Foto: Reprodução TV Globo
Jair Bolsonaro em pronunciamento na TV 31 de dezembro de 2021 | 20:50

Bolsonaro distorce dados e omite fatos na TV e é alvo de panelaço antes do Réveillon

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) omitiu fatos e distorceu informações relacionadas ao combate à pandemia e às ações do governo nos últimos anos durante o pronunciamento de seis minutos que foi ao ar em rede nacional de rádio e TV na noite desta sexta-feira (31).

Durante a fala, panelaços foram registrados em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Florianópolis, além de Brasília.

Numa tentativa de justificar o atraso da imunização contra a Covid-19 no país, que começou em janeiro apenas em grupos prioritários, Bolsonaro afirmou que em 2020 “não existia vacina disponível no mercado”.

Ele não comentou, no entanto, a decisão do governo brasileiro de rejeitar, naquele ano, uma proposta da farmacêutica Pfizer que previa 70 milhões de doses de vacinas a serem distribuídas ao longo de 2021.

A oferta estipulava o início de imunização em dezembro de 2020, com 1,5 milhão de doses e mais 3 milhões no primeiro trimestre de 2021. O Ministério da Saúde só firmou acordo com o laboratório em março de 2021, quando adquiriu 100 milhões de doses.

Somente no fim do discurso, Bolsonaro falou sobre a situação da Bahia e do norte de Minas Gerais, locais atingidos pelas fortes chuvas.

“Lembro agora dos nossos irmãos da Bahia e do norte de Minas Gerais, que neste momento estão sofrendo os efeitos das fortes chuvas na região. Desde o primeiro momento, determinei que os ministros João Roma [Cidadania] e Rogério Marinho [Desenvolvimento Regional] prestassem total apoio aos moradores destes mais de 70 municípios atingidos”, disse.

Ao longo da semana, o chefe do Executivo foi criticado por manter o descanso em Santa Catarina no momento em que os baianos enfrentam os prejuízos provocado pela tragédia.

Ainda no contexto da pandemia, o presidente destacou como um dos feitos do Planalto a criação do auxílio emergencial, mas não citou as mudanças feitas pelo Congresso na iniciativa, que ampliaram o valor do benefício.

“Para aqueles que perderam sua renda, criamos o auxílio emergencial, onde 68 milhões de pessoas se beneficiaram. O total pago em 2020 equivale a mais de 13 anos de gasto com o antigo Bolsa Família”, afirmou.

No início da crise provocada pelo coronavírus, em março de 2020, a equipe econômica pretendia distribuir R$ 200 aos trabalhadores informais. Somente após críticas, Bolsonaro começou a defender o valor de R$ 600, que foi aprovado pelos parlamentares.

No pronunciamento, ele ainda voltou a criticar o passaporte da vacina e a imunização de crianças de 5 a 11 anos de idade, ambos recomendados pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária).

“Não apoiamos o passaporte vacinal nem qualquer restrição àqueles que não desejam se vacinar. Também, como anunciado pelo ministro da Saúde, defendemos que as vacinas para as crianças entre 5 e 11 anos sejam aplicadas somente com o consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade tem que ser respeitada”, disse.

A postura do presidente sobre esses assuntos tem sido considerada inadequada por especialistas, que avaliam que a Anvisa já forneceu todas as informações técnicas necessárias para justificar a necessidade do comprovante de vacinação e de se vacinar os mais jovens.

Bolsonaro também repetiu o ataque aos governadores e prefeitos pelas restrições adotadas durante a pandemia com o objetivo de conter a disseminação do vírus.

“Com a política de muitos governadores e prefeitos de fechar comércios, decretar lockdown e toques de recolher a quebradeira econômica só não se tornou uma realidade porque nós criamos o Pronampe e o BEM, programa para socorrer as pequenas e médias empresas, bem como fomentar acordos entre empregadores e trabalhadores para se evitar demissões.”

Nos outros trechos do pronunciamento, o presidente citou ações realizadas pela gestão desde 2019 e disse que completa “três anos de governo sem corrupção”.

A realidade, porém, é outra. O combate à corrupção, enaltecido por Bolsonaro, é tratado de maneira pouco enfática no governo. Sempre que confrontado com suspeitas envolvendo aliados, amigos e familiares, o presidente critica imprensa, Ministério Público e Judiciário, enquanto alvos são mantidos nos cargos.

Em novembro de 2018, após eleito, Bolsonaro afirmou que ministros alvo de acusações contundentes deveriam deixar o governo, o que não se concretizou na prática.

O ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), por exemplo, seguiu no governo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas sob acusação de envolvimento no caso das candidaturas laranjas do PSL.

Washington Luiz/Thiago Resende/Folhapress
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