Foto: Marcello Casal Jr./Arquivo/Agência Brasil
Serviços puxam fila na economia, e indústria fica para trás 12 de agosto de 2022 | 07:19

Serviços puxam fila na economia, e indústria fica para trás

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O setor de serviços mostrou sinais de uma reação mais forte no Brasil até junho, enquanto a produção industrial ficou para trás na lista das atividades que tentam se recuperar dos prejuízos da pandemia.

A avaliação é de economistas a partir de pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em junho, o volume de serviços cresceu 0,7% e m relação a maio, informou o órgão nesta quinta-feira (11). O resultado colocou o setor em um patamar 7,5% acima do período pré-pandemia (fevereiro de 2020).

É a maior diferença positiva entre os três grandes setores contemplados por pesquisas mensais do IBGE.

O volume de vendas do varejo, por outro lado, caiu 1,4% em junho. Com o desempenho, ficou 1,6% acima do pré-pandemia, segundo o instituto.

Já a produção industrial encolheu 0,4% no sexto mês deste ano. Assim, permaneceu abaixo do nível pré-crise. Está em patamar 1,5% inferior ao de fevereiro de 2020.

“De fato, os serviços estão na dianteira. Até pouco tempo atrás, parte do setor era restringida pela pandemia. Houve um retorno mais forte com o fim das amarras”, aponta Rafael Cagnin, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

A prestação de serviços envolve uma grande variedade de negócios. Reúne desde restaurantes, bares, hotéis, academias de ginástica e salões de beleza, afetados após a chegada da Covid-19, até empresas de transportes e tecnologia.

Cagnin lembra que as parcelas mais ricas da população consomem mais serviços, e esses grupos conseguiram manter uma poupança durante a pandemia.

Já as camadas com renda mais enxuta têm gastos mais voltados para bens essenciais e formam a fatia mais sensível aos efeitos da escalada da inflação.

Nesse cenário, a combinação entre preços e juros altos dificulta uma reação mais consistente de segmentos da indústria e do varejo, diz o economista.

Ele também indica que as fábricas ainda são impactadas pela falta de parte dos insumos, embora esse quadro tenha apresentado melhora frente aos períodos críticos da pandemia.

“Há cadeias produtivas mais expostas a gargalos de fornecimento. A gente tem visto menos [o problema], mas ainda tem visto”, afirma Cagnin.

Após a divulgação do resultado de serviços, o banco Original afirmou nesta quinta que o setor “tem compensado parte das quedas dos demais”.

“Vejo a Selic [taxa básica de juros] impactando o varejo e a indústria em junho. Historicamente, os dois setores respondem de maneira mais rápida à taxa”, afirma o economista Eduardo Vilarim, do Original.

“Serviços têm uma resposta mais retardatária aos juros”, diz.

Com o embalo de serviços, o economista projeta PIB (Produto Interno Bruto) com variação positiva de 0,9% no segundo trimestre. O resultado será divulgado em 1º de setembro pelo IBGE.

Ao longo do segundo semestre, medidas como o aumento do Auxílio Brasil tendem a gerar estímulos para a atividade econômica, mas os efeitos dos juros mais altos, que levam tempo para aparecer, devem provocar uma desaceleração, projeta Vilarim.

O PIB do terceiro trimestre pode vir próximo de zero ou com leve variação negativa, de acordo com ele. “A Selic deve pegar a economia de maneira ainda mais intensa em 2023.”

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, avalia que os indicadores setoriais já conhecidos sinalizam uma alta de 0,7% para o PIB no segundo trimestre deste ano.

Com os estímulos anunciados pelo governo às vésperas das eleições, ela não descarta uma nova elevação no terceiro trimestre, mas de menor intensidade.

Por ora, o avanço previsto está na casa de 0,2% ou 0,3%. “A queda do PIB ficaria para o quarto trimestre”, prevê.

Segundo a economista, enquanto o desempenho dos serviços tem sido impulsionado pela demanda reprimida na pandemia, a indústria ainda sofre com a carestia e a falta de parte dos insumos.

“A produção industrial ficou mais para trás na fila.”

O patamar do setor de serviços, 7,5% superior ao pré-crise, foi puxado por atividades menos dependentes da interação com clientes na pandemia, como é o caso dos serviços da área de tecnologia e do transporte de cargas, explicou nesta quinta Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE.

Com o avanço da vacinação e o fim das restrições, o segmento como um todo também passou a ser estimulado pelos negócios presenciais.

Os serviços prestados às famílias, contudo, ainda estão 6,1% abaixo do nível pré-crise. Essa categoria envolve, por exemplo, empresas de alojamento e alimentação.

Leonardo Vieceli/Folhapress
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