Foto: Dida Sampaio/Estadão
O ministro da Economia, Paulo Guedes 06 de novembro de 2020 | 18:35

Alta de preços é setorial e transitória, afirma Guedes

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O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta sexta-feira (6) que o país vive uma alta setorial e transitória de preços. Para ele, o fim de programas emergenciais implementados na pandemia do novo coronavírus vai reverter a trajetória de crescimento da inflação.

Nesta sexta, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que a inflação de outubro ficou em 0,86%, patamar mais alto para o mês desde 2002. O grupo com maior elevação foi o de alimentos e bebidas.

Na avaliação de Guedes, o sucesso do auxílio emergencial pago a informais aumentou fortemente o poder de compra das classes mais baixas, criando uma demanda vigorosa por alimentos e materiais de construção.

“Esses gastos adicionais criaram uma alta transitória e setorial de preços. […] Isso vai se diluindo à medida em que vão sendo faseadamente retirados esses incentivos ”, disse, em evento virtual promovido pelo banco Itaú. “Estamos trabalhando para impedir que os efeitos sobre a inflação se perpetuem e para garantir que os efeitos sobre a atividade econômica se sustentem”.

Guedes afirmou que a aprovação da autonomia formal do BC (Banco Central) é um passo importante para evitar que altas pontuais desse tipo se transformem em permanentes. O texto foi aprovado pelo Senado, mas ainda depende de análise da Câmara.

Para o ministro, será necessário aprovar reformas estruturantes para que seja mantido o fôlego observado na economia com o pagamento do auxílio. “A resposta para isso é investimento, melhora de ambiente de negócios e desbloqueio de marcos regulatórios”, afirmou.

Guedes disse que não descarta a manutenção de alguns desses estímulos, mas não deixou claro sobre o que se referia.

Ele afirmou que deseja implementar o Renda Brasil e defendeu que a nova assistência seja fruto da unificação de programas sociais existentes hoje. A ideia, que incluiria a fusão do abono salarial, já foi vetada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Participantes do evento sugeriram que o governo privatize estatais deficitárias e use a economia de recursos para bancar o novo programa de transferência de renda.

“Podemos transformar estatais dependentes, podemos acelerar desinvestimentos e transformar em politicas sociais? É o nosso sonho”, respondeu o ministro.

Na videoconferência, Guedes defendeu a abertura de capital da Caixa Econômica Federal. Para ele, a marca de 100 milhões de contas digitais atingida pelo banco público após o pagamento do auxílio emergencial e de outros programas se tornou um ativo para venda.

“Isso também é um ativo novo passível de desestatização logo ali na frente, vamos para um IPO. Da mesma forma, a Caixa Seguridade. Tudo isso são ativos para serem desmobilizados para derrubar a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto)”, afirmou.

O IPO da Caixa Seguridade já estava programado, mas acabou adiado.

Guedes voltou a dizer que “agora é juros mais baixo e câmbio mais em cima mesmo”. Para ele, a manutenção do dólar em um patamar muito baixo em relação à real demanda que o país tenha muitas reservas em moeda estrangeira.

“Uma coisa é você estar com uma moeda a R$ 1,80, R$ 2,00, R$ 2,80, claramente sobrevalorizada. Outra coisa é estar a R$ 5,50, aí não precisa de tanta reserva para defender uma moeda que não está mais sobrevalorizada. Possivelmente até já teve um ‘overshooting’, já bateu lá em cima e já avançou”, disse.

Sem mencionar diretamente as eleições nos Estados Unidos, o ministro disse que o Brasil continuará “trabalhando com todo mundo”. Para ele, não se pode superestimar o fator político porque a dinâmica de crescimento da economia brasileira depende do próprio país.

Folhapress
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