Foto: Joá Souza/GOVBA/Arquivo
Objetivo de Geraldo Jr., na verdade, é se eleger deputado federal em 2026 01 de agosto de 2024 | 09:45

O candidato da eleição seguinte, por Raul Monteiro*

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Especialmente no Brasil, eleições majoritárias funcionam muitas vezes projetando ou formando quadros políticos para pleitos seguintes. Em alguns casos, são usadas de forma deliberada com este propósito e não há nada de ilegítimo nisso. Em outros, são o resultado das circunstâncias e, claramente, das derrotas. Por causa do contato direto com o eleitorado e da estrutura privilegiada de que dispõem para divulgar seus nomes e propostas, assegurada pela legislação eleitoral, candidatos podem aproveitar campanhas não apenas para garantir votos e se eleger mas, quando a vitória é improvável, principalmente acumular capital eleitoral para novas disputas.

Salvador tem hoje, na campanha majoritária, seu candidato a candidato à eleição seguinte. Trata-se de Geraldo Jr., do MDB, cujo objetivo está longe de ser o de se eleger prefeito de Salvador, um feito que ele sabe – como todos à sua volta – difícil de acontecer. Na verdade, e ninguém muito próximo dele esconde isso, seu plano é tornar-se bastante conhecido na capital baiana, o que não conseguiu enquanto foi vereador, a fim de melhorar a batalha por uma vaga na Câmara dos Deputados em 2026, pleito hoje dos mais difíceis dadas as condições privilegiadas que o modelo de distribuição de emendas tem assegurado à reeleição dos atuais parlamentares.

Há quem diga que participar de uma disputa nestes termos é o mesmo que encenar uma farsa, ou uma comédia. Mas não se pode negar também que o estratagema já foi e é usado de forma planejada ou circunstancial por muitos. No primeiro caso, o principal desafio do candidato que mira numa eleição presente pensando na futura é deixar claro para a equipe qual é seu verdadeiro propósito. É claro que todo mundo desconfia. Ninguém é bobo, ainda mais marqueteiros e congêneres. Portanto, o melhor é trabalhar com transparência para que os profissionais se motivem com o projeto em curso e não com a ideia de uma vitória que não virá.

O segundo objetivo, mais difícil, é dirigido ao público externo e tem como propósito passar a impressão de que, apesar das evidências de que não vai a lugar algum, o candidato está ali para o que der e vier e mesmo confia, mais do que ninguém, numa zebra, o que, diga-se de passagem, não é missão difícil para determinados políticos. Prosperam no quesito as lideranças que conseguem motivar o círculo mais próximo contra os mais cristalinos sinais da realidade. Desconfia-se de que o candidato do MDB não tem a habilidade requerida aos verdadeiros líderes. Além disso, o custo de ter decidido entrar nesta disputa, cada dia fica mais claro, é exclusivamente dele.

Hoje, por exemplo, já se sabe que não foram poucas nem rápidas as vezes em que o presidente de honra do MDB, Lúcio Vieira Lima, e seu irmão, Geddel, abriram o jogo para Geraldo Jr., advertindo-o para as dificuldades de chegar a bom termo uma eventual campanha sua à Prefeitura de Salvador. Os impasses estariam em todos os lados, desde o processo de financiamento a problemas relacionados a apoio e à credibilidade do candidato num cenário de enfrentamento a um gestor extremamente bem avaliado, como o prefeito Bruno Reis (União Brasil). Como desconsiderou os conselhos, Geraldo Jr. tem que focar mesmo é em 2026.

*Artigo do editor Raul Monteiro

Raul Monteiro*
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