3 novembro 2024
O ex-presidente Donald Trump ignorou a polêmica racista sobre Porto Rico que envolveu sua campanha desde domingo (27) e afirmou nesta terça (29) que vai impor pena de morte para imigrantes que assassinarem cidadãos americanos, caso seja eleito. Ele não explicou, porém, como isso poderia ser feito, uma vez que atualmente cada estado tem sua própria política sobre execução de condenados da Justiça.
A pena de morte é empregada raramente em nível federal, em geral associada a crimes como traição ao país e espionagem. Das 16 execuções que ocorreram desde 2000, 13 foram no fim do governo Trump (2017-2021), segundo o Centro de Informação sobre Pena de Morte.
A promessa é uma escalada dos ataques do candidato republicano contra imigrantes na reta final da eleição. Em sua fala em Mar-a-Lago, seu resort na Flórida, também disse que imigrantes que voltarem aos EUA depois de serem deportados serão presos por dez anos.
Trump minimizou os problemas econômicos —a maior insatisfação dos americanos, segundo pesquisas—, dizendo que imigração é a maior questão desta eleição.
Ele buscou se esquivar do episódio ocorrido no comício de domingo no Madison Square Garden, em Nova York, quando o humorista Tony Hinchcliffe disse que Porto Rico, território pertencente aos EUA sob o status de Estado associado, é uma “ilha flutuante de lixo”, além de fazer piadas racistas com latinos.
Trump declarou que o evento foi um “festival de amor” e criticou pessoas que compararam o comício com um encontro promovido por simpatizantes nazistas no mesmo local em 1939. Ele não respondeu a perguntas de jornalistas, como costuma fazer nessas ocasiões.
Antes de sua fala na Flórida, Trump disse que não sabia quem era Hinchcliffe. “Não o conheço, alguém o colocou ali”, declarou à rede ABC. Ele insistiu que não ouviu nenhuma das piadas, feitas antes de ele entrar no palco da arena em Nova York.
Havia uma expectativa de que Trump pudesse comentar a reação negativa que vem sofrendo. O vice, JD Vance, afirmou que as pessoas precisam parar se de ofender tão facilmente. Natural de Porto Rico, o rapper Bad Bunny, um dos maiores artistas da atualidade, endossou Kamala Harris ainda no domingo. A atriz e cantora Jennifer Lopez, cujos pais nasceram na ilha caribenha, e o cantor e ator porto-riquenho Ricky Martin foram outras personalidades que criticaram o republicano.
Os porto-riquenhos que vivem na ilha não tem direito a voto na eleição americana, mas podem fazê-lo caso residam em qualquer um dos 50 estados dos EUA. Em 2021, 5,8 milhões deles se enquadravam nessa condição, segundo análise do Pew Research Center com base em dados do governo.
No estado-pêndulo da Pensilvânia, crucial para o pleito, 3,8% da população é de Porto Rico ou descendente, de acordo com a organização Puerto Rico Report. Somente na cidade da Filadélfia, cerca de 140 mil pessoas (15% do total) pertencem a esse grupo.
A Pensilvânia tem o maior número de delegados (19) em disputa entre os sete estados que devem decidir a corrida presidencial do dia 5 de novembro. Em 2020, Biden venceu lá por uma margem de apenas 1,2 ponto percentual, ou menos de 82 mil votos. No pleito atual, pesquisas mostram Kamala Harris e Trump empatados na região.
Fernanda Perrin/Folhapress