11 junho 2025
O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Frederick Wassef, disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten foi o responsável por pedir para que ele recomprasse o relógio Rolex, dado a Bolsonaro em uma viagem oficial, e que havia sido vendido à loja Precision Watches, em Willow Grove, na Pensilvânia (EUA), pelo tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens da Presidência.
A PF já tem em mãos o histórico de ligações entre Wassef e Wajngarten às vésperas da operação nos Estados Unidos. O ex-secretário de Bolsonaro pressionou e insistiu para que o advogado cumprisse a determinação de repatriar o item de luxo.
De acordo com informações publicadas pela revista Veja e confirmadas pelo jornal O Estado de São Paulo, Wassef atendeu ao pedido de Wajngarten em março deste ano, após o Tribunal de Contas da União (TCU) ordenar a devolução dos presentes que Bolsonaro ganhou do governo da Arábia Saudita. Estima-se que o valor arrecadado com a venda seria de US$ 68.000,00 (correspondente a R$ 346.983,60), segundo um comprovante de depósito identificado nos dados da nuvem de Cid pela PF no mesmo dia que o tenente-coronel esteve na Precision Watches.
De acordo com o depoimento de Wassef à PF, Wajngarten teria se comprometido a ressarcir o valor pago na recompra do relógio, o que não aconteceu.
A informação de que Wajngarten influenciou e foi o mandante da recompra do relógio chegou à PF após uma operação de busca e apreensão contra Wassef em agosto deste ano. Os agentes encontraram o histórico de mensagens e ligações entre os dois aliados de Bolsonaro e passaram a investigar a participação do ex-secretário de comunicação no caso.
A partir da apreensão, Wajngarten passou à condição de investigado pela PF e chegou a ser intimado em 31 de agosto a prestar esclarecimentos.
Segundo Wassef, em nota, “Fabio Wajngarten passou a ser um investigado criminal e foi intimado a depor na Polícia Federal em 31 de agosto, exatamente após a apreensão de meus celulares pela Polícia Federal, em 17 de agosto. Ele se manteve em silêncio na polícia”.
“Sabedor dos fatos que constavam em meu celular, Fabio Wajngarten vem manipulando inúmeros jornalistas com matérias encomendadas e fatos inventados por ele, tudo para criar uma narrativa para favorecê-lo”, diz Wassef.
Em uma postagem nas redes sociais, Wajngarten diz que “quem mente será processado”. Segundo o ex-secretário, “a PF está de posse dos ZAPs de todos os envolvidos e sabe exatamente quem fez o que e principalmente quem não fez o que”. Ele não cita Wassef nominalmente.
No depoimento prestado à PF, Wassef teria dito que tinha uma viagem programada para os EUA e que teria recebido, com insistência, o pedido de Wajngarten para que ele recomprasse o Rolex. Ele usou, segundo o depoimento, dinheiro em espécie para a operação.
A PF acionou o FBI para avançar as investigações sobre o esquema em agosto deste ano. Em outubro, o governo dos EUA permitiu que o órgão atuasse para investigar as transações feitas por aliados de Bolsonaro no país.
Rayanderson Guerra/Estadão