Foto: Alessandro Shinoda/Folhapress/Arquivo
Bolsa de Valores 09 de outubro de 2021 | 07:40

Aplicações perdem corrida para inflação e já acumulam desempenho negativo em um ano

economia

Os investidores que conseguiram ter ganhos acima da inflação nos últimos 12 meses foram aqueles que apostaram no bitcoin e no Ibovespa (principal indicador da B3). Isso porque, segundo um levantamento da plataforma de informações financeiras Economatica, a rentabilidade real desses dois investimentos foi de 250% e de 6,5%, respectivamente, até o mês de setembro. Já outros produtos financeiros, como poupança, fundos de renda fixa e até moedas estrangeiras, tiveram um desempenho negativo durante o mesmo período avaliado.

A rentabilidade real é a melhor forma de aferir se houve aumento ou perda do patrimônio, pois indica o quanto cada aplicação rendeu e, depois, desconta o valor corroído pela inflação. “O investidor pode até pensar que tem um valor maior para sacar do que ele havia aplicado há um ano (por causa do ganho nominal). Então, ele pensa que não houve perda de dinheiro. Mas, com a inflação, você não está perdendo dinheiro. Você está perdendo poder aquisitivo”, explicou Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica.

Ao analisar o bom desempenho do Índice Bovespa, o professor de Finanças da FGV-SP Fábio Gallo diz que “o ano para a Bolsa foi bom porque, no ano passado, as taxas de juros caíram muito, e as pessoas não tinham muita alternativa na renda fixa e foram para a Bolsa”. Em setembro de 2020, a Selic estava em 2% ao ano.

No caso do bitcoin, ele chama atenção para o fato de ser uma opção voltada a um público mais restrito formado por investidores de perfil mais agressivo. “É um ativo muito volátil, que depende de muita especulação”, disse Gallo.

Para Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper, neste ano a inflação “atropelou todo mundo”. “Ela causou muita perda para quem ficou indexado à taxa de juros, para quem permaneceu em fundo DI ou CDB/DI sem observar uma diversificação. Porque, ao notar o cenário de alta da inflação, teria dado tempo de diversificar para uma aplicação indexada ao IPCA. E é importante o investidor sempre olhar o princípio da diversificação mesmo na renda fixa”, afirmou ele.

Rocha afirma que, em momentos de alta de preços, os títulos atrelados à inflação seriam as melhores opções de investimento. “Há também alguns setores da Bolsa que acompanham bem esse movimento inflacionário, setores que conseguem repassar o preço, como o varejo, por exemplo. Mas, neste caso, já estamos falando em apostar na renda variável, então é preciso fazer uma análise cuidadosa”, completa Rocha.

O especialista ressalta que, apesar das perdas, é preciso lembrar que estamos em um período atípico, por conta da pandemia do novo coronavírus. “Agora, o interessante seria aprender a lição para não perder mais”, diz.

Como se proteger

Diversifique usando o “formato de pirâmide”

O mantra na hora de investir é diversificar. Para isso, o economista Fábio Gallo diz que o investidor deve estruturar a aplicação como uma pirâmide.

A base:

– A maior parte do patrimônio do investidor, que é a base da pirâmide, deve ser investida em opções mais conservadores, como produtos de renda fixa. “O investidor não vai ter ganhos acima da inflação, mas, pelo menos, vai ter liquidez”. Thomás Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, lembra que é possível aplicar valores relativamente baixos, de cerca de R$ 60, em títulos públicos atrelados à inflação, ou seja, esses investimentos vão flutuar conforme o IPCA.

O meio da pirâmide:

– A estratégia aqui é investir de forma a manter o patrimônio. Ou seja, aplicar em produtos que preservem a riqueza, com possíveis ganhos maiores. Mas, para isso, é preciso abrir mão de um pouco de liquidez.

O topo:

– Já o topo da pirâmide (a menor parte) corresponde ao patrimônio que será investido de forma a tentar trazer ganhos com investimentos de maior risco.

Estadão Conteúdo
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