Foto: Stephanie Keith/Getty Images
Enrique Tarrio nega crime de ódio; apoiadores de Trump, Proud Boys preparam protesto contra vitória de Biden 05 de janeiro de 2021 | 12:06

Líder de grupo de extrema direita dos EUA é preso por queimar bandeira de movimento negro

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O líder do grupo americano de extrema direita Proud Boys foi preso nesta segunda-feira (4) em Washington por queimar uma bandeira do movimento antirracista Black Lives Matter, roubada de uma igreja durante protestos ocorridos em dezembro.

A prisão de Enrique Tarrio, 36, ocorre enquanto a capital americana se prepara para as manifestações esperadas nesta semana, favoráveis e contrárias à certificação pelo Congresso americano da vitória eleitoral de Joe Biden marcada para esta quarta-feira (6).

Tarrio foi detido pelas autoridades pouco depois de chegar a Washington vindo de Miami, onde mora, sob acusação de destruir a propriedade da Igreja Metodista de Asbury, uma congregação protestante majoritariamente negra em que o líder dos Proud Boys incendiou uma bandeira em 12 de dezembro. Nos atos daquele dia, ao menos uma pessoa foi baleada e quatro pessoas foram esfaqueadas.

Segundo a polícia, Tarrio também será indiciado por portar, no momento de sua prisão, dois carregadores de uma arma de alto calibre considerada ilegal. Ele deve comparecer nesta terça a uma audiência no Tribunal Superior do Distrito de Columbia.

O dano à propriedade das igrejas pode ser punido com multa de US$ 1.000 (R$ 5.345) e seis meses de prisão, mas se a Justiça entender que os atos do Proud Boys foram crimes de ódio, Tarrio pode receber penas mais rigorosas.

Em outro processo judicial divulgado nesta segunda, o líder e outros membros do grupo foram acusados ainda pela Igreja Episcopal Metodista Africana Metropolitana, também composta por uma maioria de membros afro-americanos, por roubar e queimar bandeiras durante protestos.

“A conduta dos Proud Boys em Washington é um novo capítulo perigoso na longa ee terrível história de violência dos supremacistas brancos contra os templos negras”, afirmou a igreja em um comunicado.

Em entrevista ao Washington Post no mês passado, Tarrio admitiu que queimou cartazes do movimento negro, mas negou que seus atos tenham sido motivados por questões de raça, religião ou ideologia política. Sua justificativa foi de que o grupo Black Lives Matter “tem aterrorizado os cidadãos do país”.

Considerado um dos mais fiéis apoiadores de Donald Trump, o grupo de extrema direita liderado por Tarrio tem reproduzido a narrativa sem evidências segundo a qual o atual presidente foi vítima de uma fraude generalizada na eleição para a Casa Branca e organizou protestos para esta quarta-feira na capital americana.

Antecipando a possibilidade de conflitos durante as manifestações contra a certificação da vitória de Biden, a prefeita de Washington, Muriel Bowser, solicitou apoio de 340 soldados da Guarda Nacional do Exército —número equivalente a 15% do total de tropas do Distrito de Columbia, onde fica a capital americana.

Segundo as autoridades, os soldados assumirão postos estratégicos já nesta teça-feira e devem permanecer em Washington até pelo menos quinta-feira (7), com a missão de ajudar a controlar o tráfego e proteger as ruas.

“A Guarda Nacional do Distrito de Columbia desempenha um papel de apoio ao Departamento de Polícia Metropolitana, o que permitirá que eles forneçam um ambiente seguro para que nossos cidadãos exerçam seu direito de manifestação da Primeira Emenda [trecho da Constituição americana que trata da liberdade de expressão]”, disse William Walker, general comandante das tropas do distrito.

Em junho, durante a onda de protestos que se espalharam por centenas de cidades americanas após o assassinato de George Floyd, Trump defendeu uma resposta militarizada aos atos violentos, e tropas da Guarda Nacional foram acionadas para conter os manifestantes.

Autoridades do Pentágono temem que o republicano queira repetir a ação nesta semana, usando a agitação civil como pretexto para convocar mais tropas e adicionar elementos de instabilidade a sua narrativa de que as eleições foram fraudadas e o Congresso não deveria ratificar seu resultado.

Para isso, Trump poderia recorrer à Lei de Insurreição, que permite que um presidente envie tropas da ativa para conter distúrbios a despeito das objeções dos governadores.

A possibilidade do uso político do contingente militar em disputas eleitorais foi alvo de crítica de dez ex-secretários de Defesa dos EUA que assinaram, no último domingo (3), uma carta aberta publicada no jornal Washington Post.

“Os esforços para envolver as Forças Armadas na resolução de disputas eleitorais nos levariam a um território perigoso, ilegal e inconstitucional”, diz um trecho do artigo. “Tais medidas seriam responsáveis, incluindo potenciais penalidades criminais, pelas graves consequências de suas ações em nossa República.”

Seus autores representam todos os ex-secretários ainda vivos que ocuparam o cargo —incluindo Mark Esper, que integrou o governo do republicano até 9 de novembro, quando foi demitido depois de uma série de desentendimentos com Trump, como justamente no caso do uso de tropas militares para reprimir protestos antirracismo no ano passado.

Folha de S. Paulo
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