28 março 2024
O spray de pimenta cegou todo mundo, dois policiais o agarraram pelo pescoço e pelo braço e Borislav Sandov, 37, se tornou um dos 126 detidos durante a maior manifestação recente contra o governo em Sófia, capital da Bulgária, na última quarta (2).
Ambientalista, dirigente do Partido Verde búlgaro e especialista em clima e energia, Sandov diz que a repressão violenta foi só mais uma prova de que seu país deixou de ser uma democracia.
O episódio que tem levado milhares de pessoas às ruas desde 9 de julho foi a tentativa de um político de oposição de entrar numa praia que deveria ser pública, mas foi apropriada por um aliado do primeiro-ministro da Bulgária, Boiko Borisov.
“Ele se tornou dono do lugar, construiu edifícios, fez uma marina. Tudo ilegal, mas as instituições do governo atuam para encobrir as irregularidades e apoiá-lo”, afirma o ativista.
A praia privatizada é uma gota d’água se comparada à corrupção ampla e à apropriação do Estado pelo que os manifestantes búlgaros chamam de “máfia oligárquica”, diz Sandov.
“Mas se tornou muito evidente o que está acontecendo, muito doloroso de ver. Foi a fagulha que iniciou o fogo.”
Para o ambientalista, a violência da última quarta tenta quebrar a determinação dos manifestantes e ganhar fôlego para que Borisov continue no poder.
Há eleições marcadas para daqui a seis meses, mas Sandov diz que não faz sentido esperar: “O maior risco é que uma segunda onda de Covid-19 agora no outono sirva de desculpa para que o governo adie o pleito”.
Por telefone, um dia depois de ser solto, ele disse à Folha que manifestantes búlgaros se decepcionaram com a União Europeia e falou sobre a dificuldade de criar um partido num país em que “política é uma palavra suja”.
Folha de S. Paulo