Foto: Divulgação
Ignacio Ybáñez afirmou que a preocupação com a sustentabilidade é genuína e que a negociação sobre o tratado só será levada aos parlamentos dos países europeus quando houver dados concretos de redução do desmatamento 02 de dezembro de 2020 | 17:21

Embaixador da UE condiciona acordo com Mercosul à redução do desmatamento na Amazônia

mundo

O Brasil ainda precisa recuperar a confiança de outros países na área ambiental para destravar o acordo entre Mercosul e União Europeia, afirmou o embaixador da UE no País, Ignacio Ybáñez, ao Estadão/Broadcast. De acordo com ele, o governo do presidente Jair Bolsonaro deu sinais positivos recentemente. A negociação, porém, só vai ser levada para aprovação nos parlamentos dos países envolvidos quando houver dados concretos de redução do desmatamento na Amazônia.

“Recebemos uma resposta muito positiva do governo brasileiro indicando compreender nossa preocupação e que estariam preparados para estabelecer garantias”, afirmou Ybáñez. “Queremos que isso seja feito o mais rápido possível, mas temos que recriar as condições de confiança, que agora mesmo não existem. É bom ter o senso de urgência, mas temos que ser cautelosos.”

Por enquanto, os dados mostram que o desmatamento da Amazônia teve alta de 9,5% no último ano e voltou a atingir a maior taxa desde 2008, segundo estimativa divulgada no início da semana pelo próprio governo. De acordo com o embaixador, o Brasil precisa comprovar com números que os índices de desmatamento regrediram à tendência observada antes de 2018, quando o aumento da devastação se intensificou.

Na próxima semana, a Delegação da União Europeia no Brasil fará uma conferência com representantes do governo brasileiro e empresas na tentativa de envolver esses setores na implementação do acordo e alertar sobre a importância do desenvolvimento sustentável nos negócios, justamente em função dos dispositivos negociados entre os dois blocos econômicos. O evento será nos dias 8 e 9 por videoconferência.

O acordo entre Mercosul e União Europeia foi fechado em junho de 2019, mas ainda depende de uma revisão final no texto e de aprovação de todos os países envolvidos. A escalada do desmatamento na Amazônia freou a negociação e foi criticada internacionalmente. A União Europeia diz ter urgência na consolidação, mas decidiu adotar cautela esperando dados concretos do Brasil sobre o desmatamento para evitar que o acordo seja rejeitado em algum país, o que impediria a implementação.

Na última sexta-feira, 27, o vice-presidente da Comissão Europeia para área do comércio, Valdis Dombrovskis, se reuniu com o vice-presidente Hamilton Mourão, coordenador do Conselho Nacional da Amazônia, para expressar o posicionamento do bloco.

A postura de Bolsonaro na área ambiental é criticada internacionalmente. Recentemente, o presidente brasileiro pediu para não ser chamado de “inimigo do meio ambiente”. Por outro lado, acusou países de importar madeira ilegal do Brasil e apontou interesses comerciais no agronegócio como o motivo da pressão internacional.

“É bom que o governo brasileiro e o conjunto da sociedade brasileira não vejam que essas críticas (contra o Brasil) têm uma justificação protecionista. Há protecionistas dentro da União Europeia e setores que podem não gostar do acordo, mas a preocupação com a sustentabilidade é genuína”, afirmou Ybáñez.

Para o embaixador, é possível consolidar o acordo durante o mandato de Bolsonaro, mas a negociação precisa ser considerada para além dos governantes de plantão. O pensamento da equipe econômica para a abertura comercial, enfatizou, impulsiona as conversas. “O acordo tem que ser feito entre países e povos, não entre políticos.”

Estadão
Comentários