Foto: Alan Santos/PR
05 de setembro de 2020 | 20:20

BID pode ajudar a tirar empresas americanas da China, diz candidato dos EUA ao banco

mundo

O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) poderá participar do esforço do governo Donald Trump de trazer empresas norte-americanas da China e ajudá-las a se instalar na América Latina, Brasil inclusive.

A afirmação é do polêmico candidato à presidência do banco pelos EUA, Mauricio Claver-Carone, 45, em entrevista por e-mail.

O advogado, um feroz crítico dos regimes de esquerda latino-americanos, é assessor para a região do presidente Donald Trump no Conselho de Segurança Nacional.

O cruzamento da iniciativa de Trump, lançada por Claver-Carone em agosto e chamada De Volta às Américas, com a candidatura ao BID deverá alimentar a suspeita de críticos de que Claver-Carone quer operar em favor de Washington no banco.

Para ele, contudo, os projetos podem ter impacto positivo para as economias locais -ainda que favoreçam os EUA no embate da Guerra Fria 2.0 que travam com a China, na qual América Latina e o Caribe são um teatro secundário.

A iniciativa também visa encurtar elos de cadeias produtivas, fragilidade que foi exposta na pandemia.

Segundo o americano, nascido em Miami de mãe cubana e pai espanhol e criado em Madri (Espanha), a De Volta às Américas poderá injetar de US$ 30 bilhões a US$ 50 bilhões (de R$ 285 bilhões a R$ 270 bilhões no câmbio de hoje) nos países latino-americanos.

Ele começou a promover a iniciativa em uma viagem pela Colômbia, país que é alinhado com Trump assim como o Brasil e tem sido visto como queridinho de investidores.

Não por acaso, ambas as nações declararam apoio à realização das eleições e são votos certos pró-EUA.

Se a proximidade do governo de Jair Bolsonaro com o de Trump não tem exatamente dado frutos concretos, a começar pela retirada do candidato brasileiro ao BID, Claver-Carone a exalta.

Diz que o Brasil está nos planos da De Volta às Américas, um plano de resto visto como de difícil execução na prática, por motivos de ambiente de negócios e custos locais. “Preferimos ver empresas americanas investindo no Brasil do que na China”, afirma.

Criado em 1959, o BID sempre teve presidentes latino-americanos, como forma de compensar o peso econômico dos EUA.

É composto por 48 membros, 22 deles sem direito a receber empréstimos ou voto em assembleia, incluindo EUA e China, mas que têm interesses na região.

A indicação de Claver-Carone foi bombardeada pela Argentina com apoio do México, além de outros países.

A União Europeia e 22 ex-chefes de Estado de membros do grupo, além de políticos de países como o Brasil, declararam apoio a um adiamento da eleição para o ano que vem.

Na prática, isso pode minar a candidatura do americano, em especial se Trump não se reeleger em novembro.

O pleito virtual está marcado para os dias 12 e 13, e será derrubado se mais de 25% decidirem se abster, uma tática que é objeto de articulação.

Em vez de enfatizar a rivalidade com a China, Claver-Carone prefere apontar para o fato da mudança de perfil da atuação de Pequim na região.

De 2008, início da última grande crise econômica mundial, até 2019, os chineses emprestaram US$ 125 bilhões (R$ 675 bilhões) a países da América Latina.

No mesmo período, o BID emprestou US$ 151 bilhões (R$ 815 bilhões) a Estados e empresas, fora outros US$ 43 bilhões (R$ 232 bilhões) em projetos diversos.

A enxurrada chinesa, contudo, secou após o fim do último grande ciclo das commodities, em 2015. De US$ 35,6 bilhões (R$ 192 bilhões) emprestados em 2010, o volume caiu para US$ 1,1 bilhão (R$ 5,9 bilhões) no ano passado.

Antes da pandemia, o volume do BID ficou mais ou menos constante, fechando 2019 com US$ 12,9 bilhões (R$ 69 bilhões).

O que os chineses fizeram foi acelerar seu investimento, que após 2010 deixou a área de produtos primários e diversificou-se na de serviços.

Daquele ano até 2018, Pequim colocou US$ 100 bilhões (R$ 540 bilhões) na região, parte por meio de sua inciativa própria, a Cinturão e Rota. Noventa por cento disso foi dinheiro estatal, segundo o “think tank” Diálogo Interamericano (EUA).

Houve um tombo da casa dos US$ 12 bilhões anuais para US$ 8 bilhões (R$ 43 bilhões) a partir de 2018.

Ainda assim, é bem mais que o BID. O braço de investimento do banco tem hoje uma carteira total de US$ 12 bilhões (R$ 65 bilhões) em 24 países.

Folhapress
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