Foto: Jim Lo Scalzo/Agência EFE
Os poucos republicanos que ousaram desafiar a força do ex-presidente já sofrem retaliações da base do partido 21 de fevereiro de 2021 | 18:20

Ex-presidente Trump sobrevive para ter nova chance

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A denúncia do senador republicano Mitch McConnell contra Donald Trump, em 13 de fevereiro, foi tão fulminante quanto inesperada. Apesar de ter votado ao lado dos seus 42 colegas republicanos pela absolvição de Trump, acusado de incitar uma insurreição em 6 de janeiro, o líder republicano no Senado sugeriu que ele era culpado. “O presidente Trump é praticamente responsável, prática e moralmente, por provocar os eventos daquele dia”, disse.

Os responsáveis pelas manchetes na imprensa imediatamente rotularam isso como o início de “uma guerra civil republicana”. Mas, se McConnell e os tradicionais conservadores entraram de fato nessa guerra, eles estão num estágio pré-Valley-Forge – local na Pensilvânia onde ocorreram as batalhas lideradas por George Washington pela independência dos EUA.

A absolvição de Trump foi uma medida mais acurada do seu comando do campo republicano. O processo impetrado contra ele pelos democratas da Câmara, liderados pelo deputado Jamie Raskin, de Maryland, foi devastador.

As cenas de vídeo que apresentaram, retratando a atitude demagógica de Trump e a violência que provocou foram tão horríveis que levou alguns republicanos às lágrimas. O fato de somente sete deles terem a coragem de se unir à bancada democrata, votando contra Trump, sugere que o poder do impeachment agora se acabou.

Esses sete senadores republicanos honrosos, é preciso dizer, até certo ponto estão todos protegidos contra a ira de Trump. Bill Cassidy e Bem Sasse foram reeleitos recentemente. Richard Burr e Pat Toomey estão se aposentando. Susan Collins, do Maine, Lisa Murkowski, do Alasca, e Mitt Romney , de Utah, têm um apelo em seus respectivos Estados que os torna excepcionalmente resistentes às intimidações de Trump.

Futuro político

Os 43 republicanos que votaram para dar ao ex-presidente uma “segunda chance”, que Mike Lee, de Utah, alegou que ele merecia, foi mais um tecnicismo. Eles afirmaram que um ex-presidente não pode ser submetido a um impeachment, uma opinião desmentida por muitos, se contrapõe a vários pareceres jurídicos e também vai contra um precedente estabelecido por uma votação anterior no Senado.

Essa maioria republicana é composta por praticamente todos os conservadores com ambições presidenciais, incluindo Marco Rubio e Tim Scott, mas também marionetes dedicadas a Trump, como Ted Cruz e Josh Hawley. Ao que parece nenhum deles pretende ir contra o trumpismo. Todos estão apostando em ser um pós-Trump, não um anti-Trump.

Pesquisas feitas com eleitores republicanos respaldam os seus cálculos. Mais de 80% ainda apoiam Trump; mais da metade desses eleitores afirma que ele fez todo o possível para conter a insurreição. Por outro lado, a reação contra os sete republicanos que votaram contra Trump tem sido cruel.

Richard Burr, Bill Cassidy e Bem Sasse foram censurados pelos diretórios estaduais do partido. “Estou obtendo muito feedback das pessoas, dizendo que a única razão pela qual apoiaram o senador Cassidy foi porque ele teve o apoio de Trump”, afirmou Blake Miguez, líder republicano no Legislativo do Estado da Louisiana. “Prevejo que seus próximos cinco anos serão os mais miseráveis jamais vividos por um senador da Louisiana.”

Bill Cassidy, médico e cristão fervoroso, procurou apaziguar seus aliados explicando que, contrariamente ao que teriam ouvido, Trump foi declarado culpado das acusações. Mas sem comemorações.

McConnel, embora tentado a votar contra Trump, pareceu ter concluído que isso acabaria com suas chances de retornar ao posto de líder da maioria, em 2023, e suas críticas ao presidente foram como se ele tentasse conciliar ambas as coisas.

Tudo indica que o tiro saiu pela culatra. Em 16 de fevereiro, Trump fez uma declaração atacando McConnell, chamando-o de “político severo, ranzinza e não muito sorridente”, ameaçando tirá-lo do posto de líder do Senado. Poderia ter sido pior para o político veterano de Kentucky. Trump teria cortado alguns insultos adicionais da sua declaração por insistência dos seus assessores, incluindo uma afirmação de que McConnell era “muito papudo”.

Estadão
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