Foto: Tiago Queiroz e Daniel Teixeira/Estadão
Bruno Covas e Guilherme Boulos 21 de novembro de 2020 | 09:40

Na reta final, Boulos esbarra em pobres e desempregados; e Covas, entre os mais jovens

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A cadeira está lá, no 5º andar do Edifício Matarazzo, no centro de São Paulo, mas quem quiser ocupá-la a partir de 1º de janeiro do ano que vem ainda precisa transpor algumas barreiras.

A pouco mais de uma semana do segundo turno da eleição municipal, os candidatos Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) precisam furar algumas bolhas e reforçar algumas vidraças na disputa para o cargo de prefeito.

Pesquisa Datafolha aponta que, dentre os votos válidos (que excluem brancos e nulos), Covas tem 58% e Boulos, 42%. Dentre os votos totais, 48% a 35%, respectivamente.

O levantamento mostra que Boulos, por exemplo, ainda não rompeu a barreira da parcela da população que promete focar.

O candidato tem menos de metade da preferência entre quem estudou apenas até o ensino fundamental do que seu adversário, Bruno Covas (PSDB).

A pesquisa mostra que 59% de quem tem esse nível de escolaridade diz votar em Covas, e 28% votam em Boulos (a margem de erro nessa faixa é de 6 pontos percentuais).

O tucano tem performance melhor também entre os mais pobres, os que ganham até dois salários mínimos —50% dizem votar nele e 34%, no adversário (margem de erro de cinco pontos). Mesmo desempregados preferem Covas a Boulos (52% a 34%).

Boulos vai melhor e empata com o adversário (dentro da margem de erro) entre os mais escolarizados e entre os mais ricos.

A pesquisa mostra que o candidato, que começou sua carreira política no movimento sem-teto, tem tido dificuldade de furar a bolha progressista que o levou ao segundo turno.

O atual prefeito e candidato à reeleição Bruno Covas, por outro lado, fica numericamente atrás do adversário entre os mais jovens, com até 24 anos (46% a 31%) e os que têm entre 25 e 34 anos (44% a 38%).

O prefeito precisa correr para conquistar essa parcela do eleitorado mais jovem. Isso porque sua vantagem maior se dá entre os mais velhos, com 60 anos ou mais (65% a 23%), faixa que, por fazer parte do grupo de risco da Covid-19, pode ter mais resistência a sair de casa para votar em meio à pandemia.

Além de furar suas bolhas eleitorais, os candidatos ainda têm alguns calos que devem ser mais apertados nessa reta final.

Nesta semana, Covas voltou a ser atacado pela escolha de seu candidato a vice, o vereador Ricardo Nunes (MDB), nome da bancada religiosa da Câmara escolhido em uma articulação feita pelo governador João Doria (PSDB), que busca o apoio do MDB para uma candidatura à Presidência da República em 2022.

Nunes, que tem forte influência na zona sul da cidade, mantém uma teia de influência sobre administradoras de creches terceirizadas na região e é alvo de inquérito da polícia sobre a relação de políticos com essas entidades gestoras.

Além disso, ele foi acusado pela própria esposa de violência doméstica, ameaça e injúria em 2011. Ela prestou queixa, mas não seguiu com o processo. Os dois continuam casados e hoje ela nega ter sido agredida.

Os dois casos têm sido explorados por Boulos e seus partidários em correntes na internet, entrevistas e também no debate de quinta-feira (19) feito pela TV Band. Covas tem defendido o vice dizendo que ele não responde a nenhum processo, que não há indício de favorecimento a ele e que sua proximidade com empresas na região é natural do cargo de vereador.

Outra quebradiça vidraça de Covas é seu padrinho político João Doria. Datafolha aponta que 60% dos paulistanos dizem que jamais votariam em alguém apoiado pelo governador. O candidato à reeleição só virou prefeito porque entrou em uma chapa como vice de Doria, que deixou o cargo após 15 meses para disputar a eleição para o governo.

Doria ficou escondido no primeiro turno da campanha de Covas e foi ignorado na propaganda de TV, o que foi questionado por todos os adversários do prefeito, que se defendeu dizendo que Doria não poderia largar a funções de governador para entrar na campanha.

Como resposta às críticas, no entanto, Doria estava ao lado de Covas no primeiro discurso após o resultado do primeiro turno, no domingo (15).

A ligação com Doria se tornou ainda mais desconfortável agora que Boulos tem explorado o BolsoDoria, slogan que o governador usou para se eleger em 2018 quando se colocou como um representante do bolsonarismo em São Paulo.

Boulos tem recuperado esses momentos e seus partidários resgataram uma foto que o prefeito tirou ao lado do presidente Bolsonaro. Na última quinta, o prefeito reagiu e afirmou que “o presidente Jair Bolsonaro que trate do Rio de Janeiro, não tem nada que se envolver aqui em São Paulo, não tem nenhum candidato aqui que seja alinhado ideologicamente a ele”, disse.

O candidato do PSOL, por sua vez, também tem sido atacado pelo apoio que recebeu de Lula, condenado por corrupção, e do PT.

Datafolha de outubro aponta que 54% dos paulistanos não votariam em um candidato apoiado pelo ex-presidente, de quem Boulos se aproximou especialmente nas mobilizações contra a prisão do petista em 2018 —isso tem sido usado por Covas, que já afirmou não ter subido no palanque para defender Bolsonaro da prisão, como fez o adversário.

Além disso, o apoio do PT também jogou no colo de Boulos questionamentos sobre a gestão do partido no governo federal e sobre a administração Fernando Haddad (2013-2016) na prefeitura, que foram usados por Covas por exemplo no debate da Band.

Covas questionou o psolista sobre por que o PT acabou com o programa Mãe Paulistana e afirmou que Boulos poderia “retroceder para o jeito de governar do PT”, que criou 40 estatais no governo federal, disse o tucano.

O prefeito criticou ainda a falta de menções do programa de Boulos à Operação Delegada, da Polícia Militar, espécie de bico oficial feito por convênio com a prefeitura em que agentes patrulham as ruas da cidade mesmo nas suas folgas. Segundo Covas, a única menção à PM é para chamá-la de genocida.

Outra vidraça do candidato psolista é a atuação do MTST em protestos, que por vezes acabou em depredações, como à sede da Fiesp em protesto contra a PEC do teto dos gastos em 2016. Além disso, o próprio Guilherme Boulos é réu sob acusação de vandalismo na desocupação do Pinheirinho, terreno em São José dos Campos, em 2012.

Folhapress
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