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"Coleguinhas": A ex-chefe do MP da Bahia, Ediene Lousado (à direita) foi avisada de "investidas" da procuradora Sara Mandra, que disputou a sua sucessão, para tentar ajudar a irmã hoje presa 09 de abril de 2020 | 11:44

Ex-candidata a chefe do MP baiano tentou criar “imbróglio” para salvar Sandra Inês, diz desembargador

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O ex-presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Gesilvado Brito, afastado no âmbito da Operação Faroeste, que investiga esquema de grilagem de terras no Oeste baiano por meio de venda de sentenças, foi flagrado numa interceptação telefônica reclamando a um colega que a procuradora Sara Mandra, ex-candidata à chefia do MP da Bahia, estava “desesperada” com a situação da desembargadora Sandra Inês Rusciolelli, sua irmã, e ‘procurando meios’ para livrá-la a qualquer custo de uma investigação ou eventualmente de uma punição.

Na conversa com o desembargador José Alfredo, interceptada pela Polícia Federal na primeira fase da Faroeste, que denunciou outros três colegas dele, Gesivaldo diz também ter tomado conhecimento, por meio do serviço de inteligência da presidência, que Sandra Inês praticava em seu gabinete a famosa rachadinha, meio pelo qual desembargadores ou políticos ficam com parte dos salários de assessores. “Só que também a minha Inteligência já chegou à conclusão que todos os servidores do Gabinete dela (Sandra Inês), ela racha o salário”, afirma.

A conversa entre os dois desembargadores passou praticamente despercebida em meio ao impacto do lançamento da Operação, a primeira de porte realizada contra o Tribunal de Justiça da Bahia, mas voltou a ser lembrada agora, principalmente por advogados, por causa da prisão de Sandra Inês e de seu filho, Vasco Rusciolelli, além do teor da forte denúncia feita contra os dois e mais três supostos comparsas, dois dos quais advogados, pela Procuradoria Geral da República, com pedido para que a magistrada perca o cargo e devolva o equivalente a R$ 4 milhões em bens adquiridos supostamente com propina.

– Agora a irmã dela, a irmã dela, a irmã de, de Sandra Inês, a Sara Mandra. Tá desesperada é com a situação da irmã, porque a situação da irmã é grave. Tem aquele caso da, da, da, da moça que está lá no CNJ que mandou instaurar o processo, diz Gesivaldo a José Alfredo. Na conversa, ele afirma também ter alertado a então chefe do MP baiano, a procuradora Ediene Lousado, para o comportamento da colega, sem que, ao que se deduz da conversa, possa se saber se ela adotou providências contra ela. No Ministério Público baiano, Ediene e Sara Mandra são consideradas grandes amigas e tratadas, por alguns colegas próximos, como “coleguinhas”.

A irmã da desembargadora Sandra Inês, inclusive, concorreu à sucessão de Ediene se apresentando como membro de seu grupo político nas eleições em que uma candidata da oposição, Norma Cavalcanti, acabou sendo escolhida. Depois de deixar o comando do MP baiano, Ediene assumiu vaga na Conselho Nacional do Ministério Público. “A irmã (Sara Mandra) que não pode funcionar no processo, eu já mandei pra EDIENE, entendeu?, que ela tá se, ela tá é procurando é, meios pra é, livrar a cara da irmã (Sandra Inês), tá desesperada (inaudível), entendeu? Então ela não pode nem atuar, eu já falei pra EDIENE; EDIENE fale com, fale com a Procuradora aí que…”, afirma Gesilvado durante a conversa, para ouvir de José Alfredo uma ponderação incisiva sobre o caso.

– Aí não é nem suspeição, já é impedimento, diz o outro desembargador, para ouvir de volta do ex-presidente do Tribunal de Justiça da Bahia: “Impedimento, ela não pode. (…) É objetiva, ela não pode é irmã mesmo, ela tá pedindo informações aqui no Tribunal, o que ela pede a gente dá. Quantos, quantos processos foram distribuídos, quantos, quantos juízes foram pra lá para responder, uma série de (inaudível). Ela tá querendo como é que se diz é, criar é como é que se diz?, um imbróglio pra ver se a irmã consegue se safar, entendeu?” José Alfredo, ao que parece, chega à mesma conclusão: “Hum”.

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