Foto: Rogerio Santana/Governo do Rio de Janeiro
13 de setembro de 2020 | 09:00

Legado de estrutura hospitalar do Covid-19 corre risco sem verba federal, dizem secretários de Saúde

brasil

Ao custo de mais de 130 mil vidas, a pandemia da Covid-19 expandiu a rede hospitalar do SUS em tempo recorde segundo secretários de Saúde.

O número de leitos de UTI mais que dobrou, por exemplo, em TO, AC, PB, AL, CE, RR, PI e PA, e quase duplicou em RS, MG, PR e PE.

Para gestores, carências históricas em rincões do país foram supridas com a instalação de UTIs em cidades de zero leitos. A maioria diz, porém, que não será possível manter o legado se não houver dinheiro do governo federal.

Os secretários cobram do Ministério da Saúde o debate sobre o custeio do SUS pós-pandemia. “Sonhamos com a manutenção dos leitos, para que o legado não seja só em número de contaminados e mortos”, afirma Geraldo Resende, chefe da saúde do MS.

Segundo gestores, a proposta de Orçamento para 2021 não dará conta de contemplar o legado. Eles querem apresentar à pasta o que estão chamando de orçamento alternativo, para financiamento das estruturas. Presidente do Conass e secretário do Maranhão, Carlos Lula diz que o debate sobre o SUS precisa extrapolar “a argumentação sobre crise econômica e cortes”.

A pasta respondeu ao Painel que solicitou aos estados e municípios que identifiquem o que deve ser mantido e que o objetivo é preservar o legado “de forma responsável e sustentável”. O ministério diz que habilitou 12.698 leitos de UTI para Covid-19 ao custo de R$ 1,8 bilhão por 90 dias.

Estados argumentam que não têm como arcar com médicos e insumos para preservar os leitos ao mesmo tempo em que afirmam contar com a manutenção de novos hospitais abertos, desmobilizando apenas os de campanha.

Os secretários procuram ser realistas –alguns veem risco de que o legado não permaneça. “Na prática, é provável que o governo federal não tenha capacidade de habilitar todos esses leitos”, diz Geraldo Antônio, da Paraíba, enquanto aponta que a relação de leitos UTI por habitante do estado já superou à da Europa.

“É uma conta alta para o Brasil, não tenho a ilusão de que o Ministério da Saúde vá conseguir financiar tudo, mas vamos pleitear. Precisamos aproveitar esse momento para preencher vazios assistenciais”, afirma o secretário de Alagoas, Alexandre Ayres, que pretende preservar 80% da nova rede.

Sem contar hospitais de campanha, novos hospitais, antes fechados e privados, foram abertos em TO, GO, RS, PI e PE, por exemplo. Inaugurações de hospitais foram aceleradas por causa da pandemia em AC, PB, AL, RS, PE e PA. Essa estrutura, além de respiradores adquiridos, é o que os estados querem garantir.

Na fase atual da pandemia, de estabilidade na maioria dos estados, parte deles já desmobilizou seus hospitais de campanha, direcionando equipamentos para hospitais antigos. No ES, por exemplo, dos 1.532 leitos dedicados a Covid-19, 343 já foram deslocados para atender outras demandas.

Secretários lembram que há uma série de cirurgias represadas pela pandemia.

Folha de S.Paulo
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