Foto: Divulgação/Arquivo
Guilherme Bellintani se tornou uma aposta da elite dirigente do PT para derrotar o prefeito ACM Neto (DEM) 24 de outubro de 2019 | 07:18

O que o PT ganha com Guilherme Bellintani mesmo?, por Raul Monteiro*

exclusivas

É digna de nota a paixão repentina e aparentemente inabalável que o PT baiano desenvolveu pelo ex-secretário de ACM Neto e presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani. Na verdade, não propriamente o PT baiano, mas a sua elite, o que corresponde a parlamentares, gestores e dirigentes. De uma hora para outra, Bellintani se converteu em sinônimo de única chance de o partido ganhar, pela primeira vez, a Prefeitura de Salvador contra o grupo do prefeito democrata, pelas mãos de quem se tornou conhecido e adquiriu sua primeira experiência de vida pública.

Sob esse indisfarçável paradoxo, a devoção por Bellintani, nestes tempos de canonização, precisa, no entanto, para se viabilizar enquanto projeto, do engajamento das bases e da aguerrida militância petista, que parece mais propensa, a contar do Encontro recente no qual o partido escolheu, inclusive, sua nova direção na capital, em lançar um quadro próprio e de preferência negro, em contraponto direto ao que o grupo do prefeito tem podido ofertar. Se levados em consideração os nomes apresentados, seria numa opção de caráter mais orgânico no que pensa o petismo.

A avaliação é tão mais verdadeira quanto a inautenticidade esquerdista da eventual candidatura de Bellintani – um sentimento naturalmente caro às bases petistas -, com a qual a direção do PT trai o verdadeiro sentido da sua aposta: o apoio, dentro ou fora da agremiação, ao nome do ex-secretário do prefeito de Salvador é, na verdade, essencialmente uma operação eleitoral e não política. Leve-se em conta que, embalado por ventos eventualmente favoráveis e uma comunicação excepcional, com a qual já conta no comando do Bahia, Bellintani vença a eleição à Prefeitura no ano que vem.

A primeira constatação é que ele terá derrotado Neto e seu grupo, que conta com a eleição de seu pupilo Bruno Reis (DEM), em 2020, como plataforma essencial ao seu lançamento ao governo em 2022, pelo qual o PT também brigará, provavelmente com o senador Jaques Wagner. Mas o eventual sucesso de Bellintani e, consequentemente, a derrota de Neto significará também a vitória do PT? Que grau de compromisso, ou contrato, ou mesmo identidade partidária e psicológica o ex-secretário do prefeito possui com o petismo para transformar num ganho político do partido o seu sucesso eleitoral?

As bandeiras e práticas sociais do Bahia, aliás bem sucedidas e elogiadas, são, além de incipientes, insuficientes como prova de qualquer garantia neste sentido. Pelo contrário, na primeira dividida em que se envolveu com o Clube tendo como adversário a Fonte Nova, um equipamento que o governador Rui Costa (PT) trata com zelo e é ao mesmo tempo um dos ícones de solidez de sua bem avaliada administração, Bellintani cometeu o erro de atacar não só a Arena como seu principal patrocinador em favor de um concorrente, semeando muito cedo desconfiança quanto à sua fidelidade e levantando suspeitas, entre as quais a de que seu alegado preparo e capacidade de gerir não passam, ainda, de peça de marketing.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
Comentários