentes sugerem até uma ampliação da vantagem de 16 pontos sobre Macri.

Predomina entre os analistas, mesmo entre os mais críticos ao kirchnerismo, a opinião de que Fernández exercerá o poder se vencer. “Será um governo em que ele comandará, pois o presidencialismo é muito forte na Argentina. Mas o segredo dessa chapa é ter conseguido reagrupar o peronismo. Os governadores terão um papel fundamental, e Cristina também terá o seu”, avalia o analista político Sergio Berensztein. Os governadores têm forte influência sobre o voto dos senadores argentinos, o que em geral é usado para aprovar projetos em troca de liberação de recursos.

Para Berensztein, o cálculo político de Cristina levou em conta também o resultado de eleições regionais em que ela apoiou candidatos radicais e perdeu, casos das províncias de Neuquén e Mendoza. “Ela viu que essa estratégia não daria certo. Não escolheu Alberto apesar de ele ter um estilo diferente do dela. O escolheu justamente por ser diferente, apresentar-se como moderado.”

Acuada por denúncias de corrupção desde que deixou a presidência Cristina tratou de manter uma vaga no Senado. O posto lhe dá imunidade parlamentar. Pesquisa das consultoras D’Alessio e Berensztein diz que 7 em cada 10 peronistas acreditam que Fernández mandará caso vença. Entre os macristas, a proporção é oposta.

Estadão
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