5 outubro 2024
Ex-secretária de Política para as Mulheres da Bahia, Elisângela Araújo (PT), chegou à Câmara dos Deputados para um mandato suplente e logo de cara encarou a repercussão negativa do caso inglório de assédio dentro do governo Lula, que culminou na queda do ministro Silvio Almeida. Ela diz que o presidente acertou em, de pronto, demitir o ministro.
“Tem mais é que demiti-lo, tirar da pasta e ele que prove o contrário, não no governo”.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, ela rechaça a alcunha de “federal de Wagner”, embora diga ter o apoio do senador e líder petista na Bahia, e despista sobre um possível disputa interna com Lucas Reis, que já manifestou abertamente a intenção de ter uma candidatura a federal patrocinada pelo Galego.
Elisângela fala também sobre seu envolvimento na campanha de Zé Neto, a quem sucedeu, em Feira de Santana e aponta que Geraldo Júnior (MDB) “está se esforçando” em Salvador.
Leia a entrevista completa:
Antes de ser deputada, a senhora era titular da Secretaria de Política para as Mulheres. Como viu o caso do ministro Sílvio Almeida? O presidente Lula acertou em demiti-lo assim que a denúncia de assédio veio à tona?
Sobre os casos de assédio, enfrentamos muitos dentro da Secretaria. Acontece a cada momento, nós temos feito muitas ações, governo do estado, governo federal, no sentido de combater, de enfrentar todo esse processo de misoginia, de violências de gênero na sociedade. É chato e triste de saber que um ministro, como o Sílvio, que demonstrou toda uma capacidade na gestão, na pasta onde estava, cometeu um absurdo como esse, um assédio, uma violência contra as mulheres, e o presidente Lula estava correto, tem mais é que demiti-lo, tirar da pasta e ele que prove o contrário, não no governo, mas como pessoa, como cidadão, que ele não cometeu, mas é correto, tem que demitir, tem que punir. Se a gente não fizer isso, não vai, de fato, mudar essa realidade na sociedade brasileira, e a gente sabe muito bem que é preciso investir muito em diversas políticas públicas e principalmente na educação, na mudança de mentalidade para as próximas gerações, para ver se a gente não vive tantos absurdos de violências de gênero na sociedade, violência contra as mulheres.
Mesmo com pouco tempo em Brasília, qual sua percepção da relação do governo Lula com o Congresso Nacional? Qual é o maior desafio do Planalto para o próximo biênio?
Além das pautas que defendo em diversos espaços — como os direitos das mulheres, a agricultura familiar e as questões da classe trabalhadora, tanto no campo quanto na cidade — também me conecto com várias discussões propostas pela liderança do meu partido e pelo nosso governo, sempre com o intuito de debater, discutir e avançar. Um exemplo disso é a perspectiva ambiental e as questões relacionadas à educação e à saúde, temas que considero extremamente importantes e que estão sempre em pauta no Congresso, e aos quais estou profundamente atenta. Estou empenhada em promover um debate mais robusto sobre o papel do empreendedorismo, especialmente no que se refere à capacitação das mulheres para empreender, gerar renda e garantir uma vida de qualidade. Neste contexto, é relevante ressaltar a expressiva participação das mulheres no processo empreendedor no Brasil, algo que também estou pautando na Câmara. Além das demandas do governo federal ou estadual, estou pronta para construir um diálogo aberto com todos os setores e segmentos da sociedade.
A senhora foi para as urnas em 2018 com a alcunha de ser a federal de Wagner. Para 2026, Lucas Reis já externou intenção de também ser deputado federal com as bênçãos do senador. Vai ter espaço para os dois? Como está a relação com ele?
Sobre a minha candidatura, a construção não foi do senador Jaques Wagner, isso tem que ficar bem claro! E nem de nenhuma outra liderança política do nosso Estado. Construí a minha trajetória da política. A primeira candidatura em 2014 foi para contribuir, ajudar o partido, no sentido de ter mais mulheres disputando e competindo e tive 32 mil votos. Em 2018, a CUT nacional, da qual eu fazia parte da executiva nacional, tomou a decisão de ter candidaturas em vários estados para defender a pauta da classe trabalhadora no parlamento. E assim , aqui, como eu já era da executiva, já tinha participado de um processo de disputa, tive um êxito legal de uma campanha em 2014, que não foi vista por muitas pessoas e tive 32 mil votos. Depois, o Fórum Baiano da Agricultura Familiar e as organizações do campo abraçaram essa campanha, pois compreenderam a minha estratégia e sempre defenderam e reconheceram o meu papel de liderança do campo e da agricultura familiar. Então, em 2018, fui para a disputa sem apoio de nenhum prefeito ou figura política baiana, dizendo que eu era candidata de algum deles. Tive mais de 64 mil votos e fiquei ainda no cargo nacional, na executiva nacional da CUT. Decidi ficar mais no Estado e o senador me acolheu por reconhecer e compreender a importância do que eu representava. Estava na quarta suplência e fui para o mandato dele não para ser do mandato dele, mas como uma liderança da agricultura familiar e dos movimentos sociais. Ele me deu apoio, mas eu não era a candidata dele, não era a sua aposta, isso precisa estar bem claro, para não dizer que a candidata do senador não foi eleita.
Por falar em 2026, quais são seus planos para o futuro na política?
Meus planos para 2026 são claros: disputar as eleições e estar atuante no processo político, ser cada vez mais uma liderança reconhecida pelo que represento, pelas pautas importantes que defendo – mulheres, agricultura familiar, classe trabalhadora, campo e cidade. Quero ser eleita e assumir um mandato representando tudo o que me constitui como líder política no estado e a nível nacional.
Além da defesa das mulheres, a senhora tem uma atuação importante na agricultura familiar. Como está sua atenção nessas agendas agora como deputada federal?
Além das pautas de vida que defendo, como as mulheres, a agricultura familiar, os direitos, a classe trabalhadora, campo e cidade, estou conectada com várias discussões e pautas que meu partido e governo colocam, como a questão ambiental, educação, saúde. Estou construindo possibilidades de debater o papel do empreendedorismo e da economia, especialmente para as mulheres. Assumo pautas demandadas pelos governos estadual e federal, aberta ao diálogo com todos os setores da sociedade.
A senhora está bem atuante na campanha eleitoral de Feira de Santana e também está engajada na campanha de Zé Neto. O que ele tem de diferente dessa vez que pode finalmente vencer a disputa?
Estou participando ativamente das campanhas políticas em Feira de Santana, apoiando Zé Neto para prefeito. Vejo uma campanha estruturada, conectada com a realidade das pessoas, com a participação de diversos partidos da base do governo, em diversas atividades com a comunidade. Acredito na vitória de Zé Neto, pois conhece Feira de Santana em todas as suas dimensões, setores e segmentos, e tem a cidade em mente e no coração.
Como a senhora está vendo a campanha do vice-governador Geraldo Júnior em Salvador? Acredita na vitória dele?
Não estou acompanhando de perto a campanha em Salvador, mas vejo que é uma disputa difícil. Precisamos trabalhar muito para avançar na perspectiva de governar a capital. Geraldinho tem conhecimento da cidade e está se esforçando na campanha. Será difícil, estamos enfrentando a principal máquina da oposição em Salvador, mas a disputa sempre será importante e vai nos fortalecer.
Política Livre