Foto: Ravena Rosa/Agência Brasil
03 de setembro de 2020 | 08:46

Varejistas enfrentam atraso de entregas, falta de produtos e aumento de preços

economia

Com as vendas em lenta recuperação, em meio ao relaxamento do isolamento social na maior parte do país, o varejo enfrenta uma nova dificuldade: a de repor estoques.

Comerciantes de setores diversos relatam atrasos de entrega pela indústria, falta de produtos e aumento de preços, que comprimem margens diante da impossibilidade de repasse ao consumidor com a economia ainda enfraquecida.

A pesquisa Pulso Empresa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada nesta quarta-feira (2), mostrou que 45,4% dos entrevistados enfrentaram dificuldade de acesso a insumos, matérias-primas ou mercadorias na segunda quinzena de julho, acima dos 38,6% que enfrentavam o problema na quinzena anterior.

O contratempo é mais frequente entre pequenas empresas –45,5% relataram esse tipo de dificuldade– e no comércio varejista (71,9%) e de veículos, peças e motocicletas (70,4%).

“Tem fornecedor que está demorando o dobro para entregar, que manda uma parte e a outra vem depois, coisa que não era costumeira, existia uma entrega mais regular”, relata Jorge Dib, diretor da Univinco (União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências) e do Depósito de Meias São Jorge.

Segundo Dib, os lojistas da 25 de Março, na região central de São Paulo, também têm enfrentado dificuldades na entrega de embalagens, particularmente em papelão. Ele avalia que a origem do problema está na indústria, que enfrenta falta de matéria-prima em alguns casos e está trabalhando com pessoal reduzido, por conta do distanciamento social nas empresas.

Conforme a Folha mostrou no domingo (30), vários setores da indústria têm enfrentado falta de suprimentos, como aço e resinas plásticas, e aumento de custos, em meio à alta do dólar, queda da produção de insumos devido à pandemia e retomada da manufatura mais rápida do que o esperado.

No varejo de autopeças, o problema não é só de atraso nas entregas, mas de falta de produtos.

“Existe um gargalo logístico por conta da parada da economia chinesa durante quatro meses no primeiro semestre”, afirma Francisco De La Tôrre, presidente do Sincopeças-SP, que representa 27 mil lojas de autopeças no estado.

“Isso está se refletindo agora: o mundo voltou a operar, a recuperação está sendo mais rápido do que se esperava, então há um problema de fornecimento e de aumento de preços, por conta do câmbio. Alguns grupos de autopeças têm aumento de até 30% até julho.”

Segundo De La Tôrre, essa alta de custos está sendo absorvida pela cadeia. “Todos os players –varejo, atacadistas, importadores e fabricantes– estão abrindo mão de margens, porque não temos um consumidor em condição de absorver esses aumentos, estamos diante de um consumidor mais pobre.”

A inflação ao consumidor segue contida, em alta de 2,31% em 12 meses até julho, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Já no atacado, os custos estão em alta, com o IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado), que é composto em 60% pelos preços ao produtor, acumulando avanço de 13,02% em 12 meses até agosto.

O descompasso entre os dois índices é um indicativo dessa perda de margem das empresas relatada pelo representante do setor de autopeças. Mas há temor de que, com a melhora da atividade esperada para 2021, a alta de preços do atacado seja repassada aos consumidores, elevando a inflação.

No comércio de calçados, o medo é o de que falte produto para as vendas de fim de ano.

“Estamos com um problema seríssimo, os representantes da indústria estão nos ligando e, além de eles estarem com turno reduzido, estão com problemas de matéria-prima, com preços subindo e alguns componentes em falta”, diz Leonardo Annichinno, diretor da Ablac (Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados) e das Lojas Esporte Total, que tem sete unidades em Capivari e Piracicaba, no interior paulista.

“Estamos fazendo pedidos normalmente, mas as entregas já estão todas para dezembro. Precisamos do sapato no comecinho daquele mês, mas muitos não estão garantindo a entrega, então acredito que pode haver falta de produtos no fim de ano.”

Folha de S.Paulo
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