Foto: Werther Santana/Estadão
Bolsa de Valores 01 de julho de 2021 | 19:31

Bolsa cai e dólar volta a fechar acima de R$ 5 com ruído político na CPI da Covid

economia

O mercado brasileiro foi na contramão dos seus pares nos Estados Unidos e na Europa nesta quinta-feira (1º) e o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo ante o dólar no pregão, segundo dados da Bloomberg.

A moeda americana subiu 1,46% ante a brasileira, a R$ 5,0450, maior valor desde 18 de junho. Na máxima da sessão, foi a R$ 5,0520. O dólar turismo está a R$ 5,20.

É a primeira vez desde 21 de junho (R$ 5,02) que o dólar termina a sessão acima da linha dos R$ 5.

O Ibovespa cedeu 0,89%, a 125.666,19 pontos, menor patamar desde 28 de maio .

Segundo analistas, investidores repercutem os novos desdobramentos da CPI da Covid enquanto fazem mudanças nas carteiras para o segundo semestre do ano.

Segundo Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, a Bolsa começou a cair com maior intensidade por volta das 11h, após notícias de que a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), Rosa Weber, encaminhou à PGR (Procuradoria-Geral da República) um pedido de investigação contra Jair Bolsonaro e o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, referente ao suposto pedido de propina revelado pela Folha.

“A CPI da Covid, com as denúncias de irregularidades em torno de compras de vacinas, ajuda a explicar esse estresse visto somente no mercado brasileiro, que acaba impulsionando o dólar”, diz Ribeiro.

Nesta quinta, Dias negou que tenha cobrado propina de Luiz Paulo Dominguetti Pereira para negociar a compra de vacinas pelo governo.

Dominguetti disse à CPI da Covid, que recebeu pedido de pagamento de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato de 400 milhões de doses da AstraZeneca. Ele afirma que atuava como representante da empresa Davati Medical Supply.

Já o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirma que a base de apoio ao governo Bolsonaro plantou Dominguetti como testemunha para desacreditar as informações que ele deu à CPI sobre irregularidades na compra de vacinas.

Miranda levou a crise para dentro do Palácio do Planalto ao afirmar que avisou o presidente de irregularidades na compra da Covaxin. Com base nisso, senadores acusam Bolsonaro por prevaricação.

“O cenário político está entrando de vez no radar dos investidores com as investigações da CPI da Covid”, afirma Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.

Segundo ele, o grande risco no momento é o governo começar a perder apoio do centrão, principalmente no andamento da pauta de reformas, além de potenciais reflexos na corrida presidencial no próximo ano.

Analistas apontam também uma fragilização da CPI.

“A Bolsa perdeu força com a piora das notícias políticas. A nova rodada de testemunhos na CPI está colocando em xeque todas as ameaças feitas contra o governo e cria uma sensação de incerteza sobre a corrupção no Ministério da Saúde”, diz Pedro Galdi, analista da Mirae.

Ele também ressalta que a proposta do governo de mudanças no Imposto de Renda segue pressionando os ativos.

A ação preferencial do Bradesco perdeu 1,24% e Itaú Unibanco recuou 0,32%, com receio em torno da cobrança de 20% de imposto sobre dividendos.

Já a Multiplan caiu 3,11%, também com receios sobre as mudanças tributárias. No setor, BRMalls fechou em baixa de 2,17% e Iguatemi cedeu 2,72%.

“Assim, acaba sendo um movimento de realização, preparando terreno para uma retomada logo mais, com os preços mais atrativos das ações, se já não começar o ajuste técnico amanhã”, completa Galdi.

“Está com muita fumaça. O risco aumentou um pouco, com pessoas batendo forte no governo, e nós não vimos ainda o governo agir forte contra isso, então isso está causando um certo medo do que pode acontecer”, afirma Vanei Nagem, responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos.

Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital, avalia que cerca de 20% a 30% do impulso do dólar nesta semana decorre da temperatura mais alta do noticiário político brasileiro.

“As notícias têm feito preço, mas não sabemos se duradouro. Quem viu um Joesley Day sempre tem um certo medo”, afirma Tatsumi. Ele se refere ao pânico nos mercados financeiros do dia 18 de maio de 2017, um dia após virem a público denúncias de Joesley Batista, um dos donos da J&F, envolvendo diretamente o então presidente Michel Temer.

Na ocasião, o mercado entendeu que os eventos sepultaram a agenda de reformas em curso e o dólar disparou 8,15% no pregão.

O dólar também se fortaleceu no exterior nesta quinta. Investidores aguardam dados de emprego de junho nos Estados Unidos a serem divulgados na sexta (2) e esperam abertura líquida de 700 mil vagas, uma aceleração ante as 559 mil de maio.

A dúvida do mercado é em que medida os números podem levar o Fed (banco central dos EUA) a antecipar o debate sobre redução de estímulos. Menos estímulos nos EUA significam menos liquidez, que deixa então de fluir para mercados emergentes como o Brasil.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 subiu 0,52%. Dow Jones teve alta de 0,38% e Nasdaq, de 0,13%.

O índice Stoxx 600, que reúne as maiores empresas da Europa, subiu 0,62%.

Neste pregão, a BR Distribuidora disparou 7,2%, após a Petrobras vender sua participação remanescente de 37,5% na companhia, em oferta precificada a R$ 26 por ação, levantando R$ 11,36 bilhões.

Já a Petrobras cedeu 1,75%, revertendo os ganhos registrados mais cedo, apesar da alta do petróleo no exterior e do lucro com a oferta de ações da BR.

B3 fechou em baixa de 2,97%, devolvendo parte da recuperação verificada desde meados do mês passado, quando a ação atingiu uma mínima intradia em cerca de um ano por receios relacionados a uma maior competição no setor e acomodação nos volumes de ações negociados. Desde então, o papel tinha se valorizado mais de 8% até a véspera.

A Vale caiu 1,74% após subir nos dois pregões anteriores, apesar da alta dos contratos futuros do minério de ferro na China.

Júlia Moura/Folhapress
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