Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
O ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Lula 10 de janeiro de 2022 | 22:14

Petistas procuram Alckmin para desfazer ruído com fala de Lula sobre lei trabalhista

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Depois de a proposta de revogar a reforma trabalhista, defendida por setores do PT e aventada por Lula, virar tema de conversa entre Geraldo Alckmin (sem partido) e o deputado Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade, petistas fizeram chegar ao ex-governador explicações para desfazer eventual mal-estar.

Alckmin, que é cotado para ser candidato a vice-presidente na chapa de Lula (PT), também passou a minimizar a questão, segundo aliados, que não veem no tema um entrave para o acerto entre o petista e o ex-tucano.

Segundo pessoas próximas a Alckmin, a interpretação do ex-governador é a de que, na verdade, o que Lula propõe é um diálogo entre sindicatos, empresários e governo para discutir a legislação trabalhista e buscar entendimentos, não imposições.

No último dia 4, Lula e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), publicaram nas redes sociais mensagens simpáticas à reforma trabalhista acordada entre governo, empresários e sindicatos de trabalhadores da Espanha.

Na manhã desta segunda-feira (10), após conversa com Alckmin, Paulinho da Força relatou que o ex-governador mencionara haver apreensão no mercado com a proposta do PT.

“Alckmin disse que está preocupado com a discussão que surgiu nos últimos dias sobre a revogação da reforma trabalhista”, afirmou Paulinho, que diz ser contrário à revogação, mas defende a mudança de pontos específicos.

Ao longo do dia, petistas da cúpula do partido envolvidos na campanha de Lula trabalharam para contornar essa percepção, buscando tranquilizar o ex-tucano.

De acordo com entusiastas da chapa Lula-Alckmin, o ex-governador demonstrou, na verdade, curiosidade e interesse sobre o tema da reforma trabalhista, solicitando a Paulinho que lhe encaminhasse material sobre o assunto, como suas sugestões de emendas.

Alckmin pediu informações sobre a revogação de pontos da reforma na Espanha e quis saber a opinião das centrais sindicais.

Durante a tarde, aliados de Alckmin também relataram à Folha que o ex-governador considera haver espaço para resolver a questão trabalhista de forma inteligente e que não havia angústia a respeito do tema.

Segundo Paulinho, Alckmin não mencionou especificamente as recentes manifestações de Lula e Gleisi Hoffmann favoráveis à iniciativa do governo espanhol.

Nas redes sociais, Lula afirmou ser “importante que os brasileiros acompanhem de perto o que está acontecendo na reforma trabalhista da Espanha, onde o presidente [do governo] Pedro Sanchez está trabalhando para recuperar direitos dos trabalhadores”.

Chamada de contrarreforma, a proposta espanhola revisa a reforma trabalhista feita em 2012 e que teria impulsionado a precarização das condições de trabalho no país.

Entre as medidas, extingue os contratos por obra, limita os contratos temporários (que correspondem a cerca de 25% dos empregos no país) e estabelece regras mais rigorosas nas terceirizações.

Nesta segunda, o ex-ministro Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, também buscou esclarecer a proposta petista.

Segundo Mercadante, que organiza uma reunião entre Lula, sindicalistas e economistas para discutir a revisão da reforma, não se trata de uma contrarreforma, mas de uma pós-reforma fruto de negociação entre trabalhadores e representantes patronais.

Quatro anos depois da entrada em vigor da reforma trabalhista, completados em novembro, o saldo é de queda no número de ações na Justiça do Trabalho, mas o número de empregos anunciado pelo governo à época ficou só na promessa.

Em resposta a Alckmin, o ex-presidente da Força Sindical afirmou que as centrais não defendem a revogação da reforma, mas a regulamentação da possibilidade de fixação, em assembleia, do valor de contribuição sindical por categoria.

Para Paulinho, deveria haver liberdade de negociação entre os sindicatos e representações patronais —o valor da contribuição seria estabelecido em assembleias. “Revogar a reforma não nos agrada, achamos que não é necessário”, afirmou.

Antonio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), reagiu à fala de Paulinho e defendeu a revogação.

“Nos causa espanto a declaração de supostos porta-vozes dizendo que as centrais sindicais são contra a revogação da reforma trabalhista”, publicou em rede social.

“A maioria das centrais defende a revogação da reforma, pois a questão central sempre foi a retirada de direitos e o enfraquecimento das negociações coletivas produzida pela reforma trabalhista”, completou.

Em relação à chapa com Lula, ainda de acordo com aliados de Alckmin, tanto obstáculos relacionados ao programa de governo petista como relacionados a acertos e filiações partidárias podem ser resolvidos nos próximos meses.

Com a avaliação de que não há espaço para o triunfo eleitoral da terceira via, Alckmin segue mirando no acordo com Lula.

Na visão de Alckmin, a eleição deve ser decidida entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL). A ideia é que, com Alckmin na vice, o petista vença ainda no primeiro turno.

O ex-governador poderia se filiar ao PSB, PV ou Solidariedade –siglas que encampam seu projeto de ser candidato a vice na chapa petista. No café da manhã, Paulinho reforçou o convite para que Alckmin se filie ao seu partido.

Alckmin admitiu a possibilidade de se filiar ao Solidariedade. Mas não deu resposta.

O caminho via PV ou Solidariedade mostra que a costura da chapa, cogitada a partir da aproximação e eventual federação entre PSB e PT, hoje independe da associação entre os dois partidos.

O diálogo entre pessebistas e petistas está travado em torno de disputas estaduais, mas o acerto entre Lula e Alckmin segue avançando.

Em contraposição ao PSB, que negocia o apoio do PT na corrida em cinco estados em troca da chapa com Alckmin, Paulinho afirmou que “no Solidariedade, Alckmin não seria usado como moeda de troca”.

O PSB deseja que o PT abra mão de lançar candidatos no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e São Paulo –estado onde o imbróglio é maior. Márcio França (PSB) e Fernando Haddad (PT) pleiteiam a candidatura ao Governo de São Paulo.

A expectativa do PSB é que, com uma federação com PT e PC do B e talvez PSOL, PV e Rede, a sua bancada possa ser ampliada dos atuais 30 para pelo menos 40 deputados federais em 2022.

As federações partidárias são um novo elemento para as eleições de 2022 no Brasil. Elas permitem que os partidos se unam nas disputas proporcionais nos 26 estados e no Distrito Federal e atuem de forma conjunta durante quatro anos no Legislativo, seja na Câmara dos Deputados ou nas Assembleias Legislativas.

No caso de uma federação, PSB e PT não poderiam manter duas candidaturas em São Paulo. Na avaliação de apoiadores da chapa Lula-Alckmin, a manutenção da candidatura de Haddad poderia ser uma contrapartida para que os petistas entrem na associação com o PSB.

Caso não haja federação, no entanto, é possível que tanto França como Haddad sejam candidatos –o que poderia representar um palanque duplo para a chapa petista no estado.

A percepção de interlocutores de Alckmin é a de que ele abandonou de vez a ideia de concorrer ao Governo de São Paulo e tem se concentrado no plano nacional, falando de questões federais, como desemprego e isolamento em relação a outros países.

Alckmin se disse preocupado com a crise econômica, que julga ser o principal problema a ser enfrentado em um novo governo, chegando a ressaltar a existência de moradores de rua até mesmo em Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal.

Catia Seabra/Carolina Linhares/Folhapress
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