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Mercosul 13 de novembro de 2019 | 21:45

Acordo de livre-comércio entre Brasil e China depende de parceiros do Mercosul

economia

Um acordo comercial entre Brasil e China, como proposto nesta quarta-feira (13) pelo ministro Paulo Guedes (Economia), dependerá do aval dos outros países que fazem parte do Mercosul, de acordo com especialistas em comércio exterior ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo.

O governo brasileiro também poderia optar por sair do bloco sul-americano para negociar diretamente com os chineses.

Nessa hipótese, no entanto, o Brasil perderia todos os avanços feitos em relação a outros blocos econômicos, ficando de fora, por exemplo, do acordo Mercosul-União Europeia. “Desde 2000, o Mercosul só negocia em bloco. Todas as negociações comerciais hoje em curso são em bloco”, afirma o ex-secretário de comércio exterior Welber Barral, sócio da consultoria Barral M Jorge.

Barral diz que uma negociação com a China enfrentaria grande resistência por parte do setor industrial, mas seria benéfica para os setores produtores de commodities agropecuárias e minerais.

“O mercado chinês é muito grande, existem possibilidade, mas o Brasil tem dificuldades para exportar outros produtos que não sejam commodities e teria de aumentar sua competitividade”.

José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), afirma que o Brasil não tem condições de estabelecer uma relação comercial totalmente livre com um país como a China, que, por exemplo, não segue todas as regras internacionais de comércio.

“Seria suicídio industrial coletivo”, afirma.

Castro destaca ainda a desvantagem em se tentar uma negociação fora do âmbito do Mercosul.

“Você tem de fazer acordo com o bloco, não com um país individualmente, a não ser que esteja passando pela cabeça do Brasil sair do Mercosul. Mas aí tem de voltar a negociar outros acordos, como com a União Europeia”, afirma o presidente da AEB.

Roberto Dumas Damas, professor do Insper e especialista em China, também afirma que não seria bom para o Brasil abrir mão do acordo fechado com a União Europeia para negociar com a China, mas avalia como positiva a sinalização do ministro da economia de que está disposto a abrir o país para o comércio exterior e abandonar a política de proteção industrial que vigora há décadas.

O especialista afirma ser a favor de um acordo mais amplo do bloco com os chineses, mesmo que isso represente perdas para a indústria brasileira em um primeiro momento. Para ele, não dá mais para proteger o setor com tarifas, prejudicando todos os outros segmentos da economia.

Além disso, uma abertura poderia ser uma oportunidade para modernizar o parque fabril brasileiro, aumentar a competitividade do setor e elevar as exportações para outros países futuramente, diz o professor do Insper.

“Ficamos abraçados com Argentina e não fizermos nada. Agora é hora da mudança. Sou a favor de um acordo de livre comércio. Mas é claro que não vamos abrir tudo de uma vez”.

Folhapress
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