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Mark Zuckerberg, criador do Facebook 28 de outubro de 2021 | 17:01

Sob pressão, Facebook decide mudar nome corporativo e passa a se chamar Meta

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A empresa de logo azul, criada por um moleque de Harvard, que você aprendeu a amar e depois a odiar, mudou de nome. Agora o Facebook se chama Meta. A mudança foi anunciada por Mark Zuckerberg nesta quinta, 28, durante a conferência Facebook Connect, evento de realidade virtual (VR) e realidade aumentada da empresa (AR).

Atolado em uma crise por conta dos Facebook Papers, documentos vazados que estão demonstrando que o Facebook negligenciou a moderação de conteúdo para continuar lucrando, Zuckerberg afirmou que a nova marca era necessária para refletir os novos interesses da empresa.

“Criar produtos de redes sociais sempre será importante para a gente, mas acreditamos que o nome Facebook está altamente ligado a isso. O nome não engloba mais tudo o que queremos fazer. É hora de adotarmos uma nova marca para a nossa companhia”, disse o fundador da empresa. Ele acredita que o futuro das conexões virtuais está no metaverso, e não apenas nos formatos que as redes sociais atuais podem oferecer.

Isso não significa que a rede social vai desaparecer — e nem que isso vai causar mudanças em serviços como Instagram e WhatsApp. A mudança cria uma holding que vai comandar os dois diferentes negócios da empresa: o de redes sociais e os dedicados a AR e VR – é algo parecido com o que o Google fez ao criar a Alphabet em 2015. A mudança, que inclui uma nova logo, foi anunciada após uma hora de apresentação, na qual Zuckerberg apresentou sua visão para a criação de um metaverso — o empresário vai continuar sendo presidente executivo da empresa.

Na segunda-feira, 25, na revelação do o último balanço da empresa, a rede social já havia dado uma pista da mudança. Ela comunicou aos investidores que, a partir do próximo trimestre, os resultados do Facebook Reality Labs, ou FRL, serão separados dos números de outros serviços como Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp.

Com a nova estrutura, receita e lucro dos aplicativos serão registrados separadamente dos produtos do FRL, que desenvolve produtos voltados a realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV). A mudança parece ter agradado os investidores e as ações da empresa subiram 3% logo após o anúncio do novo nome. Na bolsa americana, a empresa também vai ter mudanças na sigla em que lista suas ações: será trocada de “FB” para “MVRS” — abreviação de Metaverso.

Na apresentação, Zuckerberg passou lateralmente pelos problemas: ele reconheceu que está passando por um escrutínio público, mas que afirmou que vai continuar olhando pro futuro. O presidente do Facebook abriu o evento com um discurso defensivo. “A realidade é que sempre haverá problemas e algumas pessoas podem ter a visão de que nunca é realmente um momento certo para focar no futuro. Do meu ponto de vista, acho que estamos aqui para criar coisas e acreditamos que podemos fazer isso e que a tecnologia pode tornar as coisas melhores. Por isso, achamos que é importante seguir em frente.

Mais gente viu a mudança como oportuna sob vários aspectos. “A mudança de nome pode sinalizar o interesse da companhia em separar de modo mais claro a rede social que deu início à sua trajetória e os demais produtos e serviços que façam parte da empresa. Nenhuma empresa que leva internet no nome pode se passar de forma crível como sendo a proprietária da internet. No metaverso pode ser outra história, já que o branding da empresa surgiria com o nascimento do fenômeno, terminando até mesmo por impulsionar a sua adoção”, diz Carlos Affonso Souza, diretor do ITS-Rio.

Para alguns especialistas, a mudança pode não “pegar”. “Assim como no exemplo da Alphabet, que não entrou no senso comum, a minha aposta seria de que qualquer que seja a marca que o Facebook crie como empresa guarda-chuva, muito provavelmente vai continuar sendo uma sombra perto do nome Facebook”, afirma Paulo Rená, professor de Direito no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).

Com ares de game, o metaverso anunciado por Zuckerberg ainda não está perto de se tornar realidade — a empresa imagina um plano de longo prazo a ser implementado na próxima década. O evento de apresentação desta tarde, porém, reuniu algumas das funcionalidades que o universo virtual poderá ter — a interação com outras pessoas à distância foi o foco da construção da plataforma.

Segundo Zuckerberg, o metaverso vai incluir algumas representações para introduzir a interação na plataforma. Uma delas é o avatar, que poderá ser personalizado para as diferentes atividades que os usuários fizerem, como trabalho e lazer. Além disso, salas de encontro também poderão ser criadas na plataforma, para receber amigos, por exemplo — é como um The Sims em tamanho real.

O metaverso ainda trabalha com a possibilidade de representação em holograma, com alguns objetos de auxílio, como uma nova versão de óculos de realidade virtual, o Cambria, que deve ser lançado no ano que vem. Dentro desses universos, a Meta anunciou três principais plataformas de interação: Horizon Home, Horizon Words e Horizon Workrooms.

Em meio à crise de imagem, Zuckerberg também comentou sobre a questão da privacidade e segurança dos usuários no metaverso — que exigiria uma parcela considerável dos dados de quem quer fazer parte da experiência. Para ele, a transparência vai ser a chave e a vantagem de ter um projeto ainda em nascimento pode dar tempo para que a segurança seja construída de forma correta.

“Nós queremos realmente enfatizar esses princípios [de segurança e privacidade] desde o início. Uma das vantagens de começar agora é que conseguimos colaborar com as pessoas nessas questões desde o começo”, afirmou o presidente da companhia.

Estadão Conteúdo
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