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Ex-presidente pede doações a apoiadores e reforça imagem de perseguido 12 de agosto de 2022 | 16:53

Após tensão, Trump tenta lucro político e financeiro com operação do FBI

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Donald Trump nunca saiu do cenário político dos EUA desde que deixou a Presidência, há pouco mais de um ano e meio, mas poucas vezes passou tanto sufoco quanto nesta semana, após uma inédita operação de busca em sua casa, que pode se transformar num caso criminal, além de um depoimento a autoridades em Nova York em que invocou 440 vezes o direito de ficar calado.

A investida contra o ex-presidente, admitida publicamente pelo Departamento de Justiça do governo Joe Biden, elevou sobremaneira as tensões no país, com militantes radicalizados nas ruas —foi a provável causa de um atentado a um prédio do FBI em Ohio— e trocas de acusações entre democratas e republicanos. Também levantou questionamentos sobre o lugar de Trump no atual xadrez político dos EUA.

O ex-presidente tem tentado usar tudo isso em seu proveito. Não só politicamente, ao dizer e repetir que é alvo de perseguição, mas também financeiramente.

O Save America (“salve os EUA”), comitê político de Trump, disparou na manhã de terça-feira (9) um email pedindo dinheiro dos apoiadores. “Corram para doar IMEDIATAMENTE para mostrar publicamente que estão do meu lado contra ESSA CAÇA ÀS BRUXAS SEM FIM.”

No Telegram, Trump afirmou que o ex-presidente Obama “manteve 33 milhões de páginas de documentos, muitos deles secretos” e afirmou que a acusação de que mantinha documentos sobre armas nucleares “é uma farsa”, como as acusações de que foi ajudado pelos russos na eleição ou os processos de impeachment que sofreu.

Foi Trump quem revelou, no fim da tarde de segunda-feira (8), que sua casa havia na Flórida sido alvo de uma operação de busca do FBI, a política federal do país. Sem nenhuma informação pública, a imprensa americana descobriu que os agentes buscavam documentos supostamente tirados de forma indevida da Casa Branca no período em que ocupou a Presidência, e já se fala em informações secretas sobre pesquisas nucleares.

Foram dias tensos de silêncio do governo, que a princípio disse apenas que a Casa Branca não havia sido informada da busca. Na quinta (11), após uma série de acusações de perseguição política, o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, secretário do Departamento de Justiça, ao qual o FBI é subordinado, foi à TV dizer que aprovou pessoalmente a operação e defendeu a corporação dos ataques de republicanos.

“Não vou ficar calado quando a integridade deles [dos agentes] é atacada injustamente”, afirmou. “Os homens e mulheres do FBI e do Departamento de Justiça são servidores públicos e patriotas dedicados”.

Não é a primeira vez que o Departamento de Justiça investiga autoridades por suspeita de lidar de forma imprópria com material sensível —o caso recente mais chamativo foi o da democrata Hillary Clinton, que usou um email pessoal para lidar com informações classificadas como secretas ou ultrassecretas quando ocupou o cargo de secretária de Estado.

De acordo com o jornal americano The Wall Street Journal, na operação de segunda-feira os agentes do FBI retiraram 20 caixas da casa de Trump, com 11 conjuntos de documentos sigilosos, além de fotos e anotações. O Departamento de Justiça afirmou que pediu a remoção do sigilo do inventário do que foi apreendido, para mostrar que não houve perseguição política.

Dois dias depois da operação, na quarta (10), Trump teve outra dor de cabeça ao ter que depor à Procuradoria-Geral de Nova York, em um caso que investiga supostas manobras fiscais irregulares de suas empresas. Na ocasião, a única pergunta que respondeu foi qual era seu nome, antes de ler um comunicado em que acusava a investigação de ter motivações políticas e dizer centenas de vezes por mais de quatro horas que não responderia às perguntas.

Thiago Amâncio, Folhapress
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