Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Barra Torres 12 de maio de 2021 | 06:37

Crítica a falas negacionistas de Bolsonaro, cloroquina, protesto; veja 4 pontos da fala de Barra Torres na CPI da Covid

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Aliado próximo e amigo do presidente Jair Bolsonaro, o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, surpreendeu integrantes da CPI da Covid nesta terça-feira (11) ao criticar as falas e ações negacionistas do chefe do Executivo e pedir para que ninguém siga suas orientações.

Barra Torres também confirmou a tentativa de alterar, por meio de um decreto presidencial, a bula da hidroxicloroquina, com objetivo de ampliar o seu uso para que pudesse ser usada no tratamento da Covid.

O presidente da agência ainda afirmou à comissão do Senado ser contra a indicação da droga contra o coronavírus. O medicamento não tem eficácia comprovada para tratar a doença.

Veja, abaixo, quatro pontos do depoimento.

Logo no início da sabatina, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) citou uma série de declarações de Bolsonaro contrárias às vacinas, em especial à Coronavac, segundo as quais a imunização não seria obrigatória em seu governo.

O presidente da Anvisa respondeu a Renan que essas falas de Bolsonaro iam contra tudo o preconizado pela agência.

“Todo o texto que vossa excelência leu e trouxe à memória agora vai contra tudo o que nós temos preconizado em todas as manifestações públicas, pelo menos aquelas que eu tenho feito e aquelas de que eu tenho conhecimento, que os diretores, gerentes e funcionários da Anvisa têm feito”, afirmou.

Barra Torres acrescentou que, mesmo com a imunização, as pessoas não devem abrir mão de uso de máscaras e álcool em gel, além de seguir respeitando o isolamento social.

Além das vacinas, Bolsonaro também se manifesta constantemente contra essas medidas.

“Eu penso que a população não deve se orientar por condutas dessa maneira. Ela deve se orientar por
aquilo que está sendo preconizado, principalmente pelos órgãos que têm linha de frente no enfrentamento da doença”.

Barra Torres também foi questionado sobre sua participação em uma manifestação política em Brasília, em 15 de março de 2020, com aglomeração de pessoas em frente ao Palácio do Planalto.

O diretor-presidente da Anvisa explicou que foi naquele dia ao local apenas para um encontro com o presidente, que depois decidiu ir aproximar dos apoiadores. O militar disse se arrepender do episódio.
“É óbvio que em termos da imagem que isso passa, hoje tenho plena ciência de que, se pensasse mais cinco minutos, eu não teria feito, até porque esse assunto não era nenhum assunto que necessitasse de uma urgência para ser tratado”, afirmou.

Barra Torres confirmou que houve uma reunião no Planalto em que se discutiu a publicação de decreto presidencial para alterar a bula da hidroxicloroquina, para que pudesse ser usada contra a Covid. O presidente da Anvisa ainda disse desconhecer de quem seria a autoria do documento –ao qual ele se opôs– mas indicou que a médica Nise Yamaguchi, próxima de Bolsonaro, parecia estar “mobilizada” em seu favor.

“A minha posição sobre o tratamento precoce da doença não contempla essa medicação [hidroxicloroquina], por exemplo (…)”, disse.

Qual foi o maior gasto com esses remédios? Foi para a aquisição de Tamiflu, no valor de R$ 125 milhões. O Ministério da Saúde comprou 28 milhões de cápsulas do medicamento.

Como a Folha mostrou, a pasta decidiu apostar no remédio, dentro da estratégia de combate à Covid-19, com o argumento de que a droga seria necessária para evitar superlotação de hospitais por síndromes respiratórias decorrentes do vírus da gripe e do H1N1.

Somente o Ministério da Saúde foi responsável pelos gastos? Não. O Laboratório Químico Farmacêutico do Exército produziu 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina, ao custo de R$ 1,16 milhão, a partir de pedidos feitos pelos Ministérios da Saúde e da Defesa.

Quantos comprimidos foram distribuídos? Segundo o aplicativo LocalizaSUS, do Ministério da Saúde, foram distribuídos 25,4 milhões de comprimidos de Tamiflu, 5,4 milhões de doses de cloroquina e 509 mil de hidroxicloroquina na pandemia.

Os medicamentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde são eficazes? Esses remédios são usados há décadas para outros objetivos, mas foram descartados pela comunidade científica e médica para o tratamento da Covid-19 por não demonstrarem capacidade de barrar o novo coronavírus, prevenir a doença ou tratá-la.

Todos os ministros da Saúde do governo Bolsonaro concordaram com as políticas de enfrentamento à Covid? Não. Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich deixaram a pasta por desentendimentos com o presidente.

Teich entregou o cargo antes de completar 30 dias à frente do ministério, após receber ultimato de Bolsonaro para defender o uso da cloroquina. Ele foi substituído pelo general da ativa Eduardo Pazuello , que seguiu à risca o receituário do presidente.

Folhapress
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