Foto: Max Haack/Arquivo/Agência Haack
ACM Neto 22 de setembro de 2021 | 06:36

Direção do DEM avança em processo para formalizar fusão com PSL

brasil

A executiva nacional do DEM decidiu nesta terça-feira (21) dar seguimento à fusão do partido com o PSL, num primeiro passo para formalizar o processo.

A união das siglas ainda precisa ser referendada em convenção nacional. A expectativa é que o encontro ocorra entre os dias 5 e 21 de outubro.

A decisão desta terça autoriza a convocação da convenção e foi tomada em votação por 40 a 0 pelos integrantes da executiva do DEM que estavam presentes. A direção tem 53 membros no total.

O PSL deve reunir a própria executiva para deliberar o assunto ainda nesta semana.

Segundo integrantes da cúpula do DEM, cerca de 80% dos estados estão com a estrutura resolvida em conjunto com o PSL. Ainda há, porém, impasse em alguns diretórios, como Acre, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro.

“Este foi o primeiro passo na direção de formalizar o processo de criação de um novo partido cuja base fundamental está na fusão do Democratas com o PSL”, disse o presidente do DEM, ACM Neto.

“Hoje, a comissão executiva nacional do Democratas aprovou a autorização para que seja convocada uma convenção nacional do partido, que deve ocorrer entre 5 e 20 de outubro, provavelmente dia 5, e, aí sim, os convencionais vão apreciar o tema e confirmar o processo de fusão”, explicou Neto.

A convenção reúne membros do diretório nacional, delegados e parlamentares do partido —cerca de 200 pessoas.

A ideia, segundo Neto, é que a as convenções do DEM e do PSL ocorram no mesmo dia para que seja anunciada a fusão. Depois de tomada a decisão, o processo precisa ser encaminhado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para que seja criado de fato o novo partido.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o governador Ronaldo Caiado (Goiás), ministros do governo, como Onyx Lorenzoni (Trabalho) e Tereza Cristina (Agricultura), e o ex-ministrro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) participaram do encontro e votaram a favor da fusão. Pacheco, considerado presidenciável, está sendo assediado pelo PSD e já foi convidado a se filiar à sigla. O DEM, com a fusão, tentará mantê-lo entre os quadros da sigla.

“A presença, hoje, do presidente Pacheco, governadores, ministros, prefeitos de capital, deputados, senadores, nós tivemos algo difícil de construir que foi uma aprovação unânime com a garantia de todas as principais lideranças do partido, conjuntamente, aprovando a decisão tomada. A presença de Pacheco é simbólica”, afirmou o presidente do DEM.

Questionado sobre se ficará na sigla que pode ser criada, o presidente do Senado, se esquivou e disse que a questão “é maior que ele”.

A expectativa do ex-prefeito de Salvador é que num primeiro momento, a provável futura sigla perca filiados e parlamentares que discordem da fusão, mas que novos nomes se filiem ao partido. Para ele, a fotografia da nova sigla ficará clara em abril, logo depois da janela partidária —período para troca de partidos—, que ocorre em março.

O objetivo, disse o dirigente, é que a provável futura sigla tenha papel relevante nas eleições presidenciais.

Uma das preocupações de integrantes do DEM é que as decisões na sigla a ser criada sejam tomadas de forma colegiada e não de forma unilateral pelo comando da futura legenda, que será comandada pelo deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL. Neto será o secretário-geral do partido que resultará da fusão.

“O PSL é um grande corpo, mas o Democratas é um grande partido. Nossos valores e princípios vão balizar o futuro desta fusão”, disse o presidente do diretório paulista do partido, deputado Alexandre Leite.

Segundo integrantes do DEM, um dos acordos é que toda decisão do novo partido será colegiada.

“É um movimento estratégico e político inteligente, que gera a maior bancada do Congresso Nacional e um papel de protagonismo no cenário para 2022”, avaliou o líder do partido na Câmara, Efraim Filho (PB).

A cúpula do DEM decidiu negociar a fusão para ter um corpo que pudesse carregar seu conteúdo, como afirmaram caciques da legenda à Folha reservadamente, após a perda de filiados e de destaque em 2021 e com a perspectiva de que não haverá a volta das coligações partidárias.

De um lado, o PSL, com 53 parlamentares na Câmara, deverá ter um dos maiores tempos de televisão em 2022, além de ter um robusto fundo eleitoral e partidário.Do outro, o DEM, um partido que já teve momentos áureos no governo Fernando Henrique Cardoso, mas que hoje, com uma bancada de 28 deputados, não tem a importância que já teve um dia.

A fusão de ambas as siglas —com a incorporação do DEM ao PSL— , na avaliação de dirigentes do DEM, além de uma questão de sobrevivência devido a mudanças nas regras eleitorais, tem por objetivo garantir a relevância dos dois partidos após as eleições de 2022.

Isso porque o PSL foi nanico por cerca de 25 anos, desde a sua fundação, em 1994, até 2018, quando abrigou a surpreendente eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República.

A onda bolsonarista fez o partido eleger a segunda maior bancada da Câmara e, com isso, ter a segunda maior fatia da verba pública partidária e eleitoral a partir de 2019.?

Porém, sem Bolsonaro, que rompeu com a sigla ainda em 2019, o PSL dificilmente terá desempenho perto do que conseguiu em 2018, mesmo com os cofres de campanha cheios.

As eleições municipais de 2020 foram uma prévia. O partido elegeu 90 prefeitos, nenhum deles em grandes cidades.

Já o DEM está longe dos áureos tempos dos anos 1980 e 1990, quando sob o nome de PFL (Partido da Frente Liberal) chegou a ter a maior bancada da Câmara e a presidir as duas Casas do Congresso, além de ter a Vice-Presidência da República.

Com a chegada do PT ao poder, o partido trilhou o caminho da oposição e acabou entrando em declínio. Em 2007, na tentativa de se renovar, trocou o comando e mudou o nome para DEM. Em 2014, chegou ao fundo do poço, tendo eleito apenas 21 deputados federais.

O partido ganhou um novo fôlego após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, e com a eleição de Rodrigo Maia (RJ) para a presidência da Câmara. Em 2019, venceu também o Senado, com Davi Alcolumbre (AP).

A sucessão de Maia, em 2021, porém, levou a um racha no partido. Seu candidato, Baleia Rossi (MDB-SP), acabou derrotado por Arthur Lira (PP). Maia se disse traído por ACM Neto nessa disputa, fez duras críticas e acabou expulso da sigla que presidiu de 2007 a 2011.

Além de perder o ex-presidente da Câmara, a sigla também viu a saída de Rodrigo Garcia (PSDB), vice-governador de São Paulo, e ainda teme que Rodrigo Pacheco deixe a legenda e vá para o PSD.

Julia Chaib e Danielle Brant/Folhapress
Comentários