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Em entrevista exclusiva a este Política Livre, o Coronel Humberto Sturaro declarou que pretende "ser a voz" da corporação 13 de junho de 2021 | 09:51

Defensor de Roma para 2022, ex-comandante diz que bolsonarismo existe tanto quanto petismo na PM

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Provável candidato à Câmara Federal, ex-comandante da Polícia Militar da Bahia e coronel da reserva Humberto Sturaro garante, em entrevista exclusiva a este Política Livre, que torce pela candidatura do ministro João Roma (PRB) ao Governo do Estado em 2022, a quem pretende apoiar para ocupar, pela primeira vez, um cargo político.

Sturaro revelou “afinidade de ideias” com o republicano, que vem se firmando como o principal articulador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Bahia. Segundo ele, por ser novo ‘em campo’, precisa ser “abraçado”, pois as mais diversas bases políticas já parecem ocupadas. “Jamais me alinharia com alguém que não comungasse com as minhas ideias, com a minha forma de pensar, com o meu projeto”, assegurou.

“Espero que ele venha como uma terceira via para que possamos ter uma possibilidade de renovação de gestão. […] É preciso renovar. Então em busca dessa renovação e eu pretendo seguir a gestão do ministro João Roma”, antecipou.

Apesar da defesa de Roma, que poderá disputar contra o senador Jaques Wagner (PT) e o ex-prefeito ACM Neto (DEM) o Palácio de Ondina, Sturaro demonstra gratidão ao governador Rui Costa (PT). “Sempre teve o meu respeito e sempre terá”, afirma. “Em relação ao tratamento com a instituição fui testemunha de todo investimento que o governador fez e os meios que foram dados em relação à melhores condições de trabalho”, disse.

Para ele, não há “clima de ebulição” na polícia baiana. “Apesar das oscilações que vem acontecendo em relação aos índices, a Polícia Militar hoje, se ela vivesse em ebulição (política), o Estado estaria um caos, e a Polícia Militar é a solução para o caos”.

No entanto, o coronel da reserva viu a temperatura subir no recente caso envolvendo o soldado Wesley Soares, morto por colegas depois de um surto psicótico na Barra, em Salvador, no qual atirou diversas vezes para cima e contra outros PMs. Ele lamentou as manifestações políticas que surgiram no episódio.

“Não podemos dizer que aquelas pessoas que estavam cumprindo a missão ali são assassinas, como disseram. Expor a imagem do comandante-geral como foi exposta. Isso tudo só faz enfraquecer a instituição”.

Confira principais trechos da entrevista:

Política Livre: Temos assistido a uma série de explosões a agências bancárias no Estado, as quais são atribuídas ao fechamento do cerco contra o tráfico na Bahia pelo governo. Como enfrentar esse problema evitando os ataques?

Sturaro: Olha, em relação a esses ataques, o que é primordial e é onde, a meu ver, nós buscaremos e teremos resultados extremamente positivos, é a união das forças estadual e federal no que diz respeito ao serviço de Inteligência. Essas pessoas precisam ser identificadas. Se os mentores desses crimes não forem identificados sempre continuarão ocorrendo. E, principalmente, porque esses mentores intelectuais não estão aqui. Eles não convivem na periferia. Geralmente eles estão fora do nosso estado, pensando, raciocinando e indicando agências, fazendo levantamentos e passando para aquela mão de obra operacional, que são os bandidos que irão cumprir esses assaltos. Então digo que, a meu entender, é fator primordial para o resultado ser positivo o serviço de Inteligência em parceria do Estado e federação.

O governador Rui Costa é apontado como um dos gestores que foi até hoje bastante generoso com a PM, diferentemente de como tem agido com os demais servidores, sem aumentos há oito anos. Os policiais militares baianos são gratos a ele?

Eu queria deixar claro e posso falar por mim pelo tempo que passei na ativa como policial militar e saindo no posto de Coronel. O governador Rui Costa sempre teve o meu respeito e sempre terá. Isso aconteceu na primeira vez que tive um contato com o mesmo em uma reunião – nunca me esqueço disso – em um período de Carnaval, em que eu estava particularmente apreensivo com o futuro de uma tropa nossa da qual eu tinha sido comandante, a Rondesp Central, em uma ação que ela teve na Vila Matos. Nunca me esqueci disso. Onde um número significativo de pessoas que vivem à margem da sociedade trocou tiro com essas guarnições e veio a óbito. Essa guarnição foi jogada aos leões. E, naquele momento, o governador Rui Costa acreditou na instituição. Quando ele acreditou na ação do meu soldado, ali, apesar de já ter total respeito como governador e como comandante em chefe, eu vi uma significativa diferença. Então falo por mim. Em relação ao tratamento com a instituição fui testemunha de todo investimento que o governador fez e os meios que foram dados em relação à melhores condições de trabalho. Equipamento e armamento sempre. Então posso falar por mim. O governador sempre terá o meu respeito, sim. Nós sabemos das limitações, apesar de que hoje a instituição tem mais de cinco anos sem aumento. Não é fácil. Nós sabemos que não depende de uma simples caneta. Agora, não é uma coisa fácil ser comandante em chefe de uma corporação como a Polícia Militar. É difícil, independentemente de quem seja, agradar a tudo e a todos.

Que tipo de clima o senhor identifica hoje na corporação? De tranquilidade ou ebulição?

Eu não vejo nenhum clima de ebulição na instituição. Muito pelo contrário. Eu vejo o meu policial militar – posso chamar de meu porque é uma família – cada vez mais se expondo, cada vez mais trabalhando, cada vez mais tentando trazer tranquilidade para a sociedade. Muitas vezes mal interpretado porque não é fácil você trabalhar em uma atividade extremamente de risco. Existem os efeitos colaterais em relação a isso e eles não se omitem. A prova disso está no sucesso da corporação no período da pandemia. Veja que os policiais militares não foram prioridade quando o processo de vacinação começou, mas foram prioridade para que todas as determinações do governo estadual, bem como os decretos estaduais e municipais, fossem cumpridos. A Polícia Militar está presente em todos municípios do Estado. A Polícia Militar é o braço forte do Estado para que todas as ações sejam cumpridas. Infelizmente, hoje, há uma ascendência do crime, mas não é só culpa estritamente da Segurança Pública, porque todos [setores] têm que fazer parte dessa gestão da segurança. Não só as forças policiais, mas todos: o Ministério Público, a Defensoria Pública, os outros órgãos do Estado. Digo isso porque precisamos levar asfalto e iluminação, por exemplo, para lugares mais distantes. Tudo isso recai na Segurança Pública. Uma coisa que é extremamente triste: hoje, alguns marginais conseguem influenciar de dentro dos presídios para fora. Nós temos hoje os conflitos que estão acontecendo entre as quadrilhas, procurando mais espaço para o comércio das drogas. Hoje quem segura toda essa onda é a Polícia Militar. Apesar das oscilações que vêm acontecendo em relação aos índices, a Polícia Militar hoje, se ela vivesse em ebulição, o Estado estaria um caos, e a Polícia Militar é a solução para o caos.

O país assistiu recentemente a PMs exorbitando de suas funções para agir politicamente em defesa do governo de Jair Bolsonaro em Recife, onde dois trabalhadores que não participavam de manifestações contra o governo federal perderam suas visões atingidos por balas de borracha, e em Goiânia, onde um professor foi preso exclusivamente por estar criticando o presidente. O bolsonarismo chegou às PMs?

Olha, primeiro queria lamentar muito essa situação que aconteceu em Recife, porque fui forjado e criado no Batalhão de Choque. Sei como é agir e agi muito em relação ao controle de estado civil. É lamentável, mas não sei fazer nenhum tipo de comentário em relação ao companheiro de Recife, mas foi muito triste devido à utilização incorreta do elastômero. Isso não aconteceu só nessa manifestação. Em outras, no Brasil, inclusive aqui em nosso Estado, aconteceram fatos como esse. Às vezes o policial militar está ali, mas no afã, apesar de ser técnico, às vezes usa o elastômero. O engatilhamento faz com que [mude] a direção dessa bala de borracha e o alvo não seja atingido onde ele espera. E apesar de não ser um armamento letal, ele pode ser letal, sim. A depender do local atingido e da distância, devido a velocidade dessa munição. Eu vi ali uma tropa que foi acionada para o controle de distúrbio para a manutenção da ordem pública. Não posso acreditar que ela tenha sido direcionada porque era uma manifestação contra o governo federal. De forma alguma. A Polícia Militar em nosso país está acima de qualquer situação dessa. Então eu acredito que foi uma infeliz coincidência de terem sido atingidos nessa manifestação que era contra o presidente da República. Em relação ao fato de Goiânia, foi uma falta de inteligência de uma pessoa isolada que vai responder por isso. Voltando ao fato de Recife, não acredito, não pode ser, com certeza não foi. Uma tropa não é deslocada sem ordem. Alguém determinou o deslocamento daquela tropa. O policial não agiu isoladamente. Ele foi cumprir uma missão, apesar de ser responsável pela utilização daquele armamento, e vai responder por isso, agora alguém determinou. Se alguém determinou foi alguém que com certeza está acima da instituição, porque o comandante geral não iria – e eu posso falar isso – agir de forma isolada. Eu não posso acreditar também que algumas pessoas que estejam abaixo do comandante tenham agido sem o conhecimento do mesmo. Em relação ao bolsonarismo na PM, eu digo que o bolsonarismo é hoje como foi um carlismo, como são os petistas, como são as pessoas que têm preferências de partido. Existem pessoas que se identificam mais com algumas ideologias políticas do que outras. Agora, essas ideologias são pessoais. Elas jamais poderão ser institucionais.

Na PM da Bahia o bolsonarismo existe?

Existe, sim. Claro. Como existe também a linha que é favorável ao governo do PT. Identifico o bolsonarista como aquele que se identifica com a gestão do presidente da República. Não só na PM, como em todas as instituições. Então as pessoas se alinham, como falei antes, mais em uma identificação política do que em outras. Nós tivemos hoje um exemplo da nossa Major Denice, que foi candidata pelo PT. Existe na corporação vários seguidores dela também. O que falo mais uma vez é que, independentemente de escolhas pessoais, políticas isso não se reflete à gestão da instituição. A instituição tem que ser fiel ao seu comandante em chefe, independentemente de que cor seja a sua bandeira partidária, porque foi ele que foi eleito democraticamente para reger o Estado. É dessa forma que eu enxergo.

É possível dizer que nós vimos uma espécie de ensaio de ebulição no episódio da morte do PM Wesley Soares, cujo surto bolsonaristas tentaram manipular atribuindo-o a uma suposta revolta sua com o lockdown?

É possível, sim. Eu enxergo dessa forma. Nessa situação houve uma oportunidade para as pessoas terem mais visibilidade. Uma situação extremamente triste, lamentável. Dói muito tocar nesse assunto até hoje porque é muito difícil. Eu falo porque eu tenho muitas horas de fuzil na mão e digo que gerenciar uma crise envolvendo um próprio companheiro – esse companheiro fardado – você vê ali uma situação muito triste, de as pessoas se aproveitarem desse momento para fazer ligações polític0-partidárias. Ali é um momento de dor. Claro que essa situação com certeza foi várias vezes e será ainda analisada, agora as consequências e as respostas do que realmente aconteceu, as apurações e a perícia trarão. O que não permito e o que me deixa triste como policial militar é ver nesse momento como tentam jogar um companheiro contra os outros. Não podemos dizer que aquelas pessoas que estavam cumprindo a missão ali são assassinas, como disseram. Expor a imagem do comandante-geral como foi exposta! Isso tudo só faz enfraquecer a instituição. Então, houve ebulição, sim. E falou muito bem. Foi apenas um ensaio porque a instituição é muito mais forte do que isso.

Como evitar que a PM se torne um campo aberto para manipulações políticas ou a adesão a líderes políticos?

Primeiro, eu, mais uma vez, afirmo que a instituição da Polícia Militar não tem bandeira partidária. Ela é fiel ao seu comandante em chefe. O que é o comandante em chefe? O governador do Estado. Independentemente, mais uma vez, da sua bandeira política, porque ele foi eleito democraticamente pelo povo. Ele representa o povo, está de forma legal e na hora que eu entro na instituição eu sei que o meu compromisso é com o Estado, não com partidos. Por isso que eu também me preocupo muito com isso, que as manifestações políticas entrem nos quarteis. No quartel estamos ali para servir à sociedade, de forma a fazer um policiamento preventivo e ostensivo, porque quem sofre com tudo isso é ela. Foi assim que eu sempre rezei a minha cartilha. Agora nós podemos, sim, tentar evitar isso revendo cada vez mais o nosso estatuto do policial militar, onde ele pode ser fortalecido para que esses tipos de situações não ocorram dentro da instituição.

Que tipo de mensagem o senhor daria para o atual comando da PM?

Primeiro, o currículo do Coronel Paulo Coutinho fala por si. Foi escolhido pelo governador porque tem capacidade para isso. Sabe muito bem gerenciar os problemas da instituição porque passou por muitas funções, principalmente por funções extremamente delicadas da parte operacional. Tem conhecimento de como se age nas situações políticas porque também já serviu na Casa Militar. É extremamente capaz. A mensagem que digo ao mesmo é que não falte paciência, sabedoria e que ele saiba pelo tempo que vem pela frente ter paciência para engolir os sapos que virão. Que ele busque cada vez mais ser extremamente assessorado pelo seu colegiado, que confie nos seus pares para que a sua gestão seja cada vez mais fortalecida. Saiba que ele tem todo o respeito daqueles que estão tanto no comando da ativa como particularmente daqueles que se encontram na reserva. Se nós tivermos sempre um comandante forte a instituição estará forte.

Por que pretende lançar o seu nome em 2022?

Eu queria deixar claro que quando pensei em ter coragem de dar um passo para essa nova tentativa de carreira política eu esperei os meus 36 anos de carreira. Eu cumpri toda a minha missão para que eu pudesse na reserva ter liberdade de escolha. Eu, se pensasse o contrário, se não quisesse ter essa liberdade de escolha e respeito ao meu comandante e ao governador do estado em épocas passadas, eu poderia sair candidato e, eleito ou não, eu poderia voltar para a instituição. Mas quando saísse candidato eu teria que escolher o exemplo a seguir e aquele viés político que mais se assemelhasse às minhas ideias. A situação de sair candidato a um cargo público ele veio de uma junção de ideias, principalmente de quem estava na metade da base para baixo, bem como as pessoas que admiravam e admiram muito o meu trabalho. Então eu vi a oportunidade de, politicamente, poder fortalecer e proteger a instituição de algumas práticas e algumas interferências políticas. Vi também – por conhecer bem – a possibilidade de ser a voz da instituição no momento em que ela não pode se manifestar devido ao seu regime que é forjado na hierarquia e na disciplina. Eu pretendo ser essa voz, sempre buscando o bem institucional. Mas eu não gostaria de ser eleito só pensando na minha instituição. Eu gostaria de ser eleito um dia, principalmente, por entender que se for eleito eu estarei em um cargo público.

Em qual exemplo de político se espelha?

Sempre tive ídolos, de pessoas que sempre convivi e de todos os lados partidários. Posso dizer que sempre admirei qualidades muito fortes do nosso eterno Antônio Carlos Magalhães. Sempre tive exemplo de política que foi levado por meu pai na época do nosso ex-governador Lomanto Júnior. Admiro a postura e a coragem do deputado Paulo Câmara. Admiro, sim, também o poder de negociação e o jeito de lidar do nosso senador Jaques Wagner. Os exemplos são de vários partidos. Todos têm qualidades e têm defeitos. Admiro muito o nosso deputado federal e hoje ministro João Roma, como admiro muito a gestão e as ideias principalmente durante a pandemia do prefeito ACM Neto, dessa modalidade de gestão que ele teve com o governo de Rui Costa. Só não acho justo as pessoas de oposição não terem espaço. Agora eu tenho me inspirado ultimamente no ministro João Roma porque em tão pouco tempo ocupou uma posição tão delicada e está fazendo um excelente trabalho. Admiro o ministro João Roma porque sempre vi nele lealdade, disciplina, fidelidade e aconselhamento pelo o que eu pude ver algumas vezes ao então prefeito na época ACM Neto. Sempre foi um fiel escudeiro do prefeito ACM Neto. Leal, dedicado, extremamente inteligente e humilde. Então hoje o meu espelho político, principalmente no que se passa na questão da articulação eu olho para frente e gostaria de seguir os caminhos do ministro João Roma. Não posso deixar de citar o deputado e secretário Nelson Pellegrino, uma pessoa extremamente receptiva, humilde, educadíssima e extremamente sensata. Em todos esses eu sempre busquei ver o lado positivo. Todos. Então veja que admiro a vários.

Dentre os nomes colocados na disputa ao governo, temos ACM Neto, Jaques Wagner e João Roma. Em qual via o senhor pretende marchar?

Se eu tiver espaço para a minha candidatura esse espaço só será retificado através dessa terceira via do ministro João Roma. Primeiro pela afinidade de ideias. Segundo pela admiração já colocada antes. Terceiro, veja que todo quadrado do nosso estado já tem uma liderança política. Todas as bases políticas já têm as suas ideias e seus idealizadores. Eu sou novo. Por eu ser novo eu preciso ser abraçado. E jamais me alinharia com alguém que não comungasse com as minhas ideias, com a minha forma de pensar, com o meu projeto. Se não for dessa forma continuarei onde estou. A minha vida já está definida. Cumpri a minha missão e cumpri bem. Então hoje eu seguirei o ministro João Roma.

Mateus Soares
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