Foto: Wilton Júnior/Estadão
Fernando Collor 08 de dezembro de 2019 | 19:51

Após 30 anos, Collor afirma que desconhecia invasão da Polícia Federal à Folha

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No meio da tarde de uma sexta-feira de março de 1990, seis fiscais da Receita, dois agentes e um delegado da Polícia Federal invadiram o prédio da Folha, na região central de São Paulo.

O então presidente da República, Fernando Collor de Mello, havia assumido o cargo oito dias antes. Na campanha eleitoral, o jornal publicara reportagens sobre indícios de irregularidades em suas gestões como prefeito de Maceió e governador de Alagoas.

Na semana passada, em entrevista no estúdio da Folha e do UOL, em Brasília, o hoje senador (pelo PROS-AL) ressuscitou o episódio para falar que desconhecia a operação e que jamais a autorizou.
“Até hoje eu sou culpado por ter eu determinado, imagine, a invasão de um órgão de imprensa”, disse Collor.

“Eu, que sou a quarta geração de jornalistas [da família] e que prezo o trabalho jornalístico, as empresas de jornalismo e todos aqueles que [o] fazem, e que entende perfeitamente o papel da imprensa no Brasil, em qualquer lugar do mundo”, continuou.

Sua família é dona de rádios, de portais de notícias e da TV Gazeta, afiliada da Rede Globo em Alagoas. Com dificuldades financeiras, o grupo de empresas de comunicação teve pedido de recuperação judicial aceito em setembro.

Collor relatou que só soube da invasão à Folha, ocorrida sob a alegação de uma devassa fiscal, quando a operação estava em curso. Em declarações na época, o ex-presidente já buscava se eximir de responsabilidade sobre a medida.

A versão dele coincide com explicações sobre o caso dadas pelo então chefe da Polícia Federal e da Receita, Romeu Tuma (1931-2010). Segundo Tuma, o delegado responsável pela incursão, João Lourenço, não avisou os superiores.

O relato, porém, difere da apuração de jornalistas da época a partir de informações de pessoas próximas ao governo. No livro “Notícias do Planalto”, Mario Sergio Conti também afirma que Collor “fora informado previamente da diligência” na Folha e “concordou com a inspeção”.

Collor diz que, naquela sexta-feira de 1990, foi alertado sobre o fato pela então ministra Zélia Cardoso de Mello.

“Recebi uma informação, fui alertado pela ministra da Economia, que me ligou e disse: ‘Presidente, o senhor mandou invadir a Folha de S.Paulo?’. Eu falei: ‘Eu? Invadir a Folha de S.Paulo? De jeito nenhum’”, narrou, reproduzindo o diálogo que teria sido travado.

Segundo ele, sua reação foi a de perguntar para Zélia se ela havia falado com o ministro da Justiça, Bernardo Cabral, ao qual a PF era subordinada.

Folha de S.Paulo
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