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Pelo que seria o plano do governador, ele passaria o bastão a João Leão, concorreria ao Senado e empurraria Otto Alencar para concorrer ao governo numa chapa da qual Jaques Wagner, naturalmente, estaria fora 15 de janeiro de 2021 | 13:09

Com nomeação de Leão para Casa Civil, Rui sinaliza que pode concorrer ao Senado em 2022, matando projeto de Wagner de voltar ao governo

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A decisão do governador Rui Costa (PT) de colocar o vice-governador no centro da máquina estadual, escolhendo-o para seu chefe da Casa Civil, não só pegou o senador Jaques Wagner (PT) de surpresa como confirmou a existência do que era até agora apenas um alegado racha político entre os dois, representado hoje pela possibilidade de o chefe do executivo deixar o governo para concorrer às próximas eleições estaduais (possivelmente ao Senado), abrindo mão de nove meses de gestão para João Leão (PP).

A Casa Civil é considerada o coração do governo, de onde emanam as principais decisões políticas da administração, escolhem-se e implementam-se os mais importantes projetos governamentais e se pode, além de influir decisivamente na gestão, obter um panorama completo dela. Foi a pasta escolhida pelo então governador Jaques Wagner para alocar o à época deputado federal Rui Costa em seguida à sua decisão de escolhê-lo para seu sucessor no governo contra a vontade de várias correntes do PT.

A escolha de Leão à posição pode significar que Rui o prepara para sucedê-lo como resultado de uma virtual decisão de se afastar do governo para disputar as eleições estaduais, em posição que ainda não definiu, mas cujas projeções mais constantes apontam para a vaga de senador a que a Bahia terá direito em 2022, quando encerrará o mandato de Otto Alencar (PSD). A interrupção do mandato do governador desagrada profundamente a Wagner, que não disfarça a insatisfação de correligionários próximos.

Em campanha aberta ao governo do Estado, o senador tem feito a ressalva de que só tentará disputar a sucessão se Rui levar o governo até o fim. Alega um motivo simples: não vê como dois representantes do PT, um partido que completará 16 anos no comando do governo em 2022 e, portanto, já enfrenta os desgastes decorrentes do que os políticos costumam chamar de “fadiga de material”, poderão ocupar uma chapa com três vagas. Para completar, Otto diz não abrir mão de querer voltar ao Senado.

Mas Rui parece menos fechado com o projeto de Wagner de assegurar uma sobrevida ao PT no comando do Estado do que com seus planos políticos pessoais. Justificamente, aliás, o governador teme a idéia de ficar sem mandato se levar a gestão até o final. O que não seria exatamente um problema para um político profissional normal é visto como um desafio intransponível para Rui. Em seis anos de governo, ele não conseguiu construir um grupo político nem parece ter amigos que pudessem sustentá-lo até o momento de concorrer a um novo cargo eletivo.

Além disso, é alvo de muita raiva dos aliados, alguns dos quais devaneiam com a ideia de vê-lo fora do poder para, como se diz entre eles, pegá-lo na esquina. Assim, se não conquistar um mandato em seguida ao término da gestão, deve simplesmente desaparecer para nunca mais retornar à política. Por esta razão, o governador consideraria que o caminho mais viável para ele é deixar Leão governando, concorrer ao Senado e empurrar Otto Alencar para a cabeça de chapa disputando o governo da Bahia.

Para os que alegam que ele mataria Wagner com o plano, Rui responde que não teria preocupação com o líder petista porque, em 2022, o senador estará chegando apenas ao meio do seu mandato. Na avaliação de alguns poucos prefeitos com que o governador conversa, há ainda um outro elemento que desencorajaria Rui de atender a um apelo de Wagner para concluir a administração no governo. Ele não confia em que o senador tenha chances de vencer o democrata ACM Neto daqui a dois anos.

Avalia, pelas informações que lhe chegam com facilidade pelo fato de ser governador do Estado, que o nome de Wagner é percebido pelo eleitorado como ‘velho’ e um retorno ao que já se viu, principalmente diante do frescor da eventual candidatura de Neto. Otto, por outro lado, embora regule a mesma geração do colega de Senado, nunca foi governador e ainda compartilharia de uma faixa do mesmo eleitorado do democrata, já que nasceu da mesma matriz política do neto de ACM.

“Quem diz que Rui deve levar o governo até o final esquece, por exemplo, que Wagner pode, eventualmente, perder a eleição. E aí, como ficaria o governador? Será que não é uma reflexão legítima para o governador fazer?”, questiona a este Política Livre um político que, nas últimas duas semanas, passou a dialogar mais frequentemente com Rui por causa da sucessão na presidência da Assembleia Legislativa e pode ter sido responsável pela decisão do governador de, ao invés de romper com Leão, trazê-lo para dentro do governo.

Na verdade, Rui acabou dando um cavalo de pau no que as articulações políticas do governo apontavam em relação a Leão porque, segundo esta mesma fonte, já se havia detectado um desejo de Wagner de levá-lo ao rompimento com o PP do vice-governador. Se a estratégia do senador do PT fosse consumada, Rui acabaria se afastando de Leão, o que bloquearia qualquer possibilidade de entregar o governo nas mãos do líder progressista, atendendo ao desejo do ex-governador petista de obrigá-lo a ficar na gestão até o final.

A sensação de que Rui atuou abertamente para desmontar a bomba de um afastamento com o PP, enquadrando Wagner, tornou-se mais forte na medida exata em que ele chamou Leão para ajudá-lo praticamente da cozinha do governo, principalmente num momento em que o partido do vice-governador já havia praticamente se rendido à ideia de que precisava recuar, retirar o nome do deputado Niltinho e compor com a candidatura de Adolfo Menezes (PSD) para a presidência da Assembleia, como acabou acontecendo para a pacificação da base.

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