Foto: Dida Sampaio/Estadão
O presidente do Banco do Brasil, André Brandão 26 de fevereiro de 2021 | 17:01

André Brandão, presidente do BB, coloca o cargo à disposição após crise com Bolsonaro

economia

Há apenas cinco meses no cargo, o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, tem sinalizado a pessoas próximas que quer deixar o comando da instituição, após ter sido alvo de ameaça de demissão pelo presidente Jair Bolsonaro. Os rumores quanto à sua possível saída pesam nas ações da estatal, que apresentam queda de mais de 3% na tarde desta sexta-feira, 26.

Desde o início do ano, Brandão tem passado por um processo de fritura por parte do Palácio do Planalto. A crise começou com o anúncio de reestruturação no BB, com medidas que envolvem o fechamento de 112 agências e o desligamento de 5 mil funcionários, por meio de programas de demissão voluntária.

À época, Bolsonaro foi pressionado por parlamentares em razão do plano do banco e, com receio de desgastes políticos, ameaçou demitir Brandão. O executivo, contudo, foi salvo pela equipe econômica do governo, liderada pelo ministro Paulo Guedes, que reuniu esforços para manter Brandão, chamado para assumir o banco justamente com a missão de tocar uma agenda de desinvestimentos e de enxugamento da estrutura.

Superado esse momento inicial, Brandão disse em coletiva de imprensa, para comentar os resultados mais recentes do banco, que tudo não havia passado de um problema de comunicação. Ele contou que havia se reunido com Bolsonaro, mas afirmou que o presidente parecia ter compreendido o plano. Disse ainda que pretendia explicar pessoalmente as medidas, assim que a agenda do presidente permitisse.

Quando tudo parecia ter voltado aos trilhos, Brandão se viu novamente na berlinda nesta semana, após uma crise iniciada em outra estatal, a Petrobrás. Insatisfeito com a política de preços da petroleira, Bolsonaro decidiu tirar Roberto Castello Branco do comando da companhia e anunciar para o seu lugar o general da reserva Joaquim Silva e Luna, mais um militar convocado para ocupar um posto de alto escalão.

No último fim de semana, já depois de ter realizado a troca na Petrobrás, Bolsonaro indicou que não pararia por aí e que outras mudanças seriam anunciadas em estatais ao longo desta semana. O nome de Brandão, com isso, voltou a ser colocado como um possível demitido, principalmente, pelo Centrão, que está de olho no cargo.

O roteiro se repetiu. As ações da empresa despencaram, com o BB chegando a perder mais de R$ 10 bilhões em valor de mercado, na última segunda-feira, 22, mas nenhum anúncio foi feito. O silêncio foi lido pelo mercado como um respiro. Na quinta-feira, 25, o diretor financeiro do BB, Carlos André, teve uma reunião com analistas, que rendeu uma série de relatórios sobre o banco. O temor quanto à saída de Brandão, contudo, foi um dos destaques dos documentos.

Em uma tentativa de acalmar os ânimos, Brandão passou a semana em Brasília – geralmente, o executivo despachava de São Paulo. No entanto, ele já teria retornado. Por sua vez, outros integrantes da alta cúpula do BB cancelaram viagens a São Paulo de última hora, apurou o Estadão/Broadcast.

Segundo fontes, a paciência de Brandão está perto do fim e a situação para sua permanência é quase que “impossível”. “Há limites em todo processo de fritura”, diz uma fonte próxima à equipe econômica.

Com a possibilidade da saída de Brandão cada vez mais próxima, outros nomes já são especulados no mercado. Dentre eles, conforme fontes, está o de Gustavo Montezano, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outra saída, afirmam, é o Planalto promover um dos vice-presidentes do BB. Vale lembrar, porém, que o Centrão cobiça – e muito – a cadeira.

Procurado, o BB não comentou.

Estadão Conteúdo
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