Foto: AFP/Folhapress
O autor anglo-indiano Salman Rushdie 12 de agosto de 2022 | 16:10

Escritor Salman Rushdie é esfaqueado no pescoço em Nova York

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O autor anglo-indiano Salman Rushdie foi atacado nesta sexta-feira quando se preparava para dar uma palestra em uma organização beneficente em Nova York, nos Estados Unidos.

Um homem invadiu o palco da Chautauqua Institution, onde ocorria o evento, e esfaqueou o escritor de 75 anos no pescoço, segundo nota da polícia à imprensa. Uma testemunha contou à agência Associated Press que viu o autor receber de 10 a 15 golpes.

O autor, que recebe ameaças de morte do governo do Irã desde os anos 1980, caiu no chão, foi socorrido e levado ao hospital de helicóptero. Em nota, seu agente disse que o autor passa por uma cirurgia. O entrevistador que o acompanhava no evento também foi ferido.

Ainda segundo a polícia nova-iorquina, o suspeito de atacar o escritor foi detido —ele estava vestido de preto e mascarado— e ainda não há detalhes sobre sua identidade ou motivações. Rushdie segue no hospital.

Um dos maiores escritores de sua geração e conhecido por suas posições libertárias, Rushdie é perseguido por autoridades iranianas por blasfêmia desde a publicação de “Os Versos Satânicos” em 1988, romance de fantasia considerado ofensivo a Maomé e à fé islâmica.

À época do lançamento do livro, o aiatolá Khomeini defendeu que o escritor fosse assassinado, e a perseguição foi mantida em vigor pelas mais altas autoridades religiosas do Irã.

Desde o episódio envolvendo este que segue como seu livro mais célebre —e que já rendeu um atentado fracassado contra sua vida em 1989—, Rushdie passou a viver sob forte segurança no Reino Unido, onde estudou desde a juventude. Hoje, ele vive nos Estados Unidos.

“Isso merece parabéns: se Deus quiser, vamos comemorar a ida de Salman Rushdie para o inferno em breve”, escreveu Keyvan Saedy, um pensador iraniano conversador no Twitter na tarde desta sexta. Ele foi acompanhado por outros radicais, como Hossein Saremi, que escreveu que “a vingança pode demorar, mas inevitavelmente acontecerá”.

Um portal conservador também declarou que o atentado, 33 anos após a publicação do livro, “alerta as autoridades americanas de que eles devem temer a vingança do Irã pelo general Qassim Suleimani, até sua morte, mesmo que a vingança leve 33 anos,” se referindo ao principal general do país, morto em um ataque aéreo dos EUA em janeiro de 2020.

“Não conseguimos pensar em nenhum incidente comparável como este violento ataque público contra um escritor em solo americano”, disse em um comunicado a PEN America, organização sem fins lucrativos que defende a liberdade de expressão e da qual Rushdie já foi presidente.

O texto assinado pela atual presidente da organização, Suzanne Nossel, louva o trabalho do autor anglo-indiano no suporte a outros escritores que têm suas vidas ameaçadas. Nossel diz ainda que Rushdie havia enviado um email para ela poucas horas antes do incidente, oferecendo ajuda no trato com escritores ucranianos. “Esperamos e acreditamos fervorosamente que sua voz essencial não pode e não será silenciada”, conclui.

No Twitter, a Chautauqua Institution pediu orações para Rushdie e Henry Reese, o moderador do evento, também ferido, e disse que está averiguando o caso com a polícia.

O autor nascido em Bombaim venceu o Booker, principal prêmio da literatura em língua inglesa, por “Os Filhos da Meia-Noite” em 1981, e tem entre seus outros livros mais famosos “O Último Suspiro do Mouro” e “Oriente, Ocidente”. Ele é publicado no Brasil pela Companhia das Letras.

Em “Joseph Anton”, sua obra autobiográfica publicada há dez anos, ele conta as memórias de seus anos se escondendo da perseguição religiosa com o nome falso que intitula o livro.

Seu projeto literário é marcado pela exploração fantástica das tradições religiosas e culturais de diversas civilizações espalhadas pelo mundo, sempre com um estilo afiado e sem concessões. O incômodo provocado por “Os Versos Satânicos” envolvia o fato de o livro ficcionalizar a vida do profeta Maomé.

Durante o lançamento de seu livro mais recente, “Quichotte”, no ano passado, ele deu entrevista a este jornal defendendo a reconstrução de verdades objetivas pelo jornalismo num mundo cada vez mais conduzido por narrativas e crenças subjetivas.

Walter Porto//Folhapress
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