Foto: Marcelo Camargo/Arquivo/Agência Brasil
Milton Ribeiro 28 de junho de 2022 | 06:37

Elo de Milton Ribeiro com pastores ignora investigação e falta a 4 depoimentos

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Um ex-assessor especial de Milton Ribeiro, amigo e braço direito do ex-ministro da Educação, faltou a quatro convocações da CGU (Controladoria-Geral da União) no âmbito da investigação sobre o balcão de negócios que operava no ministério.

Odimar Barreto dos Santos era importante elo de Ribeiro com os pastores que negociavam verbas federais para prefeituras mesmo sem cargos no governo.

Servidores do MEC confirmaram à CGU que o próprio Milton Ribeiro designou Odimar para atender os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos e que ele se reunia com Arilton frequentemente na pasta.

Ele ainda fora designado pelo ministro a trabalhar em dupla com Luciano de Freitas Musse. O também ex-assessor do MEC fazia parte da comitiva dos pastores antes de ser nomeado —Musse recebeu R$ 20 mil de um empresário nas tratativas para realização de um evento com Ribeiro no interior paulista.

A Folha mostrou em março que Odimar Barreto era uma das pessoas do MEC que frequentava o hotel usado como QG pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos nas tratativas com gestores. Os pastores hospedaram-se 64 vezes, sendo que em dez delas Arilton estava no local ao mesmo tempo que Luciano Musse, como o jornal revelou.

Ex-major da Polícia Militar, Odimar Barreto tem relações muito próximas com Ribeiro, inclusive familiares. Ele é pastor auxiliar na mesma igreja comandada por Ribeiro em Santos (SP).

O ex-assessor se apresenta como pré-candidato a deputado nas redes sociais. Ele publicou foto em 28 de maio com o pré-candidato ao Governo de São Paulo pelo Republicanos, Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista recente a um podcast, ele falou sobre sua candidatura e disse ter proximidade com Bolsonaro e outros ministros.

A CGU aponta que a atuação de Odimar é uma das linhas investigativas, mas não foi aprofundada até a finalização do relatório.

“Evidências indicam que possivelmente tratar-se-ia de pessoa de confiança do ex-ministro Milton Ribeiro, destacada para auxiliar os pastores em suas demandas no âmbito do MEC”, diz o relatório da CGU.

O documento integra processo que resultou na prisão de Ribeiro, dos pastores, do ex-assessor Luciano de Freitas Musse e de Helder Bartolomeu, genro de Arilton.

As investigações sobre Odimar não teriam sido aprofundadas porque, segundo o documento do órgão, ele faltou a quatro depoimentos agendados para os dias 14 e 29 de abril e 5 e 13 de maio. A CGU não recebeu qualquer justificativa.

Odimar foi levado ao MEC por Ribeiro. Foi nomeado em 4 de agosto de 2020, menos de um mês depois da chegada do então ministro.

Ambos têm grande proximidade, inclusive com relações familiares. Uma das filhas de Odimar vai se casar em breve com um sobrinho de Ribeiro. Foi o próprio Milton Ribeiro quem casou outra filha de Odimar, também com um familiar do ex-ministro.

MEC e Odimar foram procurados, mas não responderam.

Ele foi exonerado em edição extra do Diário Oficial da União em 18 de março, no mesmo dia em que as primeiras informações sobre a atuação de pastores vieram à tona em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.

Ribeiro se afastou do cargo em 28 de março. A exoneração ocorreu uma semana depois que a Folha divulgou áudio em que ele afirma priorizar pedido de um dos pastores por indicação do presidente Bolsonaro.

Prefeitos e assessores relataram à Folha que Odimar Barreto distribuía cartões com logotipo do MEC com contatos pessoais de telefone e email, aos quais a reportagem teve acesso. Aliados do governo já davam como certo que Odimar se candidataria nas próximas eleições desde o fim do ano passado.

Em 2021, há registro de criação de duas empresas da área de saúde em nome das filhas e mulher de Odimar. Uma das filhas, chamada Stefany Barreto, vai se casar com Matheus Ribeiro, sobrinho do ex-ministro.

Além de ter faltado aos depoimentos na CGU, Odimar Barreto também sumiu da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração. Ele é pastor auxiliar de Milton Ribeiro na comunidade desde 2015.

Mesmo com o cargo de pastor auxiliar, Odimar Barreto não pregava na igreja e suas atribuições são desconhecidas pelos próprios membros da comunidade. Pessoas que frequentam a igreja disseram à Folha que Odimar não tem ido aos cultos desde que foi exonerado do Ministério da Educação.

O sumiço, segundo os relatos, está relacionado com a pré-campanha de Odimar a deputado federal e à crise com Milton.

Em entrevista ao podcast Loass, em 16 de junho, Odimar disse que saiu do governo para concorrer às eleições.

“É uma roupagem interessante. Ser amigo do presidente, dos ministros: todos que trabalham no governo, e isso parte do presidente e do ministro, tem essa aproximação. Ele entende que é um time. O presidente e todos os ministros entendem que somos um time”, disse ele.

Ao menos cinco funcionários do MEC falaram sobre Odimar à CGU. Um ex-assessor chamado Albério Júnio Rodrigues de Lima disse que chegou a se sentir desconfortável com a presença e atuação dos pastores, e teria pedido para ser retirado da função entre janeiro e fevereiro de 2021.

Depois disso, “o então ministro Milton Ribeiro designou o sr. Odimar para atender a dupla”, cita relatório da CGU.

Albério pediu demissão por causa da atuação dos pastores, segundo declarado ao órgão. A informação foi revelada pela CNN Brasil.

O chefe da assessoria parlamentar do MEC, Marcelo Mendonça, disse à Controladoria que Luciano Musse foi deslocado para trabalhar com Odimar. Outras duas servidoras relataram que ambos eram vistos juntos e que Arilton também era recebido frequentemente por Musse.

O assessor Gustavo Bechelany, lotado no gabinete do MEC, disse à CGU que desconhecia as atribuições de Odimar no MEC. A única função conhecida era de análise dos nomes indicados para reitoria das universidades federais.

Paulo Saldaña, Cézar Feitoza e Constança Rezende/Folhapress
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