Foto: Reprodução/Mateus Soares
Debate da TVE 25 de outubro de 2020 | 10:21

Debate TVE: Inautenticidade de Denice é incapaz de subtrair aura convincente de Bruno

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Se não houve propriamente um vencedor no debate promovido ontem à tarde pela TVE, o que o elevado número de debatedores torna praticamente impossível definir, por reduzir o tempo de exposição de cada um, foi possível observar pelo menos algumas mudanças ou a consolidação da performance da maioria deles.

A ansiedade do governo em viabilizar o confronto, patente na iniciativa de usar a emissora estatal para realizá-lo, na expectativa de poder promover os pontos fortes de sua candidata, a major Denice Santiago (PT), e evidenciar as supostas fragilidades do democrata Bruno Reis foi, na prática, um tiro no pé.

Em primeiro lugar, porque Denice está longe de ser natural, a começar pela transformação que os marqueteiros fizeram em sua imagem desde que deixou a função de uma bem sucedida militar baiana comandante da Ronda Maria da Penha para virar a candidata do peito do governador Rui Costa (PT) à sucessão de Salvador.

Por mais que seja possível admirar sua entrega ao projeto da candidatura, sua garra e inteligência, tudo nela, infelizmente, do ponto de vista político, soa falso, ou fabricado, como a ela se referiu a adversária Olívia Santana (PCdoB) em seu programa eleitoral.

Talvez seja um caso típico, ainda que não muito comum, em que a propaganda, ao invés de potencializar as melhores características do produto, o revoluciona e desconstrói, sem saber exatamente que qualidade colocar em seu lugar, ou então repondo algo muito pior, quando não uma verdadeira ilusão.

É o oposto do que, um confronto como o que se assistiu ontem, deixa claro sobre Bruno. Apesar do nervosismo e de, eventualmente, se atropelar com as palavras, a indicar o auto-compromisso radical de acertar, o que estressa a capacidade de expressão num contexto de forte delimitação, o candidato do DEM está ali inteiro.

Fale-se o que quiser, Bruno é Bruno: alguém que deseja imensamente chegar à Prefeitura, está convencido de que pode e saberá fazer o que precisar para dar continuidade à gestão do seu padrinho político, o prefeito ACM Neto, que, no entanto, ao contrário do que os adversários tentam passar, nunca lhe deu nada de mão beijada.

Nem a vice que hoje ocupa nem muito menos a candidatura à própria sucessão. O que os contestadores do plano de eleição do democrata não querem reconhecer é exatamente o extremo poder de convencimento que a longa trajetória de luta do candidato lhe concede e que ele, sabiamente, aprendeu a explorar.

São marcas que Bruno trás desde antes de entrar na política, que o acompanharam depois que se tornou um player e em sua briga por espaço interno no grupo altamente competitivo de Neto. Para completar, o democrata ainda se apresenta com uma verdadeira aura de humildade, uma virtude incomum nos seguidores mais próximos do prefeito.

Com estas características, ele talvez pudesse ser confrontado melhor por Olívia, cuja marca da luta está carimbada na fisionomia e ganha ainda mais destaque por sua estampa de mulherão, bonita, forte e aguerrida. Ou por Bacelar, do Podemos, cuja respeitabilidade, a cada confronto, vai sendo reforçada pelo preparo.

O candidato do Podemos tem experiência e conhecimento profundo sobre a cidade. Chamado de charmoso em duas oportunidades, por dois contendores distintos, ele, na verdade, é um gentleman, motivo porque não merecia o ataque que beirou a covardia de Hilton Coelho, o candidato do PSOL cuja presença é sempre garantia de algum humor.

Acostumado a criar imagens interessantes – ontem foi a de que o governador quer arrancar os trilhos dos trens do Subúrbio -, Hilton, no entanto, passou dos limites, embora tenha agido pior, entretanto, o trio de advogados que indeferiu o pedido de direito de resposta que lhe dirigiu o candidato do Podemos.

Por muito menos, Hilton já tinha recebido uma enquadrada da colega de Assembleia Olívia. Celsinho Cotrim, do PROS, tem potencial evidente e boa capacidade de articulação, mas lhe falta um plano de vôo claro para poder chegar onde é possível neste cenário em que já se sabe, de antemão, que não será o sucesso eleitoral.

Natural que, no debate da TVE, fizesse melhor figura do que Isidório. À medida que o tempo passa, vai ficando claro que talvez fosse melhor que a vice do Sargento-Pastor, Eleusa Coronel (PSD), pudesse substituir o ‘quase ex-doido’ tanto no horário eleitoral quanto no debate.

O empenho com que o prefeiturável do Avante tem se dedicado à candidatura, buscando se superar na tentativa de ampliar seu eleitorado, o torna merecedor de respeito. Mas é um erro estimular a que saia para fora do nicho alguém que se construiu na base, ainda que legítima, do próprio folclore.

A mesma consideração, no entanto, não se pode devotar àqueles que, mesmo sabendo das evidentes limitações de Isidório, insistem em estimulá-lo a que concorra apenas para atender a suas estratégias políticas. É o atestado de indignidade que o egoísmo confere.

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