14 dezembro 2024
Nesta quinta-feira (21), em celebração ao Dia da Filosofia e um dia após o Dia da Consciência Negra, o Centro Cultural da Câmara de Vereadores de Salvador foi palco do evento GRIOT: Filosofia Africana, a história que você precisa conhecer. Idealizado pela Dra. Isabel Guimarães, o encontro contou com o apoio do vereador eleito Felipe Santana, do vereador Edvaldo Brito, da CENARAB e reuniu acadêmicos, ativistas e líderes religiosos em uma roda de conversa transformadora.
O evento começou com a apresentação do cantor Nollasko, cuja música carrega a força da ancestralidade e serviu como uma verdadeira aula de história pela perspectiva negra. Na sequência, Felipe Santana fez a abertura oficial, ressaltando a importância de eventos como este para Salvador, a cidade com a maior população negra fora da África. “Popularizar a cultura africana é uma ferramenta poderosa no combate ao racismo”, afirmou o vereador eleito.
Felipe Santana também destacou a necessidade de melhorias na mobilidade urbana, frisando que é essencial garantir que as pessoas que vivem nas periferias e áreas afastadas tenham acesso fácil aos polos culturais e centros comerciais da cidade. “Hoje, Salvador ainda carece de uma mobilidade urbana eficiente, o que exclui muitos desses espaços importantes para nossa população”, pontuou.
Sob a mediação de Isabel Guimarães, o evento contou com a presença de nomes de peso como o professor Jayro Pereira de Jesus, a Iyalorixá do terreiro de candomblé Axé Abassa de Ogum, Jaciara Ribeiro, o diretor da CENARAB, Silvio Silva, a mobilizadora social Mara Borges, e a líder religiosa do Unzó Maiala e Tupã Suriazala, Mameto Laura Borges. As discussões abordaram desde a ausência da filosofia africana nos currículos escolares até o papel cultural e econômico dos terreiros.
Em sua fala, Mara Borges, destacou o potencial econômico das tradições afro-brasileiras, ressaltando os terreiros como grandes polos culturais que vão além das práticas religiosas. “Os terreiros produzem tecidos, artesanatos, instrumentos musicais e uma gastronomia riquíssima que gera renda e, consequentemente, promove igualdade”, afirmou. Para a mobilizadora social, comercializar esses produtos significa empoderar a população preta, fortalecer o movimento negro e ampliar as oportunidades de inclusão social e econômica.
Já a Iyalorixá, Jaciara Ribeiro, trouxe à tona a dura realidade da intolerância religiosa no Brasil. “Não existe bala perdida para os nossos quilombos e terreiros, existe bala direcionada”, afirmou, chamando atenção para a violência estrutural que atinge essas comunidades. Jaciara Ribeiro ainda destacou a importância do dia 21 de janeiro, instituído como Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, como um marco que deu voz às denúncias de crimes, mas alertou que muito ainda precisa ser feito para reparação.
“A intolerância religiosa está em tudo: na saúde, no poder de compra, nos olhares de rejeição. Precisamos furar essas bolhas e ocupar espaços onde as vozes do povo preto e dos terreiros sejam ouvidas e respeitadas”, comentou a Iyalorixá.
Mais do que um espaço de fala, o evento cumpriu um papel educativo fundamental. Ao reunir líderes e especialistas, a roda de conversa foi uma oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre a cultura africana. A troca de experiências proporcionou reflexões enriquecedoras, reafirmando a necessidade da educação como ferramenta para desconstruir preconceitos e valorizar a diversidade.
Complementando a agenda do Mês da Consciência Negra, o GRIOT: Filosofia Africana, se firmou como um espaço indispensável de reflexão, diálogo e valorização das raízes africanas. Em um cenário de grande riqueza cultural como Salvador, iniciativas como esta fortalecem identidades e abrem caminhos para um futuro mais igualitário.