Foto: Isac Nóbrega/PR
Donald Trump 27 de novembro de 2020 | 12:41

Após eleições, Trump passou muito tempo no Twitter, jogou golfe e pouco governou

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Desde que perdeu a eleição, Donald Trump passou horas no Twitter tentando convencer o mundo de que venceu. Também jogou golfe e perdoou o peru Corn de ser devorado no Dia de Ação de Graças, seguindo uma antiga tradição na Casa Branca de conceder nesse feriado clemência a um exemplar da ave.

Dos mais de 600 tuítes que disparou entre 4 de novembro, um dia após o pleito vencido pelo democrata Joe Biden, e quinta (26), a gigantesca maioria das mensagens buscava dinamitar a lisura eleitoral. Como este que compartilhou no dia 21: a entrevista do One America News Network, canal a cabo da extrema direita americana, com o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.

Investigado pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito das fake news, o brasileiro, que desde julho mora nos Estados Unidos, embolou Venezuela, George Soros e contagem eletrônica de votos para alegar, sem evidências, que a eleição americana foi fraudada.

Trump, por outro lado, teve nesses dias finais como presidente, que coincidem com o repique de um vírus que já matou mais de 270 mil americanos, poucos compromissos oficiais.

A agenda divulgada pela Casa Branca incluiu, além de salvar a pele do peru, almoçar duas vezes com seu vice, conversar com seus secretários do Estado e do Tesouro, participar de uma cerimônia com veteranos de guerra e discursar, por telefone, num comitê estadual da Pensilvânia.

Um dia antes, o estado formalizou a vitória local de Biden. Trump repetiu a tese de ficção de que teria conquistado a eleição “facilmente, e de lavada”.

De relevante, Trump deu atualizações do programa Operation Warp Speed —de combate à pandemia—, falou sobre preços de medicamentos controlados e apareceu brevemente na reunião virtual do G20, ainda que tenha ido jogar golfe durante a realização de um painel sobre combate à pandemia.

Não que a caneta presidencial esteja ociosa. Um dia após conceder indulto à ave-símbolo do Dia de Ação de Graças, Trump fez o mesmo por seu ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn. Ele se declarou duas vezes culpado ao FBI por mentir no caso da interferência russa no pleito de 2016.

Ex-assessores da primeira campanha presidencial de Trump podem ter o mesmo destino, como Rick Gates e George Papadopoulos, também enroscados no complô de Moscou.

O site Factbase emparelha os eventos públicos do presidente com o número de casos de Covid-19 no país. O republicano só teve aparições externas, ao vivo ou virtualmente, em 10 desses 23 dias. O único compromisso constante: golfe aos sábados e domingos e também nesta quinta (26), no Trump National Golf Club do estado de Virginia, vizinho a Washington.

Nos dois fins de semana em que sua autoridade máxima jogava golfe, os EUA computaram 533 mil novos casos de Covid-19 e 3.464 mortes. O período todo acumulou 26,5 mil vítimas, nove vezes mais do que os mortos nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

A bola fora, no esporte favorito de Trump, é literal. “Ele manda a bola para fora do campo tantas vezes que os caddies [auxiliares que carregam os tacos] o chamam de Pelé”, destaca Rick Reilly, jornalista esportivo que lançou em 2019 “Commander in Cheat: How Golf Explains Trump” (comandante em enganação: como o golfe explica Trump, em tradução livre).

Trump é hoje o que o anedotário político define como pato manco, apelido dado a políticos em fim de mandato, fragilizados pela perspectiva de perda de poder, assim como um pato avariado é presa fácil.

Barack Obama também foi um em 2016, quando já não podia disputar a reeleição e viu Hillary Clinton, sua candidata para sucedê-lo, perder para um outsider desacreditado durante toda a corrida presidencial.

A diferença entre como Obama e Trump lidaram com essa fase, porém, é gritante. Na noite pós-eleição, Hillary aceitou a derrota, enquanto Trump, quatro anos depois, continua a insistir que ganhou.

Folha de S.Paulo
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