Foto: Reprodução/YouTube/Arquivo
O ex-parlamentar, que teria sido expulso de uma reunião do PSDB no domingo passado pelo ex-prefeito Arthur Virgílio durante as prévias malsucedidas, garante que não é verdade o que circulou nos noticiários 27 de novembro de 2021 | 09:35

‘Nós vamos ganhar as prévias e Eduardo Leite será o candidato do partido ao Planalto’

exclusivas

Um dos coordenadores da campanha do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, às prévias que escolherão o candidato presidencial tucano, o ex-deputado federal João Almeida admite que o “desgaste no partido é muito grande” com o pleito interno. Porém, acredita que, caso Eduardo Leite se consagre como candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, o desgaste e a divisão serão superados.

“Eu acredito que sendo Eduardo Leite o candidato ele terá apoio desses 12 Estados e muito mais. Inclusive de São Paulo e dos outros [Estados]. Eu não vejo esse problema. Acho que essa divisão eventual, sendo o candidato Eduardo Leite, será muito menos significativa”.

À reportagem, João Almeida não poupa críticas ao colega de sigla e ex-gestor de Manaus, chegando a classificá-lo como “um remédio vencido”. “Já valeu muito, mas depois que vence a validade, vale muito pouco”, ironiza. E emenda, ao chamá-lo de “laranja” do governador João Doria na disputa tucana.

O ex-parlamentar, que teria sido expulso de uma reunião do PSDB no último domingo (21)  pelo ex-prefeito Arthur Virgílio durante a confusão que marcou as prévias inconclusas, garante que não é verdade o que circulou no noticiário.

“A reunião era restrita aos candidatos e ao presidente do partido. Então eu não iria participar daquela reunião. Eu entrei, fui agredido, respondi adequadamente e saí, mas não fui posto para fora por Arthur Virgílio. Ele nunca me mandou sair de sala de reunião nenhuma. Ele não ousaria fazer isso”, explica.

O PSDB anunciou que dará prosseguimento às prévias no dia de hoje (27). A votação será das 8h às 17h, e o resultado está previsto para as 20h. Esta entrevista foi gravada na última quarta (24).

Confira a entrevista na íntegra:

Política Livre: O fato de o PSDB não ter conseguido concluir o processo das prévias dentro da normalidade não acabou desgastando mais o partido do que projetando o candidato a ser escolhido? O partido não sai muito dividido desse processo?

João Almeida: Sim. Sem dúvidas. O desgaste do partido é muito grande. Não pela divisão eventual. Mas pela própria incapacidade de realizar as prévias. Um projeto ousado, mas não deu certo. O resultado sempre é apurado. O resultado que não deu certo provoca desgaste. Agora,  do ponto de vista da divisão entre os candidatos, não é esse o fator de não dar certo, é que a campanha própria colocou claramente as diferenças acentuadas que existem entre um candidato e outro. Embora se procurasse esconder, como se faz habitualmente nos subterrâneos da política, agora foi impossível. Primeiro pelo método usado, de prévias, de confrontação. E segundo porque agora dessa vez uma divisão muito clara no partido. Divisão de partido. Divisão da política. Divisão se deu a fazer em relação ao futuro do Brasil. Isso está marcado. São dois grupos e é inevitável – o que vai resultar disso eu não faço previsão. Estamos muito distantes da eleição para achismos. Estamos com muitas feridas, mas curáveis, eu diria. Agora a divisão é disso, de  posições políticas bem claras e intenções bem diferentes em relação à próxima eleição que virá.

O senhor não acredita que possa haver uma debandada do partido qualquer que seja o resultado das prévias?

Nada será ou acontecerá. O partido é independente do resultado das prévias. As prévias são um marco referencial que deixou muita coisa, que definiu muita coisa. Então haverá alguma coisa. Mas não por causa das prévias, [mas] como consequência também das prévias.

Dos 14 Estados em que o PSDB pretende lançar candidatos ao governo, 12 apoiam Eduardo Leite. Em que medida o senhor acredita que isso será expresso nas urnas?

Eu acredito que sendo Eduardo Leite o candidato ele terá apoio desses 12 Estados e muito mais. Inclusive de São Paulo e dos outros [Estados]. Eu não vejo esse problema. Acho que essa divisão eventual, sendo o candidato Eduardo Leite, será muito menos significativa, porque não será do Estado como um todo. Certamente poderá haver algum grupo de São Paulo que não vá aderir à candidatura de Eduardo, mas majoritariamente São Paulo aderirá. O partido em São Paulo está partido, machucado, constrangido e coagido até a seguir as posições de [João] Doria, mas ele tem força. Não acho que vá numa aventura de divisão sendo o candidato Eduardo. Pelo contrário. Eu acho que não teremos problemas nesse sentido.

Há uma especulação de que o PSDB pode impor um candidato ao Senado onde não tem candidatura ao governo. Aqui na Bahia, por exemplo, qual nome do partido poderia ser esse candidato?

Essa premissa de que o PSDB vai impor um candidato ao Senado não é verdadeira. Isso é coisa dos tempos de outrora. Se você não tem um nome para uma composição de uma chapa, não se põe mais nenhum poste, porque o candidato a governador que liderar uma chapa não vai sentir ajudado por ele. Não é? Tem que ser um candidato que tenha condições de ajudar a fortalecer a chapa majoritária. Simplesmente para marcar uma posição de um partido não acho que isso vá acontecer. Acho que o PSDB poderá indicar nomes para uma composição de chapa. Se não, tem que compreender que a gente não pode ter posição [de impor nomes] – isso está a cada dia mais desmoralizado, esse negócio de “o partido fica com isso e outro partido fica com aquilo”. Não é assim. Você não combina com os eleitores antes e o que não está combinado com os eleitores antes é muito difícil de dar certo. O que é combinar com os eleitores antes? É ver se o candidato tem uma densidade eleitoral que o habilite, que o dê, digamos assim, sustentabilidade ao pleito do partido. Fora disso não anda.

Jornais divulgaram no domingo que o senhor foi expulso de uma reunião do partido pelo ex-prefeito Arthur Virgílio após, segundo ele, ser ríspido com a esposa dele. O que aconteceu?

Coitado do Arthur (Risos). Ele quer de toda forma aparecer. Ele não se conforma – e ele talvez tenha razão disso, com a sua decadência política. Arthur é como um remédio vencido, já valeu muito, mas depois que vence a validade, vale muito pouco. E ele quer recuperar a glória de outrora com pantominas desse tipo.  E, propriamente, indo de “laranja” do Doria. Não é? Mas não vai por aí. Não houve nada disso. Nada. Eles publicaram isso, para evitar publicar o essencial, que foi a conversa que eu tive com Doria. Isso, sim, valeria. Mas com a mulher do Arthur não houve nada. Simplesmente não houve nada. Eu não dirigi a palavra a ela e não fui expulso de reunião nenhuma. Eu saí da sala porque aquela reunião que iria acontecer naquela sala, eu já sabia, não me caberia. A reunião era restrita aos candidatos e ao presidente do partido. Então eu não iria participar daquela reunião. Eu entrei, fui agredido, respondi adequadamente e saí, mas não fui posto para fora por Arthur Virgílio. Ele nunca me mandou sair de sala de reunião nenhuma. Ele não ousaria fazer isso.

O senhor apoiaria João Doria à presidência caso ele vença as prévias do PSDB?

Às vezes a gente tem que fazer escolhas na candidatura majoritária entre o menos pior. Não é? Pode ser que, eventualmente, o sol brilhe e nada melhor que João Doria para se votar. Nessa possibilidade talvez até vote. Agora, não vejo condições para isso acontecer, porque o candidato do partido será o Eduardo. Nós vamos ganhar as prévias e ele será o candidato do partido e, eventualmente, o candidato da terceira via. Realmente o Doria, durante as prévias, se descompôs completamente para receber o meu apoio, que a essa altura não significa muito, convenhamos. Não quero parecer como o Arthur Virgílio.

O senhor será candidato a deputado em 2022? Tem algum acordo caso Eduardo Leite vença as prévias?

Não. Não, não, não. Eu não serei candidato e essa decisão está tomada há muito tempo. A primeira razão é que eu acho que os políticos têm que entender que não tem o direito de ficar enchendo o saco da população quando ficam velhos e vencidos, como acabei de citar o Arthur. Eu já estou nessa categoria. Posso dar muita contribuição e darei como militante, mas não no processo de disputa eleitoral. Eu tenho já 75 honrados anos de vida.

Como o senhor viu os alertas do candidato Arthur Virgílio contra o bolsonarismo no PSDB?

Eu acho que faz um bom sentido. Não que eu já tenha tido medo que o PSDB fosse bolsonarista. A primeira confirmação disso foi com João Doria depois de ter participado da campanha de Bolsonaro, ter feito campanha para Bolsonaro, junto com Bolsonaro no segundo turno, ter ganho a eleição com a ajuda de Bolsonaro em São Paulo e tentar na sequência levar o partido para Bolsonaro. Ele passou um ano tentando levar o partido para Bolsonaro. Promoveu até a troca da sigla no partido para parecer com as coisas do Bolsonaro. Isso Arthur Virgílio não fala. Não é? Foi Doria que quis levar o partido [para o bolsonarismo]. Depois Doria se desencantou de Bolsonaro e desistiu disso. E veio para a esquerda. E agora quer “desbolsonarizar” o partido, que já está “desbolsonarizado”. O partido está “governizado”. Ou seja, muitas pessoas aqui que estão servindo ao governo, mas não conheço um no partido que defenda as ideias malucas bolsonaristas. Não há isso no partido. Não há. Talvez um ou dois que estão saindo. Mas são poucos. Os outros são governistas. Se entregaram para o governismo, pela facilidade, pela necessidade criada pelo processo eleitoral de acesso ao governo, de emendas, de não sei o quê… realmente isso bagunçou o partido. Mas não é bolsonarismo. É governismo.

Mateus Soares
Comentários