Foto: Itamar Crispim/Fiocruz
Ainda faltam análises sobre impacto da B.1.1.529 na pandemia; país africano vê sinais de nova onda 25 de novembro de 2021 | 17:06

Nova variante da Covid, potencialmente mais transmissível, é detectada na África do Sul

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Potencialmente muito contagiosa e com múltiplas mutações, uma nova variante da Covid foi detectada na África do Sul, que vê sinais de uma nova onda da pandemia, anunciaram cientistas sul-africanos nesta quinta-feira (25).

A variante B.1.1.529 apresenta um número “extremamente alto” de mutações e “podemos ver que ela tem potencial para se espalhar muito rapidamente”, anunciou o virologista Túlio de Oliveira em entrevista coletiva online supervisionada pelo Ministério da Saúde da África do Sul.

Exames laboratoriais preliminares apontam que a variante aumentou rapidamente na província mais populosa de Gauteng, que inclui Pretória e Johannesburgo, e já pode estar presente nas outras oito províncias do país, disseram cientistas.

Pesquisadores afirmam que cerca de 90% dos novos casos em Gauteng poderiam estar associados à variante B.1.1.529.

O NICD (Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul), porém, não atribui o crescimento de caso locais à nova variante. Mais de 1.200 casos novos em 24 horas foram registrados na quarta-feira, contra cem no início do mês. Os dados diáros dessa quinta, publicados pelo NICD, já apontam para 2.465 novas infecções.

A equipe de Oliveira, do instituto de pesquisa KRISP, vinculado à Universidade de Kwazulu-Natal, foi a que descobriu a beta altamente contagiosa —e uma das quatro variantes rotuladas como “preocupantes” pela OMS— no ano passado.

As mutações do vírus podem potencialmente torná-lo mais transmissível a ponto de torná-lo dominante: foi o caso da variante delta, registrada inicialmente na Índia e que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), reduziu a eficácia das vacinas em termos de transmissão do vírus para 40%.

Neste momento, os cientistas sul-africanos não têm certeza da eficácia das vacinas existentes contra a nova variante.

“O que nos preocupa é que esta variante pode não só ter uma capacidade de transmissão aumentada, mas também ser capaz de contornar partes do nosso sistema imunológico”, disse outro pesquisador, o professor Richard Lessells.

Até o momento, foram registrados 22 casos, afetando principalmente jovens, de acordo com o NICD. Também foram relatados casos na vizinha Botswana e em Hong Kong, em uma pessoa que voltava de uma viagem à África do Sul.

A OMS deve se reunir nesta sexta-feira para determinar a periculosidade da nova variante.

“Existem muitas variantes, mas algumas não têm influência sobre a evolução da epidemia”, comentou em uma coletiva de imprensa John Nkengasong, do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças da União Africana).

As estruturas de saúde devem esperar uma nova onda de pacientes nos próximos dias ou semanas, alertaram os cientistas.

A África do Sul, oficialmente o país mais afetado pelo vírus no continente, registra um novo aumento na contaminação nas últimas semanas.

Atribuído primeiramente à variante delta, o aumento “exponencial” das infecções foi provocado por esta nova variante, o que representa “uma grande ameaça”, segundo o ministro da Saúde, Joe Phaahla.

Phaahla também afirmou que é muito cedo para dizer se o governo precisará impor restrições mais duras em resposta à variante.

O surgimento desta nova cepa “reforça o fato de que este inimigo invisível com o qual lidamos é muito imprevisível”, acrescentou.

A África do Sul tem quase 2,9 milhões de casos e 89.600 mortes.

As autoridades temem uma nova onda de pandemia até o final do ano, pois apenas 35% dos adultos que reúnem os requisitos necessários estão totalmente vacinados.

Globalmente, a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia. A Áustria impôs recentemente um novo confinamento, a França anunciou um reforço das medidas sanitárias enquanto a Alemanha ultrapassou as 100.000 mortes.

A Covid já matou mais de 5,16 milhões de pessoas em todo o mundo desde seu aparecimento na China no final de 2019.

A OMS estima que, considerando o excesso de mortalidade direta e indiretamente ligado à Covid-19, o número de vítimas da pandemia pode ser de duas a três vezes superior.

Alexander Winning / Folha de São Paulo
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